Especialista alerta para riscos de demência pugilística em lutadores

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Por Yan Vittor Souza
Agência de Notícias CEUB

A demência pugilística, também conhecida como encefalopatia traumática crônica, é uma condição neurodegenerativa que pode pode afetar ex-boxeadores devido aos impactos repetidos na cabeça durante as lutas. Segundo o neurocirurgião André Borba, alterações de coordenação, fala, tremores e da atenção costumam ser precoces.

O profissional cita sinais como mudanças comportamentais com habilidade emocional, episódios de agressividade e irritação. Uma das vítimas famosas recentes foi o ex-lutador José Adilson Rodrigues, o Maguila, que morreu, no último mês de outubro, aos 66 anos de idade.

Diferenças

André Borba explica que a demência do pugilista tem diferenças importantes quando comparada à Doença de Alzheimer, uma vez que se apresenta mais associada a hemorragias intracranianas. Esses sangramentos podem desenvolver um quadro chamado angiopatia amilóide, aumentando ainda mais o risco.

“Em ambos, existe o acúmulo de emaranhados neurofibrilares, mas na encefalopatia, estes são mais superficiais, possivelmente consequência dos golpes. Alterações motoras, incomuns no Alzheimer, como tremores, rigidez e um quadro semelhante ao Parkinson, também podem acontecer”, explica. 

O neurocirurgião indica que o acompanhamento neurológico e psicológico é essencial. Além disso, exames de imagem podem ajudar e revelar sinais de atrofia cerebral precoce, assim como episódios de complicações, como sangramentos. “O eletroencefalograma também pode revelar lentificação  difusa em até metade dos casos, mas é um dado de pouca aplicabilidade clínica”..

O médico defende que os esportistas busquem se prevenir e que as regras tambpem diminuam os riscos. No entanto, ele afirma que  não existe um tipo específico de proteção cientificamente comprovado ou recomendado.  

“Mesmo que a proteção total seja impossível, recomendam-se capacetes acolchoados durante os treinos, esmero em técnicas de esquiva e defesa e regras que limitem golpes na cabeça e determinem tempo mínimo para recuperação após contusões. Fazer o monitoramento regular do estado neurológico dos atletas também é essencial”. 

Evolução e prevenção 

O professor de artes marciais mistas André Luiz do Carmo, da academia Pugilistas do Bem, avalia que a ciência é uma grande aliada na prevenção de possíveis sequelas relacionadas à prática do boxe: “Os atletas de hoje não sofrem como os de antigamente. A ciência ajudou a identificar métodos e alterações no esporte, para que fosse menos prejudicial aos seus praticantes.” O professor entende que Maguila sofreu muito pois, na época em que ele lutava, eram 15 rounds (períodos da luta). “Ele surgiu em um dos períodos mais difíceis do boxe”.

Para ele, hoje existe uma quantidade de rounds limitada por competição e modalidade, a fim de prevenir essas possíveis sequelas que afetaram tantos atletas. 

Segurança e estigmas

“É importantíssima a conscientização dos riscos em esportes de contato. Sobre medidas de segurança, a qualidade dos materiais com certeza também é um fator positivo para a redução desses riscos.”, afirma o professor a respeito dos riscos no boxe e em outros esportes de contato.

 O professor detalhou que é preciso mais conscientização sobre as medidas de segurança na prática esportiva.  “A partir do momento em que tudo é feito a partir das regras, nossos atletas adquirem segurança, e isso ajuda para que o esporte se torne mais saudável e acabe com esse estigma de violência”.

Atletas 

André relata que conversa diariamente com os atletas da sua academia. A maioria trata com naturalidade os riscos. “Eles treinam muito para competir, mesmo com os riscos iminentes de possíveis lesões e sequelas futuras”, afirma o professor.

Risco 

A atleta Amanda Gomes, de 23 anos, conheceu a modalidade em 2021, após realizar uma cirurgia bariátrica e inserir novas práticas de vida em sua rotina.  Em agosto daquele ano, ela subia nos ringues pela primeira vez e, desde então, vem somando títulos e participações nacionais em campeonatos importantes.

Em prol da conscientização sobre possíveis consequências para a saúde, a atleta ressalta o uso de capacete para o combate, o que possivelmente não ocasiona tantas lesões no crânio. Além disso, a atleta destaca que diferente de antigamente, hoje, quando realizado o nocaute, o atleta é obrigado a ficar certo período de tempo afastado de competições.

A relação entre o amor pelo esporte e os riscos caminha em um paralelo de prazer e consequência. Para a atleta,  o risco existe em qualquer profissão.  “O futebol é um dos esportes que mais ocorrem lesões, seguido pelo atletismo. No boxe masculino onde não há a proteção de cabeça como no feminino, há ocorrência de lesão no crânio, porém com o avanço da medicina, tecnologia e recursos técnicos e táticos, cada vez menos se tem relatos fatais no cenário do boxe.”.

Dificuldades no esporte

“Via de regra, não é possível viver apenas de boxe, principalmente aqui na Bahia, onde há diversos bons boxeadores. Como existem muitos, é difícil de encaixar todos os atletas baianos para disputar o campeonato nacional onde só é permitido um por categoria. Muitos ficam de fora e não conseguem se eleger para receber Bolsa Atleta a nível nacional.”

 Amanda explica que não existe pecúnia para que se mantenham treinando no alto rendimento, sendo como solução somar a rotina de treinos intensos com jornadas de trabalho, como é o caso dela. Estudante do 9º período do curso de direito noturno, pela manhã Amanda faz estágio no Ministério público. Tendo pela tarde e início da manhã como horários restritos aos treinamentos.

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