‘Recuperação indolor’, pacientes operados com ajuda de robôs em Joinville relatam experiências

A medicina vive uma revolução tecnológica que está transformando tanto os procedimentos cirúrgicos quanto a interação entre profissionais de saúde e pacientes. Em Joinville, essa inovação tem se tornado parte do dia a dia dos hospitais públicos e privados. Recentemente, dois pacientes foram operados na cidade com o auxílio de robôs e compartilharam suas experiências.

Sala híbrida do Hospital Regional em Joinville  - Divulgação/ND

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Sala híbrida do Hospital Regional em Joinville – Divulgação/ND

Cirurgia com o apoio de robô no Hospital Dona Helena em Joinville  - Divulgação/ND

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Cirurgia com o apoio de robô no Hospital Dona Helena em Joinville – Divulgação/ND

Hospitais em Joinville se destacam com medicina do futuro, que utiliza robôs para cirurgias - Divulgação/ND

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Hospitais em Joinville se destacam com medicina do futuro, que utiliza robôs para cirurgias – Divulgação/ND

Equipamentos tecnológicos já fazem parte do dia a dia dos hospitais públicos e privados  - Divulgação/ND

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Equipamentos tecnológicos já fazem parte do dia a dia dos hospitais públicos e privados – Divulgação/ND

“Fiquei apreensiva”, conta paciente operada por robô

Pacientes operados com ajuda de robôs

Naiana contou a experiência de ser operada por um robô – Foto: Arquivo Pessoal/Divulgação/ND

Naiana Zen Raulino, de 37 anos, que mora em Balneário Camboriú, foi uma dessas pacientes. Ela realizou uma gastroplastia, também conhecida como bariátrica, no Hospital Dona Helena.

“A tecnologia oferece muita segurança e precisão, resultando em menos riscos de complicações. Estou incentivando meus amigos a considerar a cirurgia robótica. É uma opção mais segura, sem dor, e a recuperação é rápida. Vale a pena todo o investimento”, afirma.

Apesar da confiança que desenvolveu ao longo do processo, Naiana admitiu que teve inseguranças iniciais. “Fiquei um pouco apreensiva ao saber que seria operada por um robô. No entanto, busquei conhecimento e conversei com meu médico e decidimos juntos realizar a cirurgia robótica, e foi um sucesso”, destaca.

Ela também ressaltou a diferença na recuperação em comparação aos métodos tradicionais. “Sem dúvida, a precisão do robô oferece ao cirurgião gestos muito mais controlados, e a recuperação foi indolor e muito satisfatória”, avalia.

“Não tomei remédio para dor”, revela paciente de 71 anos

Outro paciente que passou pela cirurgia robótica em Joinville foi Carlos Roberto Wengerkievicz, de 71 anos. Natural de Florianópolis e diferente de Naiana, o idoso já estava mais familiarizado com procedimento. “Não senti absolutamente nada. A cirurgia robótica me deixou mais confortável, e a qualidade do equipamento me deu total confiança”, relata.

Carlos acredita que, se tivesse optado por uma técnica tradicional, teria ficado mais apreensivo quanto ao procedimento e à recuperação. “Com poucas aberturas abdominais e a certeza da extirpação do que precisava ser retirado, não tomei remédio para dor, apesar de ter sido oferecido. A cicatrização foi rápida e confortável, o que me permitiu retornar à rotina em menos tempo”.

Joinville se consolida como polo de cirurgias inovadoras

Diversos hospitais de Joinville vêm se destacado em Santa Catarina ao adotarem tecnologias avançadas em suas práticas cirúrgicas, o que tem atraído moradores de outras cidades, como no caso de Naiana e Carlos.

A primeira cirurgia robótica em Joinville foi realizada no Centro Hospitalar Unimed em maio deste ano. Um paciente com câncer de próstata passou pelo procedimento bem-sucedido.

A primeira cirurgia por robô realizada no Brasil foi em 2008, no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Já em Santa Catarina, o primeiro procedimento foi realizado em 2019, no Hospital Santa Isabel, em Blumenau.

