De antivacina a investidor de Wall Street, no gabinete de Trump fidelidade é lei

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JULIA CHAIB
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS)

Donald Trump concluiu as indicações para os principais cargos do seu governo e deixou implícito o critério que se sobressaiu nas escolhas: a lealdade.

O objetivo do republicano, avaliam integrantes do governo brasileiro e analistas americanos, é evitar questionamentos às suas ordens, levando à concentração de poderes na Casa Branca.

“Trump aqui quer basicamente assumir o controle de sua administração e nomear pessoas de quem ele basicamente obtém garantias de que farão o que ele diz”, disse à reportagem Robert Shapiro, professor de ciência política da Universidade Columbia.

O republicano anunciou 24 nomes, entre os quais aqueles que ocuparão cargos-chave da sua gestão. Desde o bilionário Elon Musk, dono do X, à ex-empresária de luta livre Linda McMahon, o que eles têm em comum são declarações públicas de apoio explícito a Trump e o empenho para fazê-lo ser eleito.

Para um integrante do Itamaraty, a equipe definida por Trump é até diversa no quesito de adesão à ideologia da extrema direita. Isso por ter no seu rol desde articuladores do Projeto 2025, espécie de cartilha ultraconservadora da qual o republicano tentou se afastar na campanha, a Scott Bessent, escolhido para o secretário do Tesouro, que atuou para o bilionário de investimentos George Soros, considerado mais moderado.

Esse diplomata ressalta que o presidente eleito escolheu pessoas fiéis para áreas essenciais aos planos expostos pelo republicano na campanha, como Saúde, Justiça, Defesa, Inteligência e Segurança Interna, o que mostra a intenção de destruir o chamado “estado administrativo” e burocracias.

Esse critério levou o presidente eleito a algumas escolhas consideradas arriscadas por assessores. Entre elas, estão Matt Gaetz, ex-deputado da Flórida, até então considerado um dos parlamentares mais trumpistas do Congresso, para gerir o Departamento de Justiça, que pode levar adiante processos contra opositores.

Acusações de má conduta sexual e o receio de que ele tivesse a nomeação rejeitada pelos senadores levaram Gaetz a desistir da indicação na semana passada. Para o lugar dele, Trump escolheu a ex-procuradora-geral da Flórida Pam Bondi.

A advogada atuou na equipe do republicano quando ele foi alvo de impeachment e também trabalhou na empresa Ballard Partners, de Brian Ballard, um aliado do presidente eleito. Bondi endossou as acusações de fraude nas eleições de 2020 vociferadas por Trump e prometeu retaliação aos promotores que o acusaram de tentar impedir a posse de Joe Biden.

“Quando os republicanos tomarem a Casa Branca, e nós estaremos de volta lá em 18 meses ou menos, sabe o que vai acontecer? No Departamento de Justiça, os promotores serão processados -os maus-, os investigadores serão investigados”, afirmou a advogada em entrevista à Fox News no ano passado.

Apesar do radicalismo, a indicação de Bondi não corre risco de ser rejeitada pelo Senado. Outros dois nomes, porém, ainda estão na berlinda. Um deles é Pete Hegseth, escolhido para ser secretário de Defesa.

Ex-apresentador da Fox News e veterano das guerras do Iraque e Afeganistão, ele enfrenta uma acusação de agressão sexual por uma mulher da Califórnia. A indicação dele é considerada arriscada e tem chances de ser rejeitada pelo Congresso, que precisa sabatinar os indicados por Trump e confirmá-los.

Outra nomeação em xeque é a de Tulsi Gabbard, indicada para comandar a diretoria de Inteligência Nacional. Senadores republicanos têm expressado dúvida sobre aprová-la em razão de comentários feitos por ela no passado que teriam demonstrado simpatia com a ação da Rússia de invadir a Ucrânia.

Gabbard era democrata e foi pré-candidata à Presidência em 2020, quando então deixou o partido.

Parlamentares a criticam também por um encontro que teve com o ditador da Síria, Bashar al-Assad, em 2017 e por declarações dela que avaliam como críticas à ordem de Trump que levou à morte do general iraniano Qassim Suleimani.

Para comandar o Departamento de Educação, o presidente eleito escolheu Linda McMahon. Uma das coordenadoras da equipe de transição de Trump, Linda era presidente da WWE, empresa de luta livre que fundou ao lado do marido, Vince McMahon, e que se tornou uma das maiores do segmento antes de se juntar ao UFC no ano passado. Ela acumula cenas jocosas na televisão e é acusada de ter sido negligente em casos de abuso sexual contra adolescentes em sua empresa entre 1980 e 1990 -e nega as acusações.

Mais uma escolha considerada polêmica e criticada por integrantes do Congresso é a de Robert Kennedy Jr. para comandar a pasta equivalente ao Ministério da Saúde dos Estados Unidos. Ele é conhecido por defender teorias da conspiração, por seu ceticismo em relação às vacinas e, depois de ser pré-candidato democrata, apoiou o republicano na disputa pela Casa Branca.

Já Bessent, escolhido para comandar o Tesouro da maior economia do mundo, é considerado por alguns analistas uma pessoa moderada do ponto de vista ideológico. Bilionário e gestor de fundos, tornou-se conselheiro econômico central para Trump no último ano.

Em entrevista ao jornal Wall Street Journal, Bessent afirmou que levará adiante as promessas de Trump de redução de impostos. Isso incluirá, disse, tornar permanentes os cortes de impostos do primeiro mandato do republicano e eliminar impostos sobre gorjetas, benefícios de seguridade social e pagamento de horas extras.

Trump também escolheu ao menos cinco nomes que articularam o Projeto 2025, que prevê a redução dos direitos reprodutivos, a diminuição do estado e a deportação em massa de pessoas em situação irregular.

Entre eles estão John Ratcliffe, nomeado para dirigir a CIA, e Russ Vought, que deverá ser nomeado para dirigir o Orçamento, segundo a CBS News. Vought escreveu um capítulo central do projeto sobre a redução da burocracia federal.

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