Atlas da Violência: 18 mulheres foram vítimas de homicídio em 2023 e taxa por 100 mil habitantes é a menor em 10 anos


Estudo não diferencia feminicídios e considera as mortes violentas em geral. Mais de 80% das vítimas eram mulheres negras. Quase 300 mulheres foram vítimas de homicídio no Acre desde 2013
Aline Nascimento/g1 AC
Em 2023, pelo menos 18 mulheres foram vítimas de homicídio no Acre. Foi o que constatou o Atlas da Violência, estudo produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e divulgado nessa segunda-feira (12).
Este número representa uma queda na comparação com o ano anterior, que teve 23 casos, e a taxa de casos a cada 100 mil habitantes foi a menor em 10 anos: 3,8, ainda levemente acima do índice de nacional, que se manteve em 3,5. O estudo não diferencia feminicídios e considera as mortes violentas em geral.
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Entretanto, o resultado também trouxe uma constatação grave: 15 das 18 vítimas eram mulheres negras. (Entenda mais abaixo)
O atlas chama atenção para três recortes temporais: entre 2022 e 2023, de 2018 a 2023, e entre 2013 e 2023. Na maioria dos períodos o Acre aparece com quedas acentuadas.
No primeiro, a queda foi de 21,7%, saindo de 23 mortes. No segundo o percentual teve a maior redução: 48,6%, saindo de 35 homicídios. Já no último, a queda foi de 32%.
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Homicídios femininos no Acre
“Destaques interessantes ainda ficam por conta dos estados do Acre e de Goiás: tanto no último ano (2022 a 2023), como nos últimos cinco anos (2018 a 2023) e nos últimos 11 anos (2013 a 2023), ambos os estados estão entre os que tiveram diminuição mais expressiva da taxa de homicídio feminino”, avaliou o estudo.
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80% das vítimas eram negras
Das 18 mulheres vítimas de homicídio no Acre em 2023, 15 eram negras, o que significa uma morte a menos que em 2022, quando foram 16. Já no recorte da década anterior, os homicídios de mulheres negras tiveram uma queda de 48,3% entre 2013 e 2023, saindo de 29 casos.
O pico foi registrado em 2018, quando 29 mulheres negras foram vítimas de homicídio. Daquele ano, a queda foi de 46,4%.
Homicídios de mulheres negras no Acre
De 2013 a 2023, 291 mulheres foram vítimas de homicídio ao todo no Acre. Do total, 233 eram negras. O índice equivale a 80% do número de mortes violentas.
“As desigualdades raciais na letalidade feminina também se refletem na distribuição proporcional dos homicídios de mulheres negras e não negras em relação à sua representatividade populacional. Em 22 dos 27 estados brasileiros, isto é, em 88,0% do território nacional, observa-se uma sobrerrepresentação de mulheres negras entre as vítimas”, considerou o levantamento.
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Homicídios em queda
Com 217 mortes violentas em 2023, o número de homicídios teve redução de 8,8% na comparação com 2022 no Acre. O resultado representa o terceiro ano consecutivo de redução no estado, apesar de três anos seguidos com mais de 200 casos de mortes intencionais.
Destes 217 homicídios, 199 vítimas foram homens e 18 foram mulheres.
O índice também mantém o estado acreano acima da média nacional, que é de 21,2 mortes a cada 100 mil habitantes. No Acre, a média ficou em 23,7.
Número de homicídios no Acre
Ainda segundo o Atlas, o estado também teve diminuição na série histórica analisando os recortes de cinco e 10 anos atrás.
Entre 2018 e 2023, a queda foi de 47%, e no período de 2013 a 2023 a redução foi de 7,3%. O pico foi de 516, registrado em 2017.
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Outra conclusão que a pesquisa traz é de que a taxa de homicídios no Acre a cada grupo de 100 mil pessoas também reduziu, de 26,4 em 2022 para 23,7 em 2023. A taxa é a menor da região Norte, apesar de estar levemente acima do índice nacional.
Além disso, o estudