Citou dois riscos que aumentaram no balanço do Comitê de Política Monetária (Copom). De um lado, o choque das políticas tarifárias nos Estados Unidos causou muito ruído. De outro, houve, além do choque comercial, um choque financeiro, com potenciais impactos na aversão a risco.
No evento, que acontece em paralelo às reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) na capital dos Estados Unidos, ele passou mais tempo do que o normal abordando o cenário internacional.
Moderação da atividade econômica
Conforme o diretor, a política monetária funciona, e em terreno contracionista vai trazer a inflação de volta à meta de 3%.
No evento, o diretor observou que – em meio a surpresas no crescimento por, sobretudo, estímulos à demanda – a inflação surpreendeu um pouco nos últimos três anos.
Ele considerou que, embora não exista evidência concreta de moderação no Produto Interno Bruto (PIB), há sinais incipientes de desaceleração, além de uma baixa nos índices de confiança. Ponderou, contudo, que o comportamento de indicadores de atividade no último período foi inconclusivo.
Guillen considerou difícil ver um aspecto positivo para o Brasil vindo do choque de tarifas do governo americano. A incerteza gerada pela política comercial do presidente Donald Trump, pontuou, tem impactos difíceis de mensurar.
Nesse ambiente de incerteza, o diretor ressaltou que é importante ser transparente na comunicação. Isso não significa, porém, dar uma guidance, ou seja, uma sinalização sobre os próximos passos da política monetária.
Ao reafirmar o incômodo unânime no BC com a desancoragem das expectativas, Guillen disse que a inflação segue persistente e difundida acima da meta. A média dos núcleos, frisou, está acima do teto da meta mensal com ajuste sazonal há meses.
Impacto de choque comercial
Ele disse que a “grande questão” observada pelo BC é o que vai acontecer com o real, diante da aversão a risco gerada pelas tarifas americanas, além do impacto nas cotações das commodities exportadas pelo Brasil. Por duas vezes, o diretor ressaltou a necessidade de os bancos centrais serem mais cuidadosos e flexíveis num mundo de alta incerteza.
Ao reforçar a visão de inflação persistente, Guillen disse que, apesar da redução da inflação implícita no Brasil, as expectativas de mercado, apresentadas no boletim Focus, pouco se mexeram.
No evento, ele observou que o mercado de trabalho forte explica por que houve impulso de crédito positivo, apesar dos juros restritivos. Nesse sentido, Guillen frisou que a função de reação do BC é não só compreendida como estável, e os mecanismos de transmissão da política monetária estão funcionando. São, porém, mitigados por outros fatores, avaliou.
Erro em projeções
“Quando olho para nossos erros de previsão de inflação nos últimos dois anos, minha resposta seria que erramos no hiato do produto. Então, é mais sobre ter um crescimento surpreendente do que uma inflação surpreendente”, disse Guillen.
Segundo o diretor, não é o caso de colocar o hiato do produto no piso da estimativa no modelo do BC. “Tentamos não mudar muito do que o modelo nos diz. O modelo continua sendo importante. Não mudou a visão de que o modelo ajuda a organizar a discussão, a pensar sobre qual é o ritmo e a velocidade da desinflação.”
No evento, Guillen também defendeu que é importante não mudar a função de reação do BC ao longo do tempo.