

Se as autoridades não abrirem os olhos para os movimentos que estão ocorrendo em Roraima, não tardará para que tenhamos um nó muito difícil de ser desatado em um futuro bem próximo. Esses movimentos têm como espinha dorsal a BR-174, que interliga o Estado a Manaus, ao Sul, e à fronteira com a Venezuela, ao Norte. Não são apenas as riquezas que transitam por essa rodovia, mas também as desgraças que mostram seus fortes sinais.
A questão da criminalidade exportada por facções venezuelanas, que estão se apoderando de Boa Vista, com demonstração explícita de violência na disputa por território, vem sendo apontada como o grande desafio na segurança pública. Drogas, armas e bandidos estão vindo no rastro da migração venezuelana, com o crime organizado se aproveitando do esfacelamento econômico e social vivido pela Venezuela nos últimos anos, cuja fronteira norte é a rota de fuga dos desesperados e que atrai a criminalidade.
Em outra ponta, no trecho sul da principal rodovia federal roraimense, não são apenas turistas manauras que chegam em busca de novos roteiros em Roraima. A criminalidade que acossa Manaus, que hoje é a terceira capital mais violenta do Brasil, com uma taxa de 55,7 homicídios por 100 mil habitantes, também exporta crimes para as cidades do Sul de Roraima, especialmente Rorainópolis, que é o município porta de entrada e saída do Amazonas.
Devido à sua proximidade com países produtores de cocaína, como Colômbia, Peru e Bolívia, a capital amazonense chegou ao seu clímax como centro estratégico para o tráfico de drogas. Com o cerco fechado ao garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, a BR-174 voltou a ser a principal rota do tráfico, com criminosos cruzando facilmente a divisa não só para fugir da polícia, mas para estabelecer conexões criminosas, as quais podem facilmente se interligar com o crime vindo da Venezuela.
O novo Comando da Polícia Militar parece ter percebido os sinais vindos dos municípios do Sul de Roraima ao desencadear a Operação Atentos nos municípios daquela região, onde a criminalidade tem tirado o sono daquelas populações que ficam distantes dos centros de tomada de decisão, que ficam em Boa Vista. Se não houver planos estratégicos para aquela realidade, quem vai fugir de lá serão os moradores, submetidos ao crescente tráfico de drogas, prostituição, roubos e furtos, além dos crimes advindos da criminalidade importada de Manaus.
Da mesma forma que o crime pode encrudescer mais ainda na Capital, sob o domínio de criminosos venezuelanos, que não medem consequência ao agir com violência, inclusive dando tiros em locais de grande concentração pública, como ocorreu na Feira do Garimpeiro, no domingo, e seguidas outras vezes na frente da Rodoviária de Boa Vista e nos movimentados comércios na Avenida das Guianas, ambos no bairro 13 de Setembro.
O desenho da geografia do crime está bem explícito. Enquanto isso, no Estado, muitos discursos e trocas de secretários, alguns deles sob investigação ou citados em escândalos, o que acaba mascarando a realidade perigosa que se apresenta a partir da BR-174, adiando decisões políticas importantes que precisam ser tomadas de forma urgente, a fim de desinfectar Roraima, antes que seja tarde demais.
*Colunista
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