Fábrica de espiões russos no Brasil: Como a Polícia Federal desmontou a rede secreta de Moscou

Foto: Polícia Federal/divulgação

Durante anos, o Brasil foi usado como plataforma secreta para a infiltração de agentes da inteligência russa no Ocidente. Sob identidades falsas meticulosamente construídas, oficiais do Kremlin chegaram ao país, assumiram vidas aparentemente comuns — abriram empresas, estudaram, namoraram — e então seguiam para destinos estratégicos como EUA, Europa e Oriente Médio. O plano: infiltrar-se como brasileiros para evitar suspeitas e agir sob cobertura legítima, revelou o The New York Times, em reportagem bombástica.

A operação ruiu após uma complexa investigação da Polícia Federal brasileira, batizada de Operação Leste, que desvendou uma rede de espionagem com ramificações em pelo menos oito países. Ao todo, foram identificados nove agentes russos com cidadania brasileira forjada, parte de um esquema que contava com documentos autênticos — emitidos com base em certidões de nascimento falsas ou adulteradas.

O caso mais simbólico é o de Artem Shmyrev, o “empresário de impressão 3D” no Rio de Janeiro, que vivia com uma namorada brasileira e um gato da raça Maine Coon. Seu nome brasileiro: Gerhard Daniel Campos Wittich. Fluente em português e dono de uma empresa promissora, Shmyrev estava pronto para iniciar sua missão como agente secreto, mas desapareceu pouco antes de ser preso. Com ele, estavam outros nomes como Sergey Cherkasov, que tentou um estágio no Tribunal Penal Internacional com identidade brasileira e acabou preso por uso de documentos falsos.

A Polícia Federal passou anos vasculhando registros de nascimento, documentos eleitorais, passaportes e dados da Previdência para identificar os “fantasmas”: pessoas com documentação oficial, mas nenhum histórico de vida anterior no país. Com apoio de agências como CIA, Mossad e serviços europeus, a investigação cresceu em escala internacional.

Alguns agentes conseguiram escapar para países como Portugal, Uruguai e Namíbia. Mas a ofensiva brasileira deixou um recado claro: o Brasil não seria mais terreno fértil para a espionagem russa. Por meio de alertas na Interpol, os espiões expostos agora têm seus rostos e digitais registrados em bancos de dados internacionais — inviabilizando seu retorno ao campo.

O único preso até agora é Cherkasov, que cumpre pena de cinco anos por falsidade ideológica. Outros agentes, como Shmyrev, sumiram sem deixar rastros — mas não sem deixar para trás sinais de que a Guerra Fria digital do século 21 também passou pelo Brasil.

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