LARA PAIVA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
O Parlamento da Alemanha confirmou nesta terça-feira (6) Friedrich Merz como o novo primeiro-ministro do país. O líder conservador, que se opunha à administração do atual premiê, Olaf Scholz, obteve sucesso horas após fracasso na primeira votação.
O ex-advogado corporativo e executivo de banco de investimentos, de 69 anos, vai assumir cargo durante um dos períodos mais tensos da história do país desde sua reunificação, há 35 anos.
Casado e com três filhos já adultos, Merz nasceu e cresceu na cidade de Brilon, na rica região da Sauerlândia, no oeste do país. Reformista liberal na economia, o político trabalhou iniciativa privada e ficou milionário participando do conselho de grandes empresas, como o fundo de investimento Black Rock.
Merz já afirmou que seu primeiro ato de governo será apertar o controle migratório. Para passar uma moção anti-imigratória, fez algo até então inédito -se aliou ao AfD, Alternativa para a Alemanha, partido classificado como extremista pela inteligência do país. Foi a primeira vez na política desde o pós-guerra que um partido negociou ou contou com votos da extrema-direita.
Entre suas promessas de governo estão o choque econômico do país contra a desindustrialização, o corte de impostos para empresas e famílias, a desburocratização e investimento em novas tecnologias.
Ele também defende flexibilizar a legislação ambiental e moderar a transição energética vigente no país.
E, mesmo antes de ser nomeado, quebrou uma de suas promessas de campanha ao flexibilizar no Parlamento o freio da dívida, a versão local da pauta de gastos -manobra que encerrou décadas de austeridade fiscal, marca registrada da ex-premiê Angela Merkel, que ocupou o cargo de 2005 a 2021.
A medida imporia gastos sem precedentes no setor de defesa, além de um investimento de EUR 500 bilhões (cerca de R$ 3,2 trilhões, na cotação atual) para recuperar a defasada infraestrutura do país.
Merz já foi inclusive criticado publicamente por Merkel, sua colega de partido na CDU, a União Democrata-Cristã. Em um evento promovido pelo jornal Die Zeit, foi indagada sobre quem seria melhor candidato, Merz ou Robert Habeck, do Partido Verde.
Merkel tergiversou. Quando o público começou a rir diante da falta de resposta, ela se sentiu pressionada e disparou: “Então eu tenho que dizer Merz… mas eu queria dar uma razão para isso”.
A hesitação de Merkel mereceu longas reflexões na imprensa alemã.
A diferença entre os dois é de longa data. Nos anos 1990 e 2000, a cientista e o advogado corporativo eram as novas estrelas da CDU.
Em 2002, o grupo de Merkel prevaleceu no comando do partido e, três anos mais tarde, ela se tornaria a mais longeva primeira-ministra do pós-guerra alemão, com grande projeção internacional. Merz, escanteado, desistiu da política em 2009 e decolou na iniciativa privada.
Ele voltou em 2018, quando ela começou a desenhar sua aposentadoria. Em 2021, mesmo ano que Merkel desocupou seu cargo, assumiu a liderança do partido.
Na oposição ao governo de Olaf Scholz (do Partido Social-Democrata) Merz restaurou a popularidade da CDU com discursos que confrontavam não apenas a gestão em curso, como também as anteriores, de Merkel. Do lado econômico, seu domínio, várias críticas: dependência do modelo exportador, ausência de uma política de inovação, a renúncia da energia nuclear -a provocação sobre preferir um candidato dos Verdes tem raízes antigas.
Sem apoio no Parlamento, Scholz acabou antecipando as eleições para fevereiro. A CDU de Merz saiu vencedora mas, sem maioria, fechou um acordo com os sociais-democratas para formar o novo governo -a coalizão entre os dois partidos, rivais históricos, foi uma constante em grande parte do governo Merkel.
Apesar disso, o acordo entre as duas siglas é considerado frágil. A divisão interna ficou ainda mais evidente devido ao fracasso na primeira votação desta terça. O político obteve 310 votos, seis a menos do que o necessário para obter maioria absoluta, apesar de sua coalizão contar com 328 parlamentares.