Dólar tem queda firme e Bolsa dispara, com novos dados internos, falas de Haddad e exterior no radar

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O dólar operava em queda firme e a Bolsa disparava nesta terça-feira (7), com os investidores avaliando os dados do IGP-DI (Índice Geral de Preços-Disponibilidade Interna) e da arrecadação federal para o mês de novembro, divulgados nesta manhã.

O mercado repercute a entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para a GloboNews, e segue embalado por notícia de que Trump pode moderar tarifas nos Estados Unidos.

Às 15h30, a moeda norte-americana caía 0,43%, cotada a R$ 6,086. Já a Bolsa subia 1,13%, a 121.385 pontos, no mesmo horário.

O IGP-DI, que calcula os preços ao produtor, consumidor e na construção civil entre o 1º e o último dia do mês de referência, teve uma desaceleração em dezembro.

O índice registrou um avanço de 0,87%, depois de subir 1,18% no mês anterior, encerrando 2024 com um ganho de 6,86%, segundo informou a FGV (Fundação Getúlio Vargas) nesta terça-feira.

A expectativa em pesquisa da Reuters com economistas era de uma alta de 0,78% no mês.

“O recuo do IGP-DI não foi mais expressivo devido às pressões inflacionárias captadas pelo IPC, principalmente por conta da alta nos preços dos alimentos, e no setor de construção civil, influenciado pelo aumento nos custos dos materiais”, afirmou André Braz, economista do FGV IBRE.

Ainda na cena doméstica, a Receita Federal divulgou que a arrecadação do governo federal teve alta real de 11,21% em novembro de 2024 sobre o mesmo mês do ano anterior, somando R$ 209,218 bilhões.

É o segundo melhor resultado para o mês da série histórica iniciada em 1995, atrás apenas de novembro de 2013.

No acumulado de janeiro a novembro, a arrecadação foi de R$ 2,391 trilhões, 9,82% acima do registrado nos primeiros onze meses de 2023, já descontada a correção pela inflação.

O resultado é recorde para o período em toda a série da Receita. Os dados da arrecadação de novembro usualmente são apresentados no final de dezembro, mas a divulgação foi adiada para esta terça pela Receita Federal.

No radar deste pregão ainda esteve uma entrevista ao vivo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para o programa Estúdio I, da GloboNews.

Haddad disse que o déficit primário ficará em 0,1% do PIB em 2024. O dado oficial do resultado primário do ano ainda não foi divulgado.

“Estamos entregando um resultado mais perto do 0 do que do limite inferior da banda”, disse o ministro.

O dado não leva em conta os gastos com as enchentes no Rio Grande do Sul, que foram excluídos da meta fiscal após autorização do Congresso Nacional. Caso fossem incluídos, o déficit seria de 0,37% do PIB, disse Haddad.

Caso o dado seja confirmado, o governo terá cumprido a meta fiscal de 2024, que prevê déficit zero, com tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB para mais ou para menos.

“Depois de dez anos de desajuste, estamos fazendo um ajuste estrutural”, afirmou.

O ministro também afirmou que espera um crescimento de 3,6% do PIB em 2024.

O ministro afirmou que, se medidas planejadas pela Fazenda se concretizarem sem grandes alterações, a área econômica entregará uma economia nacional “mais arrumada” do que a deixada pelo governo anterior.

“Se o plano traçado pelo Ministério da Fazenda for a termo, chegar ao final do jeito que nós planejamos, nós vamos chegar com economia muito mais arrumada, mas muito mais arrumada, do que nós herdamos”, disse ao ser questionado sobre o impacto de indicadores econômicos nas eleições presidenciais de 2026.

O ministro disse ainda que houve um exagero por parte do mercado em relação à piora das perspectivas da economia nacional e acrescentou que espera uma acomodação do nível do câmbio.

Segundo Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, o mercado brasileiro agiu com “pessimismo excessivo” e de forma “exagerada” aos dados de crescimento, inflação e juros do final do ano passado, o que afetou o câmbio e a Bolsa, levando a precificações recordes.

A moeda brasileira passou por forte depreciação no fim do ano passado, com questionamentos sobre a responsabilidade fiscal do governo e a sustentabilidade da dívida pública, e em meio a uma forte saída de dólares do país que levou o BC (Banco Central) a intervir no câmbio.

O movimento no mercado doméstico também refletiu uma valorização global do dólar, diante da expectativa de que a política econômica de Donald Trump possa ter efeito inflacionário, justificando um juro mais elevado nos EUA.

Os mercados globais voltaram a repercutir nesta sessão a reportagem do The Washington Post, divulgada nesta segunda-feira (6), que sugeriu que assessores do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, estariam explorando planos de implementar tarifas apenas sobre importações de setores críticos para o país.

A suposta movimentação, que representaria um recuo da abordagem mais agressiva prometida por Trump durante a campanha presidencial, levava os investidores a novamente retirar algumas de suas posições compradas na moeda norte-americana, o que já havia ocorrido na sessão anterior.

Na segunda, o dólar à vista fechou em baixa de 1,11%, a R$ 6,113. É o menor valor desde 20 de dezembro do ano passado, quando fechou a R$ 6,071.

Apesar de o próprio Trump ter refutado a notícia horas depois da publicação, os mercados continuavam criando expectativa de planos tarifários mais moderados nos EUA, o que se junta a declarações recentes do republicano que mostraram mais abertura em temas como imigração e relações com a China.

“Hoje vemos uma continuidade do que se observou ontem, com um alívio marginal de que Trump não será agressivo em relação às tarifas. É o ponto de maior nervosismo em relação ao presidente eleito”, disse Spiess.

Segundo analistas, a possibilidade de uma postura menos protecionista por parte de Donald Trump em relação às tarifas de importação estimula os mercados internacionais a buscar por ativos mais arriscados em países emergentes, como o Brasil. Esse movimento contribui para a valorização do real, ou seja, para uma diminuição da cotação da moeda norte-americana.

Na cena externa, os agentes financeiros também analisaram o aumento de 249 mil vagas de emprego em aberto nos Estados Unidos para o mês de novembro, que subiu para 8,098 milhões, segundo informou o

Departamento do Trabalho em seu relatório Jolts nesta terça-feira.

O estado do mercado de trabalho nos EUA ajuda na projeção da trajetória da taxa de juros do Fed (Fedreral Reserve, o banco central americano).

Operadores têm apostado que o Fed manterá os juros inalterados na reunião deste mês, reduzindo o ritmo do afrouxamento monetário iniciado no ano passado, em meio a uma economia resiliente e uma inflação ainda acima da meta de 2%.

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