Por Giovanna Gimenez e Giulia Moura
Na medida em que o mundo da moda aumenta sua produção, os impactos ambientais causados por esse setor econômico se intensificam.
O Dia Internacional da Mãe Terra, comemorado em 22 de abril, desde 1970 tem como objetivo conscientizar a população sobre o meio ambiente e a biodiversidade. Ao longos do anos ganhou uma forte aliada: a moda sustentável.
Impactos
Desde a década de 1990, o desperdício e o uso excessivo de recursos naturais têm se agravado. Isso porque, nessa época, o “fast fashion” fez com que mais roupas fossem descartadas e aumentado o volume dos aterros sanitários.
O consumo acelerado dessa indústria favorece peças descartáveis, que saem de moda quase tão rápido quanto chegaram às vitrines.
Sabe-se que a moda é responsável por 8% a 10% das emissões de gases de efeito estufa e é o segundo setor da economia que mais consome água, como afirma o livro “Com que roupa”, de Giovanna Nader.
“Imagine se realmente a indústria se importasse em ser mais sustentável, o quanto que a gente ganharia em relação à qualidade de vida, em relação à menos poluição no meio ambiente”, reflete Camila Giestas, consultora em moda sustentável.
A ONU acredita que 20% da poluição industrial da água vem do setor têxtil.
Além disso, estima-se que aproximadamente 85% das roupas produzidas são descartadas em aterros, no qual a maioria demora 450 anos para se decompor.
Ao estimular o consumo desenfreado e o descarte precoce das peças, esse sistema contribui diretamente para o esgotamento de recursos naturais, a emissão de poluentes e o acúmulo de resíduos têxteis no planeta.
Paradoxo
As gerações dos séculos 20 e 21 são marcadas por um paradoxo: de um lado, a influência por um consumo imediato. Do outro, a crescente preocupação com questões ambientais .
Enquanto isso, o upcycling e o trabalho artesanal perdem na competição com as fast-fashions.
“A moda acaba sendo descartável”, compartilhou Gisele Barrozo, empresária do ramo.
Entretanto, cada vez mais esse cenário muda. O mundo da moda, hoje em dia, não é mais prestigiado somente pelas tendências diárias. Fatores como mão de obra, trabalho artesanal e produtos eco-friendly agregam valor à peça.
“Estamos pensando em uma moda que dure”.
Moda sustentável
Apesar da popularização do termo “moda sustentável”, poucos sabem o que ele realmente significa.
Um conceito relacionado ao design e produção de roupas, acessórios e calçados que levam em consideração práticas ambientais e sociais responsáveis.
Ela busca minimizar o impacto negativo causado no meio ambiente, substituindo os tecidos, reduzindo consumo de água e uso de energia renovável.
Ainda, busca garantir condições de trabalho justas, salários justos, benefícios e respeito às diversidades.
“A moda sustentável é a moda que respeita o planeta e as pessoas, antes de produzir, ela pensa no processo de criação, na melhor matéria-prima, justamente pensando na circularidade”, compartilhou Camila Giestas.
Foto: acervo pessoal
A moda circular também é um pilar importante na moda sustentável.
Seu conceito se baseia em um ciclo fechado. Não é um ciclo linear.
Os produtos não são descartados após seu uso, mas sim renovados, reciclados ou reutilizados, contribuindo para um consumo mais sustentável.
Ela é praticada quando alugamos uma roupa, realizamos o upcycling, ou seja, reaproveitamos uma peça criativamente, compramos ou levamos algo a um brechó.
“A moda circular é que ela vá se modificando e fazendo a roda. Porque a moda linear é uma linha. Começa na fábrica, depois você usa, depois você não quer mais, você joga fora. Agora, a circular, não. Eu faço ela, posso modificar, posso transformá-la, posso revender. Por isso que ela roda. Por isso que se chama moda circular.”, ressaltou Gisele Barrozo, empresária no ramo da moda.
Economia
No âmbito local, Gisele Barrozo, 50 anos, criou a marca “Las Costureras” e o brechó de luxo “Retiqueta”.
A loja fica localizada no Lago Sul. O intuito é fortalecer a economia do reparo e a reutilização, por meio da customização e da revenda.
Sua loja conta com costureiras e estilistas que permitem com que o cliente abuse de sua criatividade. “A gente faz trabalho em conjunto para atender o pedido do cliente”.
Um dos pilares do brechó é a responsabilidade social. Gisele participa do projeto Juntos Somos Mais, que atua em diversas partes do Distrito Federal.
“Nós também temos um baú de doação de peças, trabalhamos com um projeto social, que é o Juntos Somos Mais. As peças são doadas pelos nossos próprios clientes.”
A partir dessas peças doadas são realizados desapegos e parte do valor arrecadado é doado.
De acordo com a empresária, a moda sustentável é uma mudança de mentalidade. Utilizar uma moda que dure faz com que menos produtos sejam fabricados. Essa é a ideia principal: consumir de forma consciente.
A ideia de customização precisa vir antes de comprar algo novo, para que dessa forma, o ciclo sustentável seja cada vez mais praticado e incrementado na rotina.
“A pessoa precisa saber o quanto gasta para produzir uma calça jeans, o quanto gasta de energia para fazer a produção de moda”, diz Gisele.
Apesar de parecer inofensivo comprar uma nova calça jeans, para que ela tenha sido produzida foi usado cerca 11 mil litros de água, corantes que são extremamente prejudiciais para o meio ambiente e também aproximadamente 24,8 kg de CO2 são emitidos por peça, favorecendo o aquecimento global e as mudanças climáticas.
Além do mais, consumir informação da quantidade dos recursos que são utilizados para a produção de cada peça faz com que o consumidor reflita sobre seu consumo.
Foto: Acervo pessoal
Alto custo
Há um mito de que a moda sustentável é cara e pouco acessível. Isso se torna verdade até certo ponto.
A sustentabilidade da moda vai muito além de marcas sustentáveis.
Entretanto, quando a escolha é optar por essas marcas, de fato, os produtos serão mais caros – resultado de investimentos em pesquisas e na produção de peças com maior durabilidade.
“Também tem que pensar no seguinte aspecto em relação a esse ‘caro’. Quanto mais marcas se preocuparem com a questão da sustentabilidade, esse custo vai diminuir”, disse Gisele.
Opções mais baratas, como citadas anteriormente, é o upcycling, customização e brechós.
“Las costureras”, “Peça rara”, “Retiqueta” e “Brechó delas” são algumas opções na capital que utilizam da moda circular para induzir a sustentabilidade no meio ambiente.
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira