Autoridades brasileiras apoiam campanha “Sinal Vermelho” na Itália: um grito de socorro na luta contra o feminicídio

programa sinal vermelho. foto agencia brasilia (1)

Por Renata Bueno*

A campanha “Sinal Vermelho”, adotada pelo Consulado Brasileiro na Itália, representa um marco importante na luta contra a violência doméstica na comunidade brasileira residente no país. A campanha, que começou no Brasil em 2020, busca fornecer às vítimas um meio discreto de pedir ajuda, desenhando um “X” vermelho na palma da mão.

Essa ação simples é um grito silencioso de socorro em locais públicos, como farmácias e agências bancárias. Desde então, a campanha foi oficializada como política pública no Brasil, por meio da Lei Federal n. 14.188/2021.

A adesão do Consulado à campanha na Itália surge como uma resposta crucial para uma comunidade onde mais de 70% da população brasileira é feminina. Diante dos altos índices de feminicídio e violência contra a mulher tanto no Brasil quanto na Itália, a importância dessa iniciativa se amplifica.

Dados do Departamento de Segurança Pública da Itália mostram que, em 2023, 120 mulheres foram assassinadas no país, incluindo o caso trágico de Giulia Cecchettin, que foi esfaqueada 75 vezes pelo ex-namorado.

No contexto italiano, a campanha também ajuda a preencher uma lacuna de proteção para mulheres imigrantes, que muitas vezes enfrentam barreiras linguísticas e falta de apoio legal.

O caso de Ana Cristina Duarte, já citado aqui, o qual estou acompanhando de perto, é mais um exemplo doloroso dessa realidade.

Ana, uma brasileira de 38 anos, foi brutalmente assassinada por seu marido italiano, na frente de seus três filhos. O feminicídio de Ana, assim como tantos outros, expõe a gravidade da violência de gênero que atinge não apenas italianos, mas também estrangeiros, como apontam as estatísticas que apresentam uma vulnerabilidade maior entre imigrantes.

Esse crime, infelizmente, reflete as falhas da sociedade em proteger mulheres e famílias de relações abusivas e da violência crescente. É aqui que a campanha “Sinal Vermelho” e outras ações de proteção tornam-se necessárias.

No Brasil, essa campanha já tem um histórico significativo de atuação, especialmente com o apoio de órgãos públicos e a cooperação de diversos setores da sociedade. O impacto é amplificado pelo envolvimento de instituições internacionais, como no caso do consulado na Itália, onde a iniciativa ganha um novo fôlego.

A violência contra a mulher é uma questão que transcende fronteiras e precisa ser enfrentada com políticas robustas e cooperação internacional. Casos como o de Ana Cristina nos lembram da urgência de fortalecer esses mecanismos de proteção, não apenas em nível local, mas em qualquer lugar onde haja vulnerabilidades brasileiras.

A união entre as instituições brasileiras e italianas, como no caso da parceria com a Associação das Mulheres Marroquinas da Itália, é essencial para garantir que a justiça seja feita e que as famílias tenham o apoio necessário para reconstruírem suas vidas.

Esta tragédia, entre tantas outras, reforça a importância da campanha “Sinal Vermelho” e a necessidade de continuar a lutar por um futuro onde as mulheres, independentemente da sua nacionalidade, possam viver livres do medo e da violência.

Renata Bueno é uma parlamentar ítalo-brasileira nascida em 1979 em Brasília, DF, Brasil. Conhecida por seu envolvimento na política e na defesa dos direitos dos descendentes de italianos no Brasil. Renata Bueno foi eleita deputada federal em 2010, sendo a primeira mulher eleita pelo Partido Socialista Italiano (PSI) fora da Itália. Sua atuação política tem sido focada em temas relacionados à cidadania italiana, imigração, e fortalecimento dos laços entre Brasil e Itália. Ela é presidente da Associação pela Cidadania Italiana no Brasil e tem trabalhado para facilitar o processo de reconhecimento da cidadania italiana para descendentes de italianos no país. Além de parlamentar, Renata é advogada e empresária, com o Instituto Cidadania Italiana e Mozzarellart.
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