Repulsa mundial à limpeza étnica de Trump

(Imagem: Pete Linforth por Pixabay)

Com sua proposta de transformar a faixa de Gaza numa Riviera do Médio Oriente, depois da retirada de sua população, o presidente Donald Trump conseguiu reunir contra si a quase totalidade dos países do mundo. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterrez, também alertou contra “uma limpeza étnica” no território palestino.

O absurdo da proposta, uma afronta ao direito internacional, deixou os correspondentes da televisão suíça e francesa com uma dúvida: é realmente uma proposta para ser levada a sério ou um blefe, uma provocação ao estilo de Trump para dar início a negociações?

Diante da reação negativa provocada, Trump e Netanyahu estão esclarecendo que não haverá envio de tropas a Gaza e que a retirada dos habitantes será temporária, apenas para se retirar os entulhos causados pelos bombardeios e se realizar a reconstrução dos prédios. Feito isso, dizem, os palestinos poderão retornar a Gaza, mas fica a dúvida, pois uma reconstrução de Gaza levará muito tempo. Ao mesmo tempo, o corte da ajuda internacional para a agência da ONU, a UNRWA, levanta a questão: do que viverá e que tipo de trabalho terá a população de Gaza para sobreviver?

Caso seja mesmo real a intenção de Trump entregar aos Estados Unidos o controle da região de Gaza, com o objetivo de torná-la uma atração turística, no estilo da Côte d’Azur, isso será um crime inaceitável. Para o Wall Street Journal, que já havia definido como idiota a guerra comercial proposta por Trump, a tomada ou possessão da Faixa de Gaza será catastrófica.

O jornal parisiense Le Monde vai mais longe no seu editorial e define esse projeto como limpeza étnica. “O presidente torna sua a visão da extrema direita racista e supremacista israelense e anuncia um crime de guerra.” E o jornal rememora outros tipos de ações de Trump, no seu primeiro mandato, alinhadas com Israel.

Embora nem sempre a imprensa assinale, o Le Monde faz uma alusão, mencionando que o projeto proposto por Trump, catastrófico para os palestinos, provocará um perigoso messianismo israelense.

Não só entre os ultraortodoxos judeus como entre os evangélicos fundamentalistas norte-americanos, para os quais Trump é o ungido de Deus e a vitória de Israel será o sinal do retorno de Cristo.

Existe mesmo um movimento teológico de dominação política, a Nova Reforma Apostólica, ligado à teologia do domínio, ao qual pertencem alguns congressistas republicanos e um ex-assessor de Donald Trump, Michael Flynn.

O editorial do jornal suíço Le Temps afirma com ironia, mas sem citar Martin Luther King, que a expulsão dos dois milhões de habitantes de Gaza é um sonho de Trump, no qual ele viu a transformação das ruínas de Gaza numa Riviera do Oriente Médio

Mas o mundo, surpreso e abismado, vê esse sonho imperialista, podemos dizer, como um pesadelo no qual o emprego da força para um processo de limpeza étnica provocará também a morte de jovens soldados norte-americanos. Uma repetição da tragédia da invasão do Iraque, movida por interesses petrolíferos.

De que meios se servirá Trump para forçar o Egito e a Jordânia a receber a população expulsa de Gaza? Talvez nem a Groenlândia, nem o Panamá e nem Gaza sejam alvos de Trump, mas o simples fato de afirmar diante da imprensa e defender esses crimes absurdos constituem motivos suficientes para se colocar em dúvida a sanidade mental de Trump.

O deputado democrata pelo Texas, advogado Alexander Green, anunciou, em Washington, iniciar um movimento para a proposta de um novo pedido de impeachment contra Donald Trump, já alvo de pedido de impeachment durante seu primeiro mandato.

Desta vez, o pedido de impeachment será motivado principalmente pela proposta de limpeza étnica e controle de Gaza, sem esquecer a série de medidas “desesperadas” assinadas por Trump desde sua posse. Mas não se pode esquecer: Trump possui maioria na Câmara de Deputados para derrubar qualquer pedido de impeachment.

Imigrantes brasileiros nos Estados Unidos

Começou a caça aos imigrantes irregulares nos Estados Unidos, logo depois de Trump ter assinado os decretos de deportação. Alguns Estados incentivam a deduragem, já existindo um projeto de lei para premiar quem denunciar imigrante ilegal ou criminoso, como são chamados os imigrantes irregulares. Quer coisa pior que isso? Sim, há imigrantes brasileiros já com green card e brasileiros descendentes de imigrantes residentes no Brasil aprovando a deportação de brasileiros, em comentários nas redes sociais.

Como a polícia da imigração, ICE, faz controles nas escolas e igrejas, os filhos de brasileiros sem papéis nos EUA não estão indo nas escolas e seus pais, um grande número de evangélicos, não vão às igrejas, deixando-as vazias. Isso provocou um protesto do pastor Silas Malafaia. Na igreja do pastor André Valadão, um dos líderes evangélicos nos EUA, a cantora de gospel durante os cultos, grávida, ficou sem o marido, preso numa das batidas da polícia de imigração contra imigrantes ilegais.

Algumas referências:

https://www.lemonde.fr/international/article/2025/02/05/donald-trump-provoque-la-sideration-generale-en-envisageant-un-controle-americain-de-la-bande-de-gaza_6532218_3210.html

https://www.wsj.com/video/series/on-the-news/trumps-plan-to-take-over-the-gaza-strip-could-be-catastrophic/DE92A178-287D-4599-8E96-82A506E41A45

Messianismo

file:///C:/Users/rui/Downloads/1531-article-3385-1-10-20191016.pdf

https://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_Reforma_Apost%C3%B3lica

Imigrantes ilegais

https://www.youtube.com/watch?v=PUgJsu1K7DA

Processo de impeachment

https://www.swissinfo.ch/spa/un-legislador-dem%C3%B3crata-planea-activar-el-proceso-de-juicio-pol%C3%ADtico-contra-trump/88833463

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

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