Mulheres, crianças e adolescentes são as maiores vítimas de violência e crimes

Roraima tem a maior taxa de homicídios de mulheres e também de estupro no país (Foto: Divulgação)

Quem acompanha as notícias diárias da imprensa tem se deparado com os seguidos casos de feminicídios e tentativas de homicídios contra mulheres, além de estupro de vulnerável e violência contra crianças e adolescentes. A divulgação do Atlas da Violência 2025, na segunda-feira, 12, colocando Roraima como o 5º mais violento do país, também aponta o Estado como um local onde a violência contra as mulheres lidera a taxa de homicídios no país, com 10,4 homicídios de mulheres para cada 100 mil habitantes.

Os dados só reforçam o que foi exposto no 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, que coloca Roraima não apenas como violento para mulheres, mas também para crianças e adolescentes, conforme as estatísticas compiladas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) em 2024. O Anuário aponta 36 homicídios em 2022 e 2023, além de 9 feminicídios nesses dois anos, bem como registra 109 tentativas de homicídio e 42 tentativas de homicídio. Pelas notícias policiais dos últimos meses, a tendência é aumentar o número de casos nos anos seguintes.

Roraima é o Estado com alto número de tentativa de homicídio contra mulheres, crime este que registou um crescimento de 80%, em 2023, um ano no qual a taxa do Estado é uma das mais altas do Brasil (de 8,5, enquanto o a média nacional é de 3,4). É uma realidade desalentadora e que tem se repetido constantemente na crônica policial roraimense, desafiando as autoridades policiais e as instituições que defendem os direitos das mulheres.

Não menos preocupante são as ocorrências de estupro e estupro de vulnerável, cuja média nacional foi de 41,4 por grupo de 100 mil habitantes no ano de 2023, mas 15 estados apresentaram taxas superiores, tendo Roraima encabeçando com a taxa mais elevada, com 112,5 casos por 100 mil habitantes, seguido de Rondônia (107,8), Acre (106,9), Mato Grosso do Sul (94,4) e Amapá (91,7).

A maior taxa de estupro/estupro de vulnerável do país ocorreu em Sorriso (MT), com 113,9 estupros para cada 100 mil habitantes. Localizada no norte do Mato Grosso, a cidade é a Capital Nacional do Agronegócio e o maior produtor individual de soja do mundo. A segunda é Porto Velho, Capital de Rondônia, com taxa de 113,6 vítimas por grupo de 100 mil habitantes. Em terceiro lugar aparece a cidade de Boa Vista, Capital de Roraima, com taxa de 110,5 por 100 mil pessoas. O quarto lugar é da cidade de Itaituba, no Pará, município da região do Rio Tapajós, famosa pelos garimpos de extração de ouro.

No caso da violência física, o cenário dos crimes de maus-tratos assemelha-se ao do crime de estupro, com os estados que mais registraram crimes sexuais sendo também aqueles que mais notificaram casos de maus-tratos: Mato Grosso do Sul, Roraima, Rondônia, Santa Catarina. Conforme os especialistas, essa correspondência parece indicar para uma mesma tendência desses crimes como formas de violência doméstica e intrafamiliar.

A maioria dos estados registrou um aumento na taxa de lesão corporal dolosa em contexto de violência doméstica contra crianças e adolescentes. As maiores taxas foram em Mato Grosso (254,3), Minas Gerais (65,8), Paraná (60,2), Rondônia (70,3), Roraima (68,6) e Santa Catarina (61,3). Seis estados apresentaram uma diminuição na taxa de incidência de estupro de vulnerável por 100 mil habitantes: Amapá (-3,4%), Maranhão (-0,6%), Rio de Janeiro (-5,0%), Rio Grande do Sul (-6,3%), Roraima (-6,9%) e Tocantins (-4,5%). Apesar dessa queda, Roraima lidera entre os estados com piores taxas, com 88,7 casos para cada 100 mil habitantes.

Os dados negativos só reforçam que as instituições e os governos seguem com um grande desafio no enfrentamento a violência contra as mulheres, não só para reavaliar os mecanismos de apoio às vítimas, mas também com efetivação de políticas públicas para garantir o acesso a serviços de saúde, jurídicos e psicossociais. De outro modo, pouco se viu sobre promoção de campanhas de conscientização, a não ser pontualmente no mês dedicado à mulher, e o incentivo a ampliação do diálogo público como ferramentas para incentivar a denúncia de casos de violência. Os números chamam todos a encarar o problema de frente.

*Colunista

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