Diretor do BC cita necessidade de cautela e flexibilidade diante de ambiente de incertezas

banco central

O diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Diogo Guillen, disse nesta quinta-feira, 24, que, diante de um ambiente de incertezas, as autoridades monetárias precisam ser cautelosas e flexíveis. Em reunião com investidores internacionais, organizada pela XP investimentos, em Washington, ele reiterou a visão de que os bancos centrais estão comprometidos em levar a inflação à meta, tendo agora como um fato novo a revisão nas estimativas de crescimento dos Estados Unidos, acompanhadas de um debate sobre as expectativas de inflação no país.

Citou dois riscos que aumentaram no balanço do Comitê de Política Monetária (Copom). De um lado, o choque das políticas tarifárias nos Estados Unidos causou muito ruído. De outro, houve, além do choque comercial, um choque financeiro, com potenciais impactos na aversão a risco.

No evento, que acontece em paralelo às reuniões de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) na capital dos Estados Unidos, ele passou mais tempo do que o normal abordando o cenário internacional.

Moderação da atividade econômica

O diretor de Política Econômica do Banco Central destacou ainda que a moderação da atividade econômica, como está no cenário-base da autarquia, é importante para a convergência da inflação em direção à meta. Guillen reiterou a previsão de que o hiato do produto deve ser revertido, de positivo para negativo, em 18 meses.

Conforme o diretor, a política monetária funciona, e em terreno contracionista vai trazer a inflação de volta à meta de 3%.

No evento, o diretor observou que – em meio a surpresas no crescimento por, sobretudo, estímulos à demanda – a inflação surpreendeu um pouco nos últimos três anos.

Ele considerou que, embora não exista evidência concreta de moderação no Produto Interno Bruto (PIB), há sinais incipientes de desaceleração, além de uma baixa nos índices de confiança. Ponderou, contudo, que o comportamento de indicadores de atividade no último período foi inconclusivo.

Guillen considerou difícil ver um aspecto positivo para o Brasil vindo do choque de tarifas do governo americano. A incerteza gerada pela política comercial do presidente Donald Trump, pontuou, tem impactos difíceis de mensurar.

Nesse ambiente de incerteza, o diretor ressaltou que é importante ser transparente na comunicação. Isso não significa, porém, dar uma guidance, ou seja, uma sinalização sobre os próximos passos da política monetária.

Ao reafirmar o incômodo unânime no BC com a desancoragem das expectativas, Guillen disse que a inflação segue persistente e difundida acima da meta. A média dos núcleos, frisou, está acima do teto da meta mensal com ajuste sazonal há meses.

Impacto de choque comercial

O diretor de Política Econômica do Banco Central avaliou que as tarifas anunciadas pelo governo americano afetam mais o Brasil pelo lado financeiro do que comercial. “O impacto do choque comercial no Brasil é mais pelo canal financeiro”, comentou Guillen.

Ele disse que a “grande questão” observada pelo BC é o que vai acontecer com o real, diante da aversão a risco gerada pelas tarifas americanas, além do impacto nas cotações das commodities exportadas pelo Brasil. Por duas vezes, o diretor ressaltou a necessidade de os bancos centrais serem mais cuidadosos e flexíveis num mundo de alta incerteza.

Ao reforçar a visão de inflação persistente, Guillen disse que, apesar da redução da inflação implícita no Brasil, as expectativas de mercado, apresentadas no boletim Focus, pouco se mexeram.

No evento, ele observou que o mercado de trabalho forte explica por que houve impulso de crédito positivo, apesar dos juros restritivos. Nesse sentido, Guillen frisou que a função de reação do BC é não só compreendida como estável, e os mecanismos de transmissão da política monetária estão funcionando. São, porém, mitigados por outros fatores, avaliou.

Erro em projeções

O diretor de Política Econômica do Banco Central atribuiu os erros nas previsões sobre o comportamento da inflação nos últimos anos às estimativas que se mostraram erradas sobre o hiato do produto – ou seja, sobre o nível da atividade econômica

“Quando olho para nossos erros de previsão de inflação nos últimos dois anos, minha resposta seria que erramos no hiato do produto. Então, é mais sobre ter um crescimento surpreendente do que uma inflação surpreendente”, disse Guillen.

Segundo o diretor, não é o caso de colocar o hiato do produto no piso da estimativa no modelo do BC. “Tentamos não mudar muito do que o modelo nos diz. O modelo continua sendo importante. Não mudou a visão de que o modelo ajuda a organizar a discussão, a pensar sobre qual é o ritmo e a velocidade da desinflação.”

No evento, Guillen também defendeu que é importante não mudar a função de reação do BC ao longo do tempo.

Estadão Conteúdo
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