Indicadores para 2026

Tem muito analista por aí afirmando que as eleições municipais, como as que acabaram de ocorrer, nada têm a ver com as de 2026, quando se escolherão presidente da República, governadores, Congresso e assembleias. Claro que tem, pois os eleitores são os mesmos.

Exatamente por isso, há constatações que precisam ser consideradas. Para começar, quem ganhou, agora foi mesmo a direita. Em mais de 8.500 prefeituras, a esquerda levou apenas 574, quase todas de pequeno porte.

Capital, só duas, uma do moderado PSB e outra, do PT, por margem inferior a um por cento. Por essas e outras, a questão passou a ser qual a direita vencedora. E aí vem: Bolsonaro ganhou muitas, mas perdeu também muitas para outras correntes da direita. Isso tem um efeito imediato para o Distrito Federal. Candidata natural ao Buriti, a atual vice Celina Leão identificou-se ao máximo com essa corrente, percorrendo o País ao lado de Michelle Bolsonaro e Damares Alves.

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No entanto, isso não chega a ameaça-la, pois seus eventuais concorrentes de direita são ainda mais bolsonaristas, caso de Bia Kicis e da própria Damares. Mesmo o senador Izalci Lucas dependeria de um envolvimento maior de Bolsonaro. Tanto assim que a primeira pesquisa feita dá ampla margem a Celina.

Contra os rivais da mesma vertente

Bolsonaro inventou candidatos contra todos os seus potenciais da mesma vertente. Sem contar Pablo Marçal, o nome do governador Tarcísio de Freitas, vitaminou nomes contra os governadores Ratinho, Ronaldo Caiado, Zema e por aí vai. Perdeu quase todas.

Mas, excluindo o caso de Minas, os vencedores são todos de direita ou centro-direita. Nenhuma derrota envolveu Lula, salvo o caso do Ceará, em que notoriamente nenhum dos dois se envolveu diretamente. Caiado, por exemplo, conseguiu levantar um candidato que andava por baixo, Sandro Mabel, contra uma cria de Bolsonaro.

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Também isso tem efeitos sobre a política do Distrito Federal. Chegou-se a afirmar que o governador Ibaneis Rocha, mesmo com aprovação de 58%, poderia encontrar oposição forte ao concorrer para o Senado. Essa oposição forte, porém, partiria do bolsonarismo-raiz, cuja fragilidade diante da centro direita ficou evidente nessas eleições.

Esquerda dá sinais de que aprendeu alguma coisa

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Apesar da resistência de seus setores mais radicais, a esquerda dá sinais de que a percebeu o desinteresse do eleitor, senão o repúdio, por determinadas bandeiras, em especial as teses identitárias. Em São Paulo, o mais votado dos vereadores, do PL, insistia em apenas em um tema: a absoluta proibição de entrada de trans em banheiros femininos.

Claro que existem questões mais consistentes. Nesta segunda-feira mesmo, o ex-deputado Geraldo Magela único candidato já colocado a governador pelo PT, defendeu um dos temas mais discutidos nas eleições a criação do Ministério da Segurança Pública, dizendo que o presidente Lula precisa ter uma atitude corajosa e firme ao criar esse Ministério com força política e recursos para atuar no país inteiro. Claro, o desinteresse, senão a incompetência do PT na área de segurança foi cobrado por todos os adversários.

O especialista Melilo Diniz diz que na atual conjuntura, o eleitor transformou-se num “rejeitor”: para ele, “vota-se muito menos pelas opções decorrentes da escolha, da adesão de um projeto do que para evitar que aquele que se rejeita seja eleito”.

Vencedores no muro

Quem assistiu à festa de posse do prefeito reeleito de São Paulo, Ricardo Nunes, do MDB, pode constatar uma presença permanente. Nunes demorou a chegar, o governador Tarcísio de Freitas abriu a festa, mas depois saiu por mais de meia hora, o presidente emedebista Baleia Rossi ficou até ser abraçado. O único a estar todo o tempo à frente das câmeras foi o secretário de governo, Gilberto Kassab, também presidente do PSD. Começou e terminou a farra lá, empoleirado no principal palanque do País.

Tem muita gente dizendo que era o dono da festa. E talvez seja mesmo. Foi um dos principais articuladores da vitória de Nunes e, mais importante, preside o partido que fez mais prefeitos no País, 887; Sozinho, duas vezes e meia toda a esquerda somada.

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Em segundo lugar ficou o MDB, com 856. A seguir o PP, 745, e depois o União Brasil, 583. Todos eles têm algo em comum: concorreram com perfil de centro-direita, mas estão instalados no governo Lula, três com ministros e um com cargos inferiores, o que não os impede de, frequentemente, votarem contra o governo. Só depois vem o PL de Bolsonaro, com 515 prefeitos,

Questão de governabilidade

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Presidente do PSD no Distrito Federal, o ex-governador Paulo Octávio, explica que o partido, desde os tempos de Juscelino Kubitschek tem essa característica de agregar bem com os dois lados.

“Isso traduz a essência de nossa população”, diz ele. Joga na governabilidade. Com a vantagem de que Kassab tem o controle de um partido sem dissidências. Isso permite que na sucessão vá para o lado do Lula, mas pode ir para outros lados. “Por isso”, diz Paulo Octávio, “sua responsabilidade é enorme”. Ele pensa até, antes do final deste ano, reunir todo o PSD em Brasília.

Ministro do PSD, o ex-senador Alexandre Silveira vai além. Diz que Lula ganhou como presente de aniversário a eleição de Fued Nemer, também do PSD, como prefeito de Belo Horizonte, “Afinal”, assegura o ministro. “nas eleições nacionais, para onde vai Minas, vai o Brasil”.

Arruda impedido de concorrer

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A sorte está mesmo do lado da vice Celina Leão. A pesquisa feita após as eleições a mostra em primeiro lugar, bem à frente do segundo, o ex-governador José Roberto Arruda, vindo depois a senadora Damares Alves e enfim, em empate técnico, Leandro Grass, do PV, que aposta em apoio do PT.

Pois bem nesta segunda-feira, 29, Arruda foi impedido de concorrer. A 2ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal condenou o ex-governador a suspensão de direitos políticos por 12 anos. A sentença por improbidade administrativa é um desdobramento da operação Caixa de Pandora.

Cabe recurso da decisão. O ex-governador foi condenado a pagar reparação de danos no valor de R$ 152,5 mil e uma multa civil em igual valor. Além disso, Arruda tem os direitos políticos suspensos por 12 anos e está proibido de contratar com o poder público.

Em nota, a defesa do ex-governador diz que as provas já foram declaradas ilícitas pela Justiça Eleitoral e que elas foram “recicladas para a condenação de Arruda por ato de improbidade”. O advogado de Arruda afirma ainda que entrará com recurso.

A decisão da última quinta-feira (24), assinada pelo juiz Daniel Eduardo Branco Carnacchioni, diz respeito a contratos do governo do DF com a empresa Uni Repro Serviços Tecnológicos, também condenada na ação. Arruda também respondeu, seco: “Não desconheço a força dos que temem meu retorno”. Afinal, completou, “toda vez que fazem uma pesquisa e meu nome aparece na frente, vem mais uma condenação.

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