Quem é o ativista brasileiro detido por Israel em missão humanitária a Gaza

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UOL/FOLHAPRESS

Brasiliense, Thiago Ávila é ativista por justiça climática, cofundador do movimento Bem Viver e ex-candidato a deputado federal pelo PSOL. Ele foi detido por Israel a bordo de um barco humanitário que seguia para Gaza.

Comunicólogo de formação, Thiago é um dos principais nomes do movimento ecossocialista no Brasil. Nasceu em Brasília em 1986, tem 38 anos, e define-se como uma “formiguinha revolucionária”. Ficou conhecido por promover mutirões agroecológicos, construir casas com bioconstrução, levantar hortas e escolas em comunidades vulneráveis e lutar contra despejos.

Sua virada política veio ainda jovem, durante uma viagem à Bolívia em 2006, quando presenciou a vitória de Evo Morales. Desde então, passou por experiências marcantes: esteve nos caracóis zapatistas -centros autônomos organizados por indígenas no sul do México-, participou de brigadas em Cuba após furacões, foi observador de eleições na Venezuela, visitou a Palestina e denunciou o que chama de apartheid imposto por Israel.

Durante a pandemia, organizou o “Mutirão do Bem Viver”, que arrecadou R$ 450 mil e distribuiu 6.582 cestas agroecológicas em 101 comunidades. O projeto comprava alimentos de pequenos agricultores e levava comida a famílias em situação de fome em 18 estados do país.

Thiago é fundador do Movimento Bem Viver – inspirado nas filosofias indígenas andinas que propõem uma vida em harmonia com a natureza e sem exploração – e participou da criação dos coletivos Insurgência (2013) e Subverta (2017). Também contribuiu para a chegada do MTST (Movimento de Trabalhadores sem Teto) ao Distrito Federal e defende uma transição sistêmica com base em justiça climática, agroecologia, poder popular e autogestão.

CANDIDATURA POLÍTICA

Thiago participou de duas candidaturas coletivas pelo PSOL, ambas no Distrito Federal, mas não foi eleito. Em 2018, integrou o mandato coletivo 50555, junto com a ativista indígena Airy Galvão, o coordenador do MTST Eduardo Borges e a advogada feminista Nádia Nádila. Em 2022, liderou a candidatura federal “Mandato Bem Viver Thi”, com nove co-candidatos. As experiências não renderam votos suficientes, mas projetaram Thiago como uma das principais referências nacionais em campanhas coletivas.

Ele foi preso duas vezes em 2021 ao tentar impedir despejos de famílias durante a pandemia. É réu em três processos e pode ser condenado por crime ambiental por resistência a reintegrações de posse. Ele afirma: “Fazer uma revolução que acabe com o capitalismo é a única saída para nós e o planeta”.

A missão a Gaza não foi sua primeira: em maio, ele sobreviveu ao ataque com drones a um outro barco humanitário, próximo à costa de Malta. Mesmo abalado, decidiu integrar a nova expedição. O objetivo, segundo ele, era levar não só arroz e fórmulas infantis, mas romper simbolicamente o cerco e chamar atenção internacional para a crise humanitária.

DETENÇÃO POR ISRAEL

Thiago Ávila foi detido por Israel ao tentar furar o bloqueio à Faixa de Gaza a bordo do barco Madleen, interceptado em águas internacionais. A embarcação integrava a Freedom Flotilla Coalition e transportava ajuda humanitária com arroz e medicamentos. Junto com Thiago estavam a ativista sueca Greta Thunberg e outros 10 passageiros. O governo brasileiro exigiu a libertação imediata da tripulação.

Antes do bloqueio, Thiago publicou vídeos em seu perfil no Instagram, que conta com mais de 780 mil seguidores, denunciando possível ataque israelense. Em uma das mensagens, afirmou: “Estamos para ser atacados pelo mais cruel e odioso exército do mundo”. Em outra gravação, ativada após a interrupção do contato, disse: “Se você está assistindo a este vídeo, quer dizer que fui detido ou sequestrado por Israel”.

A mulher do ativista, Lara, divulgou apelo público por sua libertação. “Nós precisamos da ajuda de vocês, que cobrem parlamentares, o Itamaraty, o governo brasileiro”, disse. Ela e Thiago são pais de Teresa, de 1 ano.

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