Policiais da Rota viram réus pela morte de duas pessoas na Consolação, em SP

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FRANCISCO LIMA NETO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Quatro policiais da Rota (Ronda Ostensiva Tobias Aguiar) tornaram-se réus sob acusação de homicídio de dois suspeitos e pela tentativa de homicídio de um terceiro, em São Paulo, na madrugada de 12 de janeiro de 2023.

De acordo com o Ministério Público, as investigações mostram que os policiais localizaram o veículo ocupado pelas vítimas na rua da Consolação após receberem uma denúncia anônima de roubos a residências.

Durante a abordagem, os militares passaram a atirar contra os três ocupantes, colocando-se a volta do automóvel sem que eles pudessem fugir ou oferecer qualquer resistência.

“O veículo pertencia ao pai de um dos mortos e tinha origem lícita. Conforme exame pericial, ao menos 20 tiros foram disparados. A vítima sobrevivente saltou do carro e se fingiu de morta para evitar ser atingida por mais disparos”, afirmou a Promotoria. A acusação vê motivo torpe e recurso que impossibilitou a defesa das vítimas.

Ainda segundo a Promotoria, os policiais, agora réus, alteraram a cena do crime para forjar troca de tiros, colocando uma arma no local para simular que ela estava em poder de uma das vítimas.

De acordo com a denúncia, os réus desvirtuaram “as prerrogativas legalmente atribuídas por meio de abuso do poder para satisfazer a perversa vontade de fazer justiça com as próprias mãos, porquanto se acharam no poder de julgar e executar de morte as vítimas, pena esta que sequer existe em nosso ordenamento”.

Para a promotora de Justiça Luciana Jordão, os PMs agiram como um grupo de extermínio. A denúncia oferecida por ela foi recebida pela 1ª Vara do Júri da Capital no mês de novembro. Com isso, os acusados viraram réus na ação penal.

O caso ocorreu na madrugada de 12 de janeiro de 2023. Na ocasião, dois homens, apontados como suspeitos de integrarem uma quadrilha especializada em roubo a residências, foram mortos durante uma suposta troca de tiros com policiais da Rota, na rua da Consolação, na capital paulista.

Segundo a Polícia Militar, equipes da tropa receberam a informação de que os homens estavam em dois veículos. Um dos carros foi abordado na rodovia Raposo Tavares com três suspeitos. Todos foram presos, de acordo com a PM.

O segundo veículo teria fugido em alta velocidade, sentido zona sul, e perseguido por outra equipe da Rota. Ainda de acordo com a PM, durante a perseguição, o motorista perdeu o controle da direção e bateu o veículo contra um poste na rua da Consolação, no cruzamento com a rua Sergipe.

Ainda segundo policiais, os ocupantes do veículo teriam atirado contra os militares, que revidaram, ainda segundo a PM. Na suposta troca de tiros, os três foram atingidos. Dois morreram e um foi socorrido e levado para um hospital da região.

De acordo com a Divisão de Homicídios do DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa), responsável pelas investigações, os policiais da Rota declararam que receberam no batalhão uma denúncia anônima sobre uma quadrilha especializada em roubos a residências na Grande São Paulo.

A Folha de S.Paulo apurou que a denúncia foi recebida pela Rota às 23h do dia anterior. A ocorrência foi às 3h13 e a comunicação ocorreu às 5h55.

Os agentes teriam encontrado três membros dessa quadrilha em uma Mercedes-Benz C200, em Cotia. O trio teria indicado a localização de outros três homens na região central de São Paulo, em um Honda Fit.

Ainda segundo a Divisão de Homicídios, os agentes da Rota contaram que localizaram esses três suspeitos a partir das informações recebidas e houve perseguição. Após baterem o veículo em um poste, em frente à obra da linha 6-laranja de metrô, eles não teriam obedecido às ordens para baixar os vidros e já desceram atirando contra os policiais, conforme a versão oficial.

“Os policiais vão precisar explicar a dinâmica dos fatos, como e onde encontraram os suspeitos em Cotia, como encontraram o segundo veículo, já em São Paulo, e como a ação ocorreu”, disse Antonio Carlos Desgualdo, responsável à época pela investigação.

Os dois suspeitos que morreram tinham 25 anos. O terceiro baleado, que foi socorrido, tinha 24.

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