CÉZAR FEITOZA
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O policial federal Wladimir Soares disse em áudio que fazia parte de uma equipe de operações especiais para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Presidência da República em ação que iria “matar meio mundo de gente”.
A gravação foi encontrada pela Polícia Federal entre os arquivos do celular de Wladimir apreendido pelos investigadores desde novembro. O policial está preso sob acusação de participar da trama golpista de 2022 para impedir a posse de Lula (PT) na Presidência.
Em um dos áudios, Waldimir conta ao advogado Luciano Diniz que um grupo armado do qual fazia parte estava pronto para dar um golpe de Estado assim que o então presidente Bolsonaro assinasse um decreto intervindo contra o resultado das eleições presidenciais.
“Eu estive lá também, né, Lu, eu posso falar para você aqui no privado, morre aqui, eu fiz, eu ia, nós fazíamos parte, fazemos, né, de uma equipe de operações especiais que estava pronta para defender o presidente armado, sabe, e com poder de fogo elevado para empurrar quem viesse à frente”, diz o policial.
Wladimir afirma na gravação que a ação foi abortada porque Bolsonaro foi “traído dentro do Exército”. “Os generais foram lá e deram a última forma, disseram que não iam mais apoiar ele, ou seja, foram na realidade o PT pagou para eles, comprou esses generais”.
“A gente ia com muita vontade, a gente ia empurrar meio mundo de gente, pô, matar meio mundo de gente, tava nem aí já, cara”, diz Wladimir.
O policial também defendeu que a cabeça do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), fosse “cortada” e chamou Bolsonaro de frouxo por não ter enfrentado o tribunal até o fim.
“O Alexandre de Moraes realmente tinha que ter tido a cabeça cortada quando ele impediu o presidente de colocar um diretor da Polícia Federal, né, o Ramagem. Tinha que ter cortado a cabeça dele, era ali, você tá entendendo? Mas não fez, foi frouxo, entende, cara? E tentou fazer tudo direitinho, quatro linhas, não sei o que e só se ferrou.”
A gravação do policial federal intercala notícias falsas com conspirações relacionadas à terceira gestão de Lula (PT) na Presidência da República. Ele diz que Moraes tinha um acordo com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) para derrubar o petista do Palácio do Planalto.
Wladimir ainda diz que Bolsonaro deixou o país e viajou aos Estados Unidos às vésperas da posse de Lula porque Moraes emitiria um mandado de prisão contra o ex-presidente.
Para a Polícia Federal, as novas provas obtidas contra Wladimir Soares reforçam que o policial foi “arregimentado e integrou a organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado e abolir violentamente o Estado Democrático de Direito em 2022”.
“O indiciado admitiu em mensagem de áudio que integrava uma equipe de operações especiais, que estava pronta para defender o então presidente Jair Bolsonaro, com um poder de fogo elevado para, em suas próprias palavras, ‘empurrar quem viesse à frente'”, diz a PF no relatório enviado ao Supremo.
Wladimir foi denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) por participação na trama golpista. Ele foi incluído no núcleo composto por militares que, segundo a acusação, iniciaram ações para assassinar o ministro Alexandre de Moraes.
A Primeira Turma do STF decide na próxima terça-feira (20) se recebe ou rejeita a denúncia contra Wladimir e os militares acusados pela trama golpista. A tendência é que os ministros acolham a acusação, transformando os denunciados em réus.