Avós da Praça de Maio encontram 138º neto sequestrado pela ditadura da Argentina

882c1b89 590e 4f68 aff8 350027ee7ee1

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

As Avós da Praça de Maio, movimento de mulheres que lutam para encontrar crianças desaparecidas durante a ditadura militar na Argentina (1976-1983), anunciaram nesta sexta-feira (27) que identificaram o neto número 138, que desconhecia sua verdadeira identidade.

No anúncio, feito inicialmente por meio das redes sociais da organização, elas expressaram seu entusiasmo: “Encontramos um novo neto!”.

Mais tarde, durante entrevista coletiva na Casa pela Identidade do Espaço Memória e Direitos Humanos, em Buenos Aires, elas forneceram mais detalhes sobre esta descoberta.

O neto encontrado, que atualmente responde pelo nome de Guillermo Amarilla, é filho de Marta Enriqueta Pourtalé e Juan Carlos Villamayor, militantes ontoneros desaparecidos em 1976, de acordo com o jornal argentino Página 12.

O casal teria sido sequestrado em 10 de dezembro daquele ano, quando Marta estava grávida de oito meses e meio, segundo o jornal La Nacion.

“Eles foram vistos no centro de detenção clandestino, onde provavelmente ocorreu o nascimento do neto 138. Foram registrados mais de 30 nascimentos nesse local. [Os pais] Pensavam em chamar o bebê que esperavam de Soledad ou Manuel”, disse Estela de Carlotto, líder das Avós da Praça de Maio.

Guillermo Amarilla, o neto 138, elogiou a luta do movimento de mulheres. “O ano está acabando, e recebemos um neto, reencontramos a verdade, novamente fruto da luta das Avós.” Com um sorriso no rosto, disse ainda que “num momento como o que vivemos agora, receber esta notícia é um impulso, é vida, é esperança e nunca desistir”.

Diego Antonio -filho de Marta Enriqueta nascido em 1972 fruto de outro relacionamento, portanto, meio-irmão de Guillermo- enviou uma mensagem para as Avós da Praça de Maio. “Estou emocionado”, disse ele da Espanha ao irmão, e depois se dirigindo ao movimento. “Obrigado, avós, vocês são orgulho nacional, eu adoro vocês.” Os dois irmãos, Diego e Guillermo, são advogados.

Manuel Gonçalves Granada, integrante do Conselho de Administração das Avós e secretário executivo da Comissão Nacional do Direito à Identidade, esteve presente quando o neto 138 recebeu os resultados do Banco Nacional de Dados Genéticos. Ele contou que o rapaz ficou “muito comovido” e “mesmo naquela situação de tanto choque, começou a pensar na família e no que vai acontecer com eles agora que o encontraram.”

“Ele vai conhecer uma família que o procurou, que nunca perdeu a esperança”, disse Granada. “Tê-lo encontrado foi a melhor resposta à luta daquela família. Eles vão se conhecer e construir esse vínculo.”

A recuperação do neto 138 reforça a luta histórica das Avós da Praça de Maio, que desde 1977 trabalham para restituir a identidade de crianças apropriadas durante o terrorismo de Estado.

Este é o primeiro caso resolvido durante a administração de Javier Milei, acusado pelas Avós da Praça de Maio de ter um plano para desmantelar a busca pela memória do país.

“A Secretaria de Direitos Humanos tem acompanhado a nossa luta em busca das respostas que os perpetradores nunca quiseram nos dar”, disse Estela de Carlotto, que afirmou que a secretaria enfrenta “um dos ajustes mais difíceis.”

“O povo argentino já repudiou estes crimes horrendos e apelamos a que continuem a fazê-lo”. O grupo de mulheres argentinas ainda procura cerca de 300 netos nascidos durante o cativeiro de suas mães.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.