Estudantes estrangeiros proibidos por Trump de estudar em Harvard pagam mensalidade?

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS)

O governo Trump proibiu a Universidade Harvard de matricular alunos estrangeiros para o próximo ano letivo, que se inicia em setembro. A instituição processa o governo e tenta reverter a medida.

ESTUDANTES INTERNACIONAIS PAGAM MENSALIDADE?

A resposta simples é sim. Estudantes internacionais correspondem a pouco mais de um quarto de todo o corpo estudantil de Harvard; a universidade possui 6.793 estudantes internacionais, 27,2% dos atuais 24.596 matriculados, e eles pagam mensalidade.

Há exceções, contudo, nos casos em que o aluno consegue bolsa parcial ou total. Elas são oferecidas pela própria universidade, por uma instituição parceira ou ainda para quem obtenha subsídio do governo através do FAFSA (Free Application for Federal Student Aid).

Esta candidatura gratuita a auxílio federal, muito concorrida, nem sempre se reflete em dinheiro no bolso, mas muitas vezes em empréstimo bancário para que o aluno custeie os estudos.

Apenas cidadãos americanos ou residentes permanentes têm direito a se candidatar ao auxílio federal. Há exceções a esta regra, contudo, como para refugiados, pessoas que receberam asilo do governo americano, cidadãos haitianos ou cubanos, entre outros.

Atualmente, o custo total de um ano em Harvard para a graduação é de até US$ 95 mil (R$ 540,6 mil) ao ano, estima a universidade. O valor inclui moradia, seguro de saúde, alimentação, transporte e livros. Os alunos ainda pagam à parte o seguro médico obrigatório por cerca de US$ 4.300 (R$ 24,5 mil), caso não estejam inclusos no plano de suas famílias. No caso de alunos de pós-graduação, os valores são variáveis, dependendo do curso.

55% dos alunos em Harvard, americanos ou internacionais, recebe bolsas devido à carência financeira. Um a cada quatro ainda não paga nada para frequentar a universidade, segundo sua administração. Harvard, assim como outras instituições nos EUA, também oferece descontos e até a cobertura total dos estudos de alunos com bolsas atléticas ou por mérito acadêmico.

Número de bolsas dada aos alunos depende da saúde financeira da instituição. Harvard é a universidade mais rica do mundo, mas o número de alunos a que atende com descontos ou gratuitamente é proporcional às doações que recebe de ex-alunos e pais, investimentos de empresas privadas e também do governo, o que pode ser parcialmente impactado pelas más relações com o governo Trump. A medida de agora, apontou o jornal The New York Times, teria o objetivo de afetar a receita da instituição, já que o corte de financiamento federal para pesquisas não teria impulsionado a direção da universidade a ceder às exigências do republicano.

A proibição do Departamento de Educação se estende a todos os alunos estrangeiros com vistos F e M de não imigrante. Eles são destinados àqueles que estão nos EUA somente sob a condição de estudantes ou como intercambistas.

Caso o veto não seja revertido, é possível que a universidade ainda retenha um corpo discente internacional pequeno, que possui visto de residente permanente ou outro tipo de autorização para permanecer e estudar nos EUA. No entanto, a diversidade da produção acadêmica de Harvard, em que diversos projetos contam com a colaboração de pesquisadores internacionais, seria impactada de maneira significativa, especialmente em médio e longo prazo.

O QUE TRUMP QUER DE HARVARD?

Presidente já havia congelado em abril US$ 2,3 bilhões (R$ 13,5 bilhões) de recursos destinados à universidade. Medida, sob a justificativa de combate ao antissemitismo, era manobra de Trump para obrigar instituições a se alinharem à sua agenda política como um todo. Em carta à universidade, o governo federal detalhou medidas que deveriam ser implementadas a partir de agosto de 2025 (e até, pelo menos, o fim de 2028) para receber financiamentos:

Reformas de lideranças da universidade: “dando poder” a professores “comprometidos com as mudanças descritas na carta”;

Reforma de contratações baseadas em mérito: é exigido que acabem medidas de diversidade e inclusão de minorias raciais, étnicas, religiosas, de gênero ou nacionalidade;

Reforma da admissão de alunos internacionais: governo quer que universidade não aceite mais alunos “hostis aos valores norte-americanos”, como aqueles considerados apoiadores de antissemitismo. Trump já deportou estudantes de outras instituições que defendem a integridade de território para a Palestina e pedem o fim da guerra em Gaza.

Esta reforma exigiria que Harvard denunciasse comportamentos de estudantes internacionais ao Departamento de Estado e Segurança Nacional;

“Diversidade de pontos de vista”: Trump elimina a autonomia educacional de Harvard ao proibir a aplicação de testes considerados “ideológicos” para a contratação de professores e funcionários ou para admissão de alunos e exige que haja reforma de cada departamento para que possa incorporar quantidades iguais de membros de opiniões distintas. O texto é deliberadamente vago e pode dar abertura para uma obrigatoriedade de declaração de aliança político-partidária de alunos e professores;

Reforma de disciplina: também são exigidas mudanças no processo de investigação e punição de estudantes que quebram regras no campus e cobra o fim de clubes e associações estudantis pró-palestinos;

Reforma de programas educacionais “antissemitas”: o texto lista uma série de institutos e departamentos da universidade cujos projetos acadêmicos devem ser alterados. Entre eles estão os estudos de Oriente Médio, direitos humanos, cultura e línguas orientais, religião, saúde pública, as faculdades de medicina, direito, educação e a Kennedy School, que ensina política e administração pública;

Reforma para proteção de “dedo-duros”: a carta ainda cobra que aqueles que delatarem ao governo federal quaisquer violações destas exigências estejam protegidos de “ações adversas” ou sanções da universidade;

Exigência de relatórios e monitoramento: a universidade terá que manter o governo atualizado a respeito destas cobranças, ainda de acordo com o documento.

Harvard não se curvou à vontade de Trump. A universidade perdeu muito dinheiro com o primeiro corte, mas é a mais rica dos EUA e a medida não prejudicou sua autonomia. Harvard possuía um fundo de US$ 53,2 bilhões (R$ 312,5 bi) ao fim de 2024. O dinheiro vem de doações de 14.600 fontes diferentes, como ex-alunos, pais e amigos. Em comparação, o custo de operação da universidade foi de US$ 6,4 bilhões (R$ 37,6 bi) em 2024.

Além disso, Harvard recebe dinheiro das altas mensalidades pagas por alunos, o que Trump pretenderia comprometer agora. O relatório financeiro da instituição indica que o governo injeta 11% dos gastos anuais, pagando por pesquisas.

Logo após Harvard negar se curvar às exigências do governo, o Departamento de

Segurança Interna iniciou, em 16 de abril, uma investigação. Em carta à universidade, foram exigidas informações de arquivo da instituição em alunos que têm visto de estudante, com a justificativa de que Harvard “tinha criado um ambiente de aprendizagem hostil para alunos judeus”, segundo o Times. Como a universidade se recusou a oferecer as informações, sua autorização para ter alunos internacionais foi revogada.

Presidente da universidade reafirmou o compromisso da universidade de lutar contra o antissemitismo, mas frisou que exigências de Trump “representam uma regulação governamental direta das condições intelectuais em Harvard”. Ele afirmou que as exigências de auditar os pontos de vista de alunos, professores e funcionários para “reduzir o poder” de alguns por causa de suas opiniões ideológicas não foram aceitas.

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