Trump quer R$ 140 bi para lançar sistema antimíssil Domo Dourado

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IGOR GIELOW
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Donald Trump anunciou nesta terça (20) detalhes sobre a implementação do sistema de defesa contra mísseis Domo Dourado, uma criticada iniciativa que segundo o presidente americano custará se aprovada o equivalente a R$ 1 trilhão e estará funcionando ao fim de seu mandato, em janeiro de 2029.

Tanto o valor como o prazo são vistos como bem inexequíveis, levando em conta as projeções atuais sobre o sistema -que, de resto, é visto como duvidoso em termos de eficácia para defender os Estados Unidos de ameaças balísticas mais sérias.

“O próximo orçamento de defesa terá US$ 25 bilhões (R$ 141 bilhões) no ano que vem” para o programa, disse Trump, repetindo um número já conhecido que precisará ser aprovado pelo Congresso ao analisar o orçamento para o próximo ano fiscal, que começa em outubro nos EUA.

É uma enormidade superior a todo o gasto militar anual brasileiro que, se for de fato liberada, fará felizes os vencedores da licitação, que tem em Elon Musk, aliado do presidente, um forte candidato a participar.

O papel de Musk no negócio é questionado pela oposição democrata no Congresso, que abriu um pedido de apuração. Sua empresa SpaceX, líder no setor de foguetes de transporte orbital, é uma das principais concorrentes a ser contratada no processo.

Uma das pessoas mais ricas do mundo, Musk gastou quase US$ 300 bilhões (R$ 1,7 trilhão hoje) para ajudar a eleger Trump. Com o republicano na Casa Branca, tornou-se uma eminência parda que lidera sem cargo formal o processo de cortes do governo, e foi acusado de direcionar políticas públicas para seus interesses privados.

Há outras questões. O Congresso americano elaborou estudo prevendo que o Domo Dourado custaria US$ 500 bilhões (R$ 2,8 trilhões) em 20 anos de implementação. Fica assim incerto o que Trump diz com vê-lo operacional em quatro anos, trabalho que deu a um general da Força Espacial dos EUA, Michael Guetlein.

Não houve ainda detalhamento do programa em si. Trump estava ladeado por duas toscas placas impressas com imagens estilo anos 1980 dos EUA sob ataque de mísseis.

Uma delas atribuía a ele a frase “Este é um mundo muito perigoso”.

PROJETO É OBSESSÃO DE TRUMP

Trump é obcecado pelo tema, tenho prometido na campanha eleitoral de 2024 que levaria a cabo o chamado Domo de Ferro americano, numa referência explícita ao sistema homônimo de Israel. Fiel a seu gosto pela ostentação e exagero, o presidente deu o verniz dourado ao nome do seu projeto. “Nosso sistema é melhor”, disse.

As semelhanças com o famoso domo do Estado judeu param no nome. No caso israelense, o sistema é de baixa altitude, visando derrubar ameaças como drones e mísseis de curto alcance, que proliferam no cenário do Oriente Médio pós-7 de Outubro.

A defesa de média altitude de Israel fica a cargo dos lançadores Funda de Davi, enquanto ameaças de alta altitude são objeto do sistema Flecha. Nenhum deles se propõe a fazer o que o Domo Dourado em tese faria, abater mísseis intercontinentais.

O atual sistema americano de defesa é quase decorativo, com apenas 44 interceptadores para um território 450 vezes maior do que o de Israel e baixa confiabilidade.

Nesse sentido e com a proliferação de tecnologia hipersônica até entre atores não estatais, como os houthis do Iêmen, a preocupação de Trump é válida. Ocorre que, desde que Ronald Reagan sugeriu o Guerra nas Estrelas com o eufemismo Iniciativa Estratégica de Defesa em 1983, cientistas sabem que é dificílimo deter um ataque com dezenas ou centenas de mísseis.

A tecnologia, claro, evoluiu, e é isso que Trump vende. Ele aproveitou o anúncio para dizer que o Canadá, país com quem vive à turras, tem interesse em ser coberto pela defesa presumida do Domo Dourado. A nação já totalmente integrada ao sistema atual de vigilância e defesa aeroespacial da América do Norte, o Norad.

Mas analistas são céticos. Isso dito, seja para valer ou não, a aposta incomoda russos e chineses. Mesmo com a aproximação de Trump e Vladimir Putin acerca da Ucrânia, a Rússia já se manifestou contrária ao projeto.

Nos anos 2000, Moscou trabalhou contra a instalação de um sistema contra mísseis balístico bem mais simples, o Aegis Ashore, que acabou instalado na Polônia e na Romênia para em tese cuidar de ameaças vindo do Irã.

Agora, Moscou diz que o Domo Dourado prevê uma indesejada militarização do espaço, com a instalação de satélites interceptadores armados com lasers e munição cinética.

Trump confirmou que a versão do projeto que quer ver desenvolvida terá essas capacidades.

O Tratado do Espaço Exterior, de 1967, não veta isso, e sim a implantação de armas nucleares fora da Terra -algo que o governo Joe Biden acusou Putin de estar desenvolvendo, o que Moscou negou.

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