SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reuniu-se nesta quarta-feira (14) com o presidente interino da Síria, Ahmed al-Sharaa, na Arábia Saudita, e o incentivou a normalizar relações com Israel, inimigo histórico dos sírios. A reunião ocorreu após o anúncio-surpresa do governo americano, na véspera, de suspender todas as sanções contra o país.
Trump e Sharaa se encontraram antes de uma cúpula entre os EUA e países árabes do Golfo. Imagens divulgadas pela televisão estatal saudita mostraram os dois apertando as mãos na presença do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, participou virtualmente do encontro, segundo a agência Anadolu.
De acordo com a Casa Branca, Trump encorajou Sharaa a seguir o exemplo dos Emirados Árabes Unidos, do Bahrein e do Marrocos, que estabeleceram relações com Israel sob os Acordos de Abraão, mediados pelos EUA em 2020.
Washington também espera que a Arábia Saudita entre nos Acordos de Abraão, mas o processo está paralisado desde o início da guerra na Faixa de Gaza. Os sauditas reiteram que não haverá normalização com Israel sem a criação de um Estado palestino.
Na terça-feira, Trump disse que a Arábia Saudita vai aderir aos acordos “no seu tempo”.
Já à bordo do Air Force One rumo ao Qatar, Trump disse que Sharaa expressou sua disposição de normalizar as relações com Israel, um compromisso que Damasco ainda não mencionou publicamente. “Eu disse a [Sharaa]: ‘Espero que você se junte [aos
Acordos de Abraão] quando sua situação for resolvida’, e ele disse: ‘Sim’. Mas eles têm muito trabalho a fazer.”
Apesar de preocupações internas no governo americano sobre os antigos vínculos dos líderes sírios com a Al Qaeda, Trump anunciou em discurso em Riad que suspenderá as sanções contra a Síria -uma mudança significativa na política externa dos EUA. Ele afirmou também que seu governo está explorando a possibilidade de normalizar relações com Damasco, começando pelo encontro com Sharaa.
A suspensão das sanções, apesar das desconfianças de Israel em relação a Damasco, representa um impulso importante para o novo presidente sírio, que tenta consolidar o controle do governo central após a queda do ditador Bashar al-Assad em dezembro do ano passado.
A remoção das restrições permitirá maior atuação de organizações humanitárias na Síria e poderá atrair investimentos e comércio internacional para ajudar na reconstrução do país.
Israel, aliado dos EUA, é contra o alívio das sanções e intensificou sua presença militar no sul da Síria desde a queda de Assad, destruindo equipamentos pesados das forças sírias e assumindo posições estratégicas.
A fragilidade do novo governo ficou evidente em março, quando aliados de Assad atacaram tropas oficiais. Em resposta, grupos de radicais islâmicos mataram centenas de civis da minoria alauíta (à qual pertence a família Assad), o que levou à condenação pública por parte de Washington.
Sharaa liderou por anos o braço oficial da Al Qaeda na guerra síria. Ele ingressou no grupo durante a guerra do Iraque e passou cinco anos preso por forças americanas. Em dezembro, os EUA retiraram uma recompensa de US$ 10 milhões (R$ 56 milhões) por sua captura.
O chanceler sírio afirmou que o encontro com Trump abordou o combate ao terrorismo e a cooperação para eliminar grupos armados que ameaçam a estabilidade da Síria, como o Estado Islâmico. Está prevista uma nova reunião entre o chanceler sírio e o secretário de Estado americano, Marco Rubio.
A visita de Trump ao Golfo começou com pompa e assinatura de grandes acordos: um compromisso saudita de investir US$ 600 bilhões (R$ 3,3 bilhões) nos EUA e US$ 142 bilhões (cerca de R$ 800 bilhões) em compras de armas americanas.
Ainda nesta quarta, Trump segue para Doha, capital do Qatar, onde participará de uma visita oficial com o emir Tamim bin Hamad al-Thani. Espera-se que o Qatar anuncie centenas de bilhões de dólares em investimentos nos EUA.
A visita coincide com o anúncio da Casa Branca de que os EUA aceitarão um Boeing 747-8 -oferecido como presente pelo Qatar- para ser adaptado como novo Air Force One.
O avião, um dos presentes mais valiosos já recebidos por um governo americano, deverá ser doado à futura biblioteca presidencial de Trump. O gesto provocou indignação entre democratas e levantou preocupações éticas e de segurança.
Espera-se que a Qatar Airways anuncie a compra de cerca de cem aviões de fuselagem larga da Boeing, segundo uma pessoa com conhecimento do acordo.
Depois de Doha, Trump viajará para Abu Dhabi para se encontrar com líderes dos Emirados Árabes Unidos na quinta-feira (15). O retorno a Washington está previsto para sexta (16).