Em setembro, o Hospital Dona Helena, em Joinville, também realizou uma cirurgia ortopédica com a participação remota de especialistas de diferentes países. Já o Hospital Regional Hans Dieter Schmidt foi pioneiro ao executar a primeira cirurgia em uma sala híbrida pelo SUS.

No Hospital Dona Helena, uma complexa correção de fratura foi realizada com o auxílio do Microsoft HoloLens, permitindo a comunicação em tempo real entre cirurgiões de diferentes partes do mundo.

O médico Guilherme Augusto Stirma destaca que essa tecnologia não apenas melhorou a qualidade da cirurgia, mas também economizou tempo e recursos. “Colaborar com especialistas remotos é um grande avanço para a medicina”, aposta.

Da mesma forma, o Hospital Regional Hans Dieter Schmidt fez história em outubro ao realizar um implante de válvula aórtica em uma sala híbrida, a única totalmente SUS do Sul do Brasil. “Essa sala nos permite realizar procedimentos minimamente invasivos, reduzindo riscos cirúrgicos e melhorando a recuperação”, comenta a diretora Aldilete Fantuci.

Robô PUMA: onde tudo começou

Esses avanços no Brasil estão alinhados com a evolução da cirurgia robótica, que teve seus primeiros registros na década de 1980, quando o robô PUMA foi utilizado em uma biópsia durante uma neurocirurgia nos Estados Unidos.

Desde então, essa tecnologia tem sido adaptada para uma variedade de procedimentos cirúrgicos, proporcionando maior precisão e segurança, e agora está sendo incorporada também nas práticas médicas brasileiras.

Papel dos profissionais de saúde

Para entender a perspectiva dos médicos sobre inovações tecnológicas na medicina, o cirurgião vascular Gilberto Macedo, do Hospital Regional, destaca a importância das salas híbridas. “Essas salas são fundamentais, pois muitos procedimentos agora combinam cirurgias convencionais com intervenções minimamente invasivas, oferecendo maior segurança e melhores resultados para os pacientes”, explica.

Sobre o uso crescente da tecnologia na prática médica, Macedo é otimista. “A tecnologia veio para facilitar intervenções, tornando-as mais seguras e menos invasivas. O mais relevante é que ela pode tratar pacientes que antes eram considerados de alto risco e não podiam ser submetidos a cirurgias tradicionais”, ressalta.

O urologista Ernesto Reggio, chefe do programa de robótica do Hospital Dona Helena, também reconhece o impacto da tecnologia. “A cirurgia robótica oferece visibilidade superior dos tecidos, com imagens tridimensionais que ampliam o campo cirúrgico. Os movimentos das pinças robóticas são mais precisos e conseguem acessar áreas que a mão humana não alcança”, explica.

Presença humana insubstituível

Ele acredita que, apesar dos avanços, a presença humana é insubstituível.  “O paciente precisa do conforto e da empatia que só um ser humano pode oferecer. A mão do cirurgião continua sendo fundamental.”

Ambos os médicos concordam que, embora a tecnologia traga avanços, o atendimento humanizado deve ser mantido. “A tecnologia é uma ferramenta poderosa, mas o médico não pode deixar de oferecer um atendimento humanizado. A formação médica deve evoluir para incluir essas tecnologias, preparando os profissionais para uma prática cada vez mais digital”, afirma Macedo.

Para Reggio, o futuro da medicina será impactado por sistemas que proporcionarão diagnósticos mais precisos. “Daqui a dez anos, a medicina estará ainda mais integrada à tecnologia, mas o ser humano não será substituído. O equilíbrio entre tecnologia e atividade humana é essencial para garantir a qualidade do tratamento”, conclui.

Essas visões ressaltam a importância de unir inovação tecnológica e humanização no atendimento médico, garantindo que os avanços científicos melhorem a experiência do paciente sem comprometer o toque humano, fundamental na prática da medicina.

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