Romeu e Julieta viram trisal em peça contra o conservadorismo

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Estreia nesta sexta-feira (23), a peça “Romeu, Julieta e Mercúcio”, uma ousada adaptação de Romeu e Julieta que vai tremer as estruturas do teatro tradicional. Dirigida por Bruno Estrela, a montagem leva o clássico shakespeariano para o calor das bodegas nordestinas, onde o brega e o som das “naves” ditam o ritmo da vida. 

Em cena, os Silva e os Oliveira se enfrentam numa guerra de decibéis — mas tudo muda com a chegada do DJ Mercúcio, que remixa o destino e acende um triângulo amoroso com Romeu e Julieta. Um amor improvável, múltiplo, queer e escandalosamente vivo.

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Foto: Divulgação

A peça aposta na subversão não apenas estética, mas também afetiva. A escolha por usar a cultura do brega como fio condutor é, segundo Estrela, uma forma de reparação. “O Brasil não ama sua cultura como deveria. Então não deixa de ser uma reparação também, já que a estética sonora e as narrativas afetivas desse gênero são injustamente subestimadas”, diz. 

A obra lança luz sobre formas de arte popular que há muito tempo são tratadas como inferiores, e só ganham valor quando encostadas a cânones como Shakespeare. Mas o objetivo não é apenas denunciar hipocrisias. Estrela deixa claro que a proposta tem também uma dimensão de encantamento, de prazer e de fuga. 

“É uma crítica, sim, à moral que não se dobra e ao conservadorismo que adora julgar o que mal compreende. Mas há uma dimensão em nosso trabalho que não é política, que só pretende compartilhar a vida diante da arte”, afirma. Para ele, o teatro precisa voltar a ser espaço de lazer e sensibilidade, mesmo quando fala de temas espinhosos.

No enredo, o DJ Mercúcio é mais do que um personagem secundário. Com identidade de gênero fluida e presença magnética, ele é o catalisador de um novo amor que desafia a lógica binária. “Essas pessoas que insistem em rotular as formas de amor, em ridicularizar pessoas como o Mercúcio, ou que querem impedir uma prostituta de falar com Deus, são justamente o alvo da crítica embutida no texto e na encenação”

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Foto: Divulgação/ Bruno Estrela

Na peça, o tema do amor entre três pessoas é abordado “com a sutileza de um martelo e a naturalidade de quem respira”, segundo Estrela. “Não é sobre chocar, mas sobre expor a complexidade dos sentimentos que existem e se recusam a se encaixar no “casal ideal” das novelas. Apenas exibimos a vulnerabilidade, a beleza e a imensa dificuldade de amar em múltiplos, sem pedir permissão ou desculpas”.

Com essa montagem, Bruno assina um manifesto contra o tradicional e o escancara para a plateia. É uma ode ao poder transformador do som, do afeto e da liberdade. Um convite para que o público experimente o amor fora das normas, no volume máximo, porque, às vezes, só o brega salva.

Serviço – “Romeu, Julieta e Mercúcio”
Quando:
23, 24 e 25 de maio às 20h
Onde: Teatro SESC Silvio Barbato (SCS)
Ingressos R$ 20,00 (INTEIRA) e  R$ 10,00 (meia) pelo site

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