Bolsonaro usou as Forças Armadas para fazer ameaças em seu governo

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Indiciado nesta quinta-feira (21) sob suspeita de participar de uma trama golpista para se manter no poder, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usou as Forças Armadas para fazer ameaças veladas em uma série de momentos durante seu governo.

Logo no início do mandato, em 2019, afirmou que “isso, democracia e liberdade, só existe quando a sua respectiva Força Armada assim o quer”.

Em maio de 2020, retomou o tema ao declarar: “Nós temos o povo ao nosso lado, nós temos as Forças Armadas ao lado do povo, pela lei, pela ordem, pela democracia e pela liberdade”.

O uso de ameaças veladas usando as Forças foi intensificado no início de 2021, em meio à piora da pandemia de Covid, quando governadores adotaram medidas para restringir a circulação de pessoas.

Em janeiro daquele ano, Bolsonaro afirmou que “quem decide se um povo vai viver na democracia ou na ditadura são as suas Forças Armadas”.

Em março, disse que não acionaria o que chamou de “meu Exército” para atuar na implementação de medidas contra a pandemia que incluíssem a restrição da locomoção de pessoas.

“Vou só dar um recado aqui: alguns querem que eu decrete lockdown. Não vou decretar. E pode ter certeza de uma coisa: o meu Exército não vai para a rua para obrigar o povo a ficar em casa. O meu Exército, que é o Exército de vocês”, afirmou.

Dias depois, voltou a mencionar as Forças em fala a apoiadores.

“Alguns tiranetes ou tiranos tolhem a liberdade de muitos de vocês. Pode ter certeza, o nosso Exército é o verde oliva e é vocês também. Contem com as Forças Armadas pela democracia e pela liberdade.”

Na ocasião, elevou o tom de ameaça. “Estão esticando a corda, faço qualquer coisa pelo meu povo. Esse qualquer coisa é o que está na nossa Constituição, nossa democracia e nosso direito de ir e vir”, afirmou.

Ainda naquele ano, em Manaus, que viveu um colapso sanitário por falta de oxigênio, Bolsonaro declarou que o Exército poderia ir “para a rua” para, segundo ele, reestabelecer o “direito de ir e vir e acabar com essa covardia de toque de recolher”.

Em setembro de 2021, ele disse, em cerimônia alusiva aos mil dias de governo: “As Forças Armadas estão aqui. Elas estão ao meu comando, sim, ao meu comando. Se eu der uma ordem absurda, elas vão cumprir? Não. Nem a mim nem a governo nenhum. E as Forças Armadas têm que ser tratadas com respeito”.

Semanas antes, declarou em agenda com oficiais: “Nas mãos das Forças Armadas, o poder moderador.

Nas mãos das Forças Armadas a certeza da garantia da nossa liberdade, da nossa democracia, e o apoio total às decisões do presidente para o bem da nação”.

Após perder a eleição, em 2022, o então presidente voltou a mencionar os militares de forma dúbia, enquanto, nos bastidores, a trama golpista se desenrolava.

“Sempre disse, ao longo desses quatro anos, que as Forças Armadas são o último obstáculo para o socialismo”, disse a seus apoiadores, ao quebrar um silêncio de 40 dias após a derrota para Lula (PT).

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