Rádios universitárias: o que são, onde vivem e do que se alimentam

(Foto: Samuel Morazan/Pixabay)

Você escuta alguma rádio universitária? Sabia que essas rádios são diferentes daquelas mais famosas, como CBN, Jovem Pan e Eldorado? Muitas universidades públicas possuem emissoras de rádio, cuja programação é voltada para a divulgação de atividades acadêmicas e pesquisas e de gêneros musicais pouco explorados nas rádios comerciais.

No estado de São Paulo, as três universidades estaduais possuem emissoras, Rádio Unesp FM, Rádio Unicamp (que é uma web rádio) e Rádio USP, e a Universidade Federal de São Carlos também, a Rádio UFSCar. Mas o que são rádios universitárias? Elas apresentam radiojornais? E quem trabalha nelas, estudantes ou profissionais formados? Vou responder essas questões neste texto.

A primeira estação de radiodifusão universitária do Brasil foi a Rádio UFRGS AM, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. Fundada em 1957, a emissora é especializada em música clássica, mas a programação também conta com boletins de notícias e programas de cultura e literatura. A Rádio da Universidade, como é conhecida, foi idealizada em 1948 por Antônio Goetze, um professor da Escola de Engenharia, mas só foi ao ar três anos depois, em 1951, em caráter experimental.

Dois anos depois, ela foi suspensa devido à “irregularidade quanto à emissão de músicas”, e somente em 1956, depois de anos de negociações com o governo, a rádio voltou a funcionar e foi oficialmente inaugurada em novembro de 1957.

Por causa da censura no período da ditadura militar, a rádio foi fechada em 1964 e só retomou suas atividades três anos depois. Enfrentando uma crise financeira ao longo das décadas, a emissora passou por uma modernização nos anos 1990, lançou um site em 1997 e, no ano seguinte, foi uma das primeiras emissoras brasileiras a transmitir a programação por streaming na internet.

No estado de São Paulo, a primeira rádio universitária FM foi a Rádio USP, inaugurada em outubro de 1977. Sua programação tem cinco edições de radiojornal, colunistas divididos em temas como saúde, ciência, esporte e cultura, programas variados, além da programação musical. Na cidade de São Paulo toca na frequência 93,7 MHz FM e em Ribeirão Preto, 107,9 MHz FM.

Em São Carlos, no interior do estado, a Rádio UFSCar iniciou sua transmissão em agosto de 2007, na frequência 95,3 MHz FM. Através de chamadas públicas, a população pode contribuir com a programação da rádio com conteúdos feitos de forma independente ou em parceria com a universidade. A rádio também produz podcasts (assim como a Rádio USP), disponíveis no site e no Spotify.

Em Bauru, a Rádio Unesp FM, na frequência 105,7 MHz, iniciou suas atividades em maio de 1991, no campus da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. A programação conta com boletins informativos, programas temáticos e semanais, colunas de professores e conteúdos de instituições parceiras, como outras rádios universitárias, a ACI-Reitoria e a Vunesp. Mas na maior parte do tempo, a Unesp FM se dedica à música, com MPB, rock, jazz, chorinho, samba, música caipira, blues, música infantil, entre outras.

Diferente das emissoras comerciais, as rádios universitárias se enquadram na categoria de rádios culturais e educativas, portanto não têm anúncios publicitários. Nada de propaganda de lojas, concessionárias ou indústria de alimentos. Na Unesp FM, a cobertura jornalística também é diferente, porque as pautas são de divulgação científica e das atividades desenvolvidas pela própria universidade.

Os boletins noticiosos não abordam trânsito, agenda política e notícias como violência, economia ou infraestrutura, e sim o que acontece dentro dos câmpus: semana de jornalismo, curso de manejo de serpentes, congresso de psicologia, campeonatos esportivos, programas de pós-graduação, observatórios de astronomia, cursinhos e projetos de extensão universitária. E a maioria das fontes são internas: professores, alunos, diretores, técnicos administrativos, assessores da reitoria e pesquisadores.

No Brasil, foi criada em 2018 a Rede de Rádios Universitárias do Brasil, a Rede Rubra, uma “organização de pesquisadores, emissoras e núcleos de produção radiofônica vinculados a Instituições de Ensino Superior”. O objetivo da rede é contribuir com a divulgação científica e cultural do que é produzido dentro das universidades, além de “promover o intercâmbio de conteúdos e experiências entre as integrantes da Rede”.

Infelizmente, as rádios universitárias não são muito conhecidas dentro de suas próprias universidades, nem entre os alunos dos cursos de comunicação. E na contramão do que se pode imaginar, a maior parte do conteúdo dessas emissoras não é produzido pelos estudantes. Na Unesp FM, por exemplo, os jornalistas e produtores são concursados, e a maioria está há anos na casa.

Como graduanda, lamento que os trabalhos desenvolvidos pelos alunos não entrem na programação, porque muita coisa boa é produzida por nós, como o conteúdo do projeto de extensão RUV Podcasts, a Rádio Unesp Virtual. A inexistência dessa parceria é uma perda tanto para a sociedade, que não conhece o conteúdo realizado dentro do curso, quanto para a própria emissora, que não aproveita a disposição, o talento e as novidades trazidas pelos alunos.

Quando você, leitor, tiver um tempinho, eu recomendo que escute uma emissora universitária, se não pelo rádio, pela internet mesmo. É música atrás de música, dos gêneros mais variados, sem comerciais e de quebra você ainda fica sabendo de algum fato interessante de dentro da comunidade acadêmica.

Referências

https://www.ufrgs.br/radio/quem-somos/

https://www.ufrgs.br/radio/ 

https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/radio-universitaria-chega-aos-73-anos-como-pilar-da-divulgacao-e-valorizacao-da-ciencia/ 

https://jornal.usp.br/radio/ 

http://radio.ufscar.br/radio 

http://radio.ufscar.br/podcast 

https://enrubra2022.wixsite.com/encontro

https://www.radio.unesp.br/

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Stella Gomes é Graduanda em Jornalismo na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”. Realizou estágio em checagem de notícias na AletheiaFact.org. Tem interesse em jornalismo internacional e checagem de fatos.

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