
Uma audiência pública da Comissão de Infraestrutura do Senado, realizada na terça-feira (27), foi marcada por embates entre a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede-SP), e parlamentares da região Norte, especialmente sobre o projeto de pavimentação da BR-319. A ministra deixou o evento após debate com o senador Marcos Rogério (PL-RO).
A estrada, que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM), é alvo de disputas entre defensores da integração logística da Amazônia e setores que alertam para os impactos ambientais da obra.
O debate se intensificou após críticas do senador Omar Aziz (PSD-AM), que responsabilizou Marina por atrasos em empreendimentos, inclusive pela não execução da BR-319.
Ele relacionou a paralisação da obra a dificuldades enfrentadas durante a crise de oxigênio na pandemia.
Marina negou qualquer responsabilidade pelo tema, lembrando que não ocupava cargo público entre 2008 e 2023 e afirmou que a rodovia não avançou nesse período por dificuldades técnicas e ambientais.
“Tem empreendimentos que mesmo aqueles que queriam que as coisas funcionassem de porteira aberta não fizeram. É o caso da 319. Foram 15 anos em que eu não tinha nenhuma função pública. Por que não fizeram a estrada? Porque não é fácil de fazer. Mas encontraram o caminho fácil, de dizer que a responsabilidade é da ministra Marina”, disse.
A ministra também defendeu a necessidade de uma Avaliação Ambiental Estratégica e mencionou riscos de avanço da grilagem, do garimpo ilegal e do desmatamento.
“Não é ideologia. A estrada aciona grilagem, garimpo ilegal e desmatamento. É preciso governança”, afirmou.
Briga entre Marcos Rogério e Marina Silva

O ponto de maior tensão ocorreu durante o confronto com o senador Marcos Rogério, presidente da comissão. Rogério interrompeu repetidamente a fala de Marina, cortando seu microfone.
A ministra protestou, o que levou Rogério a ironizar: “Essa é a educação da ministra Marina Silva, ela aponta o dedo e…”.
Marina reagiu: “O senhor gostaria que eu fosse uma mulher submissa. Eu não sou”. Rogério retrucou: “Agora é sexismo, ministra? Me respeite, ministra. Se ponha no seu lugar”.
A troca provocou reação imediata da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), que classificou a fala como machista.
Marina respondeu: “O meu lugar é defender o meio ambiente. Esse é o meu lugar. E é um lugar que eu ocupo não por ser ministra, mas por ter compromisso com essa agenda desde que eu me entendo por gente”.
O episódio levou Marina a encerrar sua participação na sessão, após quatro horas de discussões. Antes de sair, foi advertida por Rogério, que anunciou que poderá convocá-la novamente de forma obrigatória.
Outros atritos
Outros senadores também participaram dos embates. Plínio Valério (PSDB-AM), que havia declarado anteriormente que gostaria de “enforcar” Marina, teve sua fala cobrada pela ministra durante a audiência.
“Com a vida dos outros não se brinca. Quem brinca com a vida dos outros ou faz ameaça aos outros de brincadeira e rindo? Só os psicopatas são capazes de fazer isso”, afirmou. Plínio classificou a declaração como uma “brincadeira” e não apresentou retratação.
Aziz também acusou a ministra de apresentar informações ambientais falsas e de agir com falta de ética.
Marina respondeu que cada parlamentar deve assumir sua própria responsabilidade sobre os projetos e recusou ser responsabilizada individualmente pelos obstáculos enfrentados pela BR-319.
A senadora Eliziane Gama e o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), manifestaram apoio à ministra. Carvalho afirmou que a audiência havia se tornado hostil e recomendou que Marina deixasse a sessão.
Conflito
A BR-319, com 885 km de extensão, permanece como foco de impasse entre pressões políticas por sua pavimentação e alertas técnicos e ambientais sobre os riscos de avanço de crimes ambientais.
Governadores da região Norte, como Wilson Lima (AM), apoiam a obra, enquanto o Ministério do Meio Ambiente defende a necessidade de critérios técnicos e mecanismos de controle antes de qualquer avanço.