Luis Arce desiste de disputar a reeleição na Bolívia

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O presidente da Bolívia, Luis Arce, desistiu nesta terça-feira (13) de buscar a reeleição nas eleições de agosto, diante do iminente fracasso de sua candidatura devido ao seu governo impopular.

Arce declinou de sua aspiração de renovar o mandato por cinco anos, após ser proclamado pelo Movimento ao Socialismo (MAS), o partido no poder, no final de abril.

O mandatário lida há mais de um ano com uma severa crise econômica causada pela escassez de dólares e combustíveis, que resultou em protestos.

Economista de 61 anos, Arce tinha as pesquisas contra si. Uma última, publicada no final de março pela consultoria Captura, apontava 1% das preferências eleitorais.

“Hoje comunico ao povo boliviano, com absoluta firmeza, minha decisão de declinar minha candidatura à reeleição presidencial”, disse em uma mensagem transmitida pelo canal oficial Bolivia TV.

Ao mesmo tempo, propôs “a mais ampla unidade da esquerda” para buscar um único candidato que compita com a direita.

O atual presidente foi ministro da Economia durante a maior parte do governo de Evo Morales (2006-2019), hoje seu maior adversário político.

O líder indígena, que busca seu quarto mandato, acusa Arce de orquestrar uma suposta perseguição judicial contra ele para impedi-lo de concorrer nas eleições de agosto.

O tribunal constitucional da Bolívia confirmou nesta quarta-feira (14) uma decisão de instância inferior que proíbe mais de dois mandatos como presidente, o que na prática impede o ex-presidente Evo Morales de concorrer nas eleições no final deste ano.

A decisão unânime do tribunal veio após anos de especulação sobre a constitucionalidade de um terceiro mandato, com Evo argumentando que não permitir que ele concorresse novamente violaria seus direitos humanos.

Evo já cumpriu três mandatos como presidente, com um tribunal permitindo a última administração porque seu primeiro mandato ocorreu antes de uma reescrita constitucional.

Ele concorreu a um quarto mandato nas eleições de 2019, mas fugiu do país depois que os resultados foram contestados.

Evo respondeu à decisão do tribunal na quarta-feira dizendo no X que “apenas o povo” poderia pedir que ele desistisse da candidatura.

Uma decisão da Justiça determinou no final de 2023 que ninguém pode exercer a presidência por mais de dois períodos.

“Daqui lanço um desafio ao ex-presidente Evo Morales de não insistir em ser candidato à presidência”, acrescentou.

Com Arce fora, a disputa pela liderança da esquerda será entre Evo e o atual presidente do Senado, Andrónico Rodríguez, que há poucos dias rompeu com o líder ao anunciar sua intenção de participar nas eleições.

Durante seu discurso, Arce convocou Rodríguez e outras forças de esquerda a “pensar e agir em função da unidade”.

“Para a oposição” de direita, dividida em várias candidaturas, enfrentar uma esquerda unida “é o cenário mais complicado”, disse à AFP o analista político Carlos Cordero.
Rodríguez, segundo as últimas pesquisas que excluem Evo por seu impedimento legal, lidera a intenção de voto com 18%.

Arce assumiu o poder em novembro de 2020 após ser eleito com 55% dos votos. Então era lembrado pela bonança econômica que a Bolívia experimentou durante seus quase 12 anos à frente do Ministério da Economia.

Durante esse período, o país triplicou a produção interna e diminuiu a pobreza de 38% para 15%.

As divisas obtidas pela exportação de gás alimentaram uma robusta política interna de subsídios, sobretudo dos combustíveis.

Depois que Arce assumiu como presidente, a queda na produção de gás colocou em xeque a economia.

O governo teve que lançar mão de suas reservas internacionais para importar gasolina e diesel e vendê-los a preço subsidiado, o que desencadeou uma escassez de dólares até a atualidade.

Em abril, a inflação anual atingiu 15%, a taxa mais elevada desde 2008.

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