Não há evidências de ação em larga escala de espiões no Brasil, diz Lewandowski

RAQUEL LOPES
FOLHAPRESS

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que não há evidências concretas de uma ação em larga escala de espiões russos ou de outras nacionalidades atuando no Brasil.
“Existe um caso isolado que está sob a responsabilidade do STF (Supremo Tribunal Federal). Quando o judiciário decidir, o governo brasileiro tomará a decisão correspondente à decisão da corte”, disse ele.
A declaração foi feita durante uma entrevista coletiva nesta quinta-feira (22), após a cerimônia de abertura da 4ª Reunião da Interpol para chefes de polícia da América do Sul. Participaram da entrevista também o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, e o secretário-geral da Interpol, Valdecy Urquiza.

Na ocasião, o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, afirmou que o caso envolvendo o espião russo agora está sob responsabilidade do Poder Judiciário, cabendo a este dar continuidade ao processo dentro do sistema de justiça.

A Polícia Federal acompanha desde 2022 indícios de que o Brasil vinha sendo sistematicamente usado pela Rússia como um centro para a formação de agentes de inteligência do país governado por Vladimir Putin.

Nesta quarta-feira (21), o jornal americano The New York Times publicou uma reportagem na qual afirma que o Brasil virou uma fábrica para a formação de espiões -e que a PF vem atuando para desmontar essa rede de inteligência.

“A Rússia usou o Brasil como plataforma de lançamento para seus agentes de inteligência mais qualificados, conhecidos como ilegais. Em uma operação audaciosa e de longo alcance, os espiões deixaram para trás seus passados russos. Abriram empresas, fizeram amigos e se envolveram em relacionamentos amorosos -eventos que, ao longo dos anos, tornaram-se os tijolos que construíram identidades totalmente novas”, diz a reportagem.

De acordo com a publicação, as investigações levadas a cabo por autoridades brasileiras e estrangeiras mostraram que ao menos nove oficiais russos operaram sob falsas identidades brasileiras.

Alguns dos acusados de espionagem citados pelo New York Times foram alvo de reportagens da Folha de S.Paulo nos últimos anos, entre eles Serguei Tcherkasov, impedido de entrar na Holanda em 2022 e deportado para o Brasil, onde ainda permanece preso.

Na decisão judicial mais recente sobre o caso de Tcherkasov, de dezembro do ano passado, o ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), negou a substituição da prisão preventiva por medidas cautelares. Ele também condicionou a extradição do russo, conforme pedida por seu país, à conclusão de investigações no Brasil.

A Folha de S.Paulo mostrou em abril de 2023 que investigadores apontavam diversas razões que fizeram do Brasil um centro para a formação de espiões russos.

A facilidade de conseguir uma certidão de nascimento no país e, posteriormente, outros documentos até chegar ao passaporte é um atrativo para as agências de espionagem. Além disso, a boa receptividade do passaporte brasileiro no mundo é apontada como fator importante para o aumento no número de casos de espiões ilegais cujas identidades foram esquentadas, no jargão criminoso, no Brasil.

A PF mapeou transações em dinheiro recebidas pelo suposto espião e chegou em integrantes do governo russo sediados no Brasil.

Em abril de 2024, outra reportagem mostrou que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) tinha descoberto um espião da Rússia em atuação no Brasil que se passava por integrante do corpo diplomático da embaixada de seu país em Brasília.

Serguei Alexandrovitch Chumilov deixou o Brasil após o setor de contrainteligência da Abin identificá-lo como espião de um dos serviços russos de inteligência. Ele atuava para cooptar brasileiros como informantes.

A entidade cultural que abrigava Chumilov no Brasil e agência à qual ela é ligada já foram acusadas nos Estados Unidos e na Europa de usar sua estrutura e funcionários em ações de espionagem.

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