Intervenção psicológica no contexto escolar

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O sucesso da última coluna me motivou a ampliar o debate. Desta vez, o foco é a violência contra a mulher — um tema urgente, complexo e de extrema relevância para a nossa sociedade.

Para tratar dessa pauta com profundidade, conto novamente com a colaboração das professoras Heloisa Vivo, Nathalie Nunes, Ângela Anastácio e Márcia Bicalho, especialistas que enriquecem a discussão com conhecimento e experiência.

A violência contra a mulher ainda é uma realidade alarmante no Brasil. Em 2023, foram registrados, em média, 4,66 feminicídios por dia, totalizando 1.706 casos ao longo do ano. Além disso, mais de 21 milhões de brasileiras relataram ter sofrido algum tipo de violência nos últimos 12 meses — o que representa 37,5% das mulheres com 16 anos ou mais. Esses dados reforçam a necessidade de estratégias preventivas eficazes e articuladas.

A escola, como espaço fundamental de formação social, tem enorme potencial para atuar na prevenção da violência de gênero desde as primeiras fases do desenvolvimento. Intervenções psicológicas com base na Análise do Comportamento, por exemplo, podem contribuir significativamente para a promoção de uma cultura de respeito e equidade.

Segundo dados do IBGE, em 2022, 96% das meninas de 5 anos estavam na escola, superando ligeiramente os meninos, com 95,9%. Essa presença expressiva das meninas no ambiente escolar evidencia a importância de ações educativas que abordem a equidade de gênero e previnam a reprodução de comportamentos discriminatórios desde cedo.

A Análise do Comportamento, fundamentada no behaviorismo radical, oferece ferramentas sólidas para a modificação de comportamentos sociais. Nas escolas, essa abordagem pode ser aplicada para desenvolver repertórios que valorizem o respeito mútuo, a empatia e a resolução pacífica de conflitos.

Estudos mostram que programas de intervenção comportamental no contexto escolar ajudam a reduzir comportamentos agressivos e discriminatórios. Do ponto de vista jurídico, tais iniciativas estão em sintonia com os princípios da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006), que prevê ações educativas como formas de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher.

A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990) também asseguram o direito à educação e à proteção contra toda forma de discriminação, reforçando a urgência de políticas educacionais que promovam a igualdade de gênero desde a infância.

Uma abordagem pedagógica voltada para a formação cidadã deve incorporar a discussão sobre a prevenção da violência de gênero como tema transversal no currículo. Atividades que estimulem o respeito às diferenças, a empatia e a mediação de conflitos de forma não violenta são essenciais para a construção de uma cultura escolar inclusiva e justa.

Essa transformação só será possível com o trabalho conjunto de psicólogos, pedagogos e demais profissionais da educação. A prevenção da violência contra a mulher é um compromisso coletivo — e a escola, como espaço privilegiado de socialização, tem papel central nessa jornada.

Integrar intervenções psicológicas fundamentadas na Análise do Comportamento a políticas públicas e educacionais é um caminho promissor para a construção de uma sociedade mais justa, equitativa e livre de violência.

Até a próxima.

Referências

  • Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Atlas da Violência 2023.
  • Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023.
  • Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As Mulheres do Brasil – 2022.
  • Ministério da Saúde. Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) – 2023.
  • Agência Brasil. Violência nas escolas tem aumento de 50% em 2023.
  • Conselho Nacional de Justiça. Dados sobre violência contra a mulher no Brasil – 2023.
  • BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha).
  • BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
  • SKINNER, B. F. (1953). Ciência e Comportamento Humano.
  • VYGOTSKY, L. S. (1934). A Formação Social da Mente.
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