LEONARDO FUHRMANN E CLAUDINEI QUEIROZ
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Os moradores que ainda continuam na favela do Moinho, na região central da cidade de São Paulo, bloquearam os trilhos da linha 7-rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) na tarde desta segunda-feira (12) em protesto contra o início da demolição de casas pelo governo estadual.
O protesto, no entanto, durou pouco mais de uma hora e os trens voltaram a circular por volta das 17h30, depois que as linhas foram desobstruídas.
A manifestação havia começado durante a tarde, quando funcionários da CDHU (Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) já estavam demolindo as residências desocupadas para, segundo a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), descaracterizar os imóveis de forma a impedir que eles sejam reocupados.
Os moradores começaram a colocar materiais na entrada da favela depois de expulsarem os funcionários e fecharam a passagem completamente quando o último caminhão saiu. Em seguida, bloquearam a linha do trem e atearam fogo em entulho.
Segundo a CPTM, por volta das 16h10 a circulação dos trens do serviço 710 foi interrompida entre as estações Palmeiras-Barra Funda e Luz, devido ao protesto.
As composições da linha 7-rubi circulavam apenas entre as estações Jundiaí e Palmeiras-Barra Funda, já os trens da linha 10-turquesa circulavam entre as estações Rio Grande da Serra e Luz.
“A segurança de todos é uma prioridade da CPTM, por isso, o acesso à faixa ferroviária é proibido, conforme a Norma Geral de Transporte, Tráfego e Segurança (NTS), amparada pelo Decreto Federal 1.832, de 04/03/1996. Para impedir a invasão do trecho, são realizadas campanhas preventivas junto às comunidades lindeiras sobre os perigos do acesso à faixa ferroviária. Há um intenso trabalho de monitoramento da equipe de manutenção. Além de realizar rondas constantes com a equipe de segurança no entorno da via para identificar, prevenir e coibir acessos indevidos”, informou a CPTM, em nota à Folha de S.Paulo.
Logo após o bloqueio das linhas, o Corpo de Bombeiros chegou para combater as chamas. E, minutos depois, foi a vez da Tropa de Choque da Polícia Militar.
Funcionários da CPTM iniciaram o combate ao fogo na linha da companhia e também na do metrô. E os próprios moradores desbloquearam a outra linha, para evitar a invasão da Tropa de Choque.
O fechamento das linhas da CPTM acabou sobrecarregando a linha 3-vermelha do metrô. Os usuários superlotaram a estação Palmeiras-Barra Funda e os trens já saíram lotados, provocando efeito cascata nas estações seguintes. O resultado é que, apesar de a companhia divulgar operação normal, as composições passaram a circular mais lentamente.
No início do dia, Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana tentaram escoltar um trator para dentro da favela. A ação gerou protestos de moradores. O equipamento acabou ficando de fora, e o trabalho se restringiu à demolição manual.
A comunidade fica em um terreno que pertence à União, entre duas linhas de trens metropolitanos, e gestão estadual alega que local não reúne condições adequadas para que as pessoas morem.
Oficialmente, SPU (Secretaria de Patrimônio da União) desautoriza demolições enquanto todos os moradores não estiverem em novas moradias. O governo estadual, por meio da sua Secretaria de Habitação, alega que precisa ao menos descaracterizar os imóveis desocupados por que estão ocorrendo tentativas de invasão dessas casas, atualmente lacradas com tijolos.
Segundo a Secretaria de Habitação, além de evitar reocupações, o “desfazimento” das casas está sendo realizado por questão de segurança. Só pelo fato de estarem em uma favela já torna os imóveis áreas de risco, e a prefeitura tem autonomia para interceder nesses casos. Assim, a subprefeitura da Sé deu a autorização para o serviço.
Representante legal da associação de moradores do Moinho, o Escritório Modelo da PUC-SP admite que tentativas pontuais de acesso aos imóveis ocorreram, mas diz que as casas não foram reocupadas. Além disso, o escritório enviou um documento à CDHU questionando o uso do trator, que, segundo o escritório, deixou os moradores temerários de que demolições poderiam provocar desmoronamentos em imóveis ainda ocupados.
A CDHU, no entanto, afirmou que o trator não era dela e sim da subprefeitura Sé, que teria sido levado para retirar lixo do lado de fora da comunidade no início da manhã. A proposta, diz a pasta, continua sendo fazer o desmonte das casas de forma manual, o que continuará nos próximos dias.