Israel prepara plano para incentivar saída voluntária de palestinos de Gaza

O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, mandou ontem o Exército preparar um plano de saída voluntária da população de Gaza. Foi a primeira medida oficial tomada pelo governo após a proposta do presidente dos EUA, Donald Trump, na terça-feira, de assumir o território e realocar seus moradores em outros países.

Os palestinos reagiram com raiva e rejeitaram qualquer tentativa de forçá-los a sair de Gaza. Hazem Qassem, porta-voz do Hamas, afirmou que a ideia é uma “declaração de intenção de ocupar” o enclave. “Gaza é de seus moradores. E eles não têm intenção de sair”, disse.

Segundo a Autoridade Palestina e a Organização para Libertação da Palestina (OLP), a proposta “é uma violação da lei internacional”. “Os planos de Trump são uma escalada perigosa que ameaça a segurança regional, especialmente no Egito e na Jordânia”, disse a Jihad Islâmica, em comunicado.

Crime

O Egito, que ao lado da Jordânia foi citado por Trump como destino dos palestinos, disse que resistiria a qualquer tentativa de levá-los para o outro lado da fronteira e afirmou que o plano ameaça o acordo de paz com Israel, de 1979. O governo egípcio lançou uma ofensiva diplomática nos bastidores para barrar a proposta.

A Arábia Saudita, outro importante aliado dos EUA, também rejeitou a realocação de palestinos e disse que não normalizará as relações com Israel – um dos objetivos de Trump – sem a criação de um Estado palestino.

Em Israel, porém, as reações foram favoráveis. A extrema direita abraçou a ideia, enquanto os moderados se disseram abertos ao plano. Yair Lapid, líder da oposição, descreveu a proposta como “boa”. O ex-ministro da Defesa Benny Gantz afirmou que o país não tinha “nada a perder”. As posições refletem a opinião pública. Oito em cada dez israelenses apoiam a realocação dos palestinos de Gaza, embora apenas metade acredite na viabilidade da medida, segundo pesquisa do Jewish People Policy Institute.

Plano

Ontem, Trump dobrou a aposta e afirmou que não será necessário enviar soldados americanos para conquistar o enclave. “Gaza será entregue aos EUA por Israel após os combates”, disse o presidente, que não explicou como pretende controlar e dar segurança ao mesmo tempo que reconstrói o território.

O ministro da Defesa de Israel também não deu detalhes do plano, mas disse que a ideia é facilitar a saída dos palestinos por meio das passagens terrestres, por mar e ar. Katz, porém, não explicou como isso seria feito, uma vez que o único aeroporto de Gaza foi destruído há mais de 20 anos e o enclave não tem um porto.

“Pedi ao Exército para preparar um plano para permitir que os habitantes de Gaza saiam voluntariamente”, afirmou o ministro. “O objetivo é permitir a saída de qualquer residente que deseje, para qualquer país que os aceite.” Ele sugeriu ainda que, caso os vizinhos árabes não aceitem os deslocados, países como Espanha, Irlanda e Noruega, que se opuseram à guerra, teriam a “obrigação legal” de recebê-los.

Os três países europeus rejeitaram a ideia. “O lugar dos palestinos é na Palestina, e o lugar da população de Gaza é em Gaza”, disse o chanceler espanhol, José Manuel Albares. “O objetivo deve ser aumentar o envio de ajuda a Gaza, retornar os serviços básicos e dizer como os deslocados podem retornar”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores da Irlanda.

Estadão Conteúdo.

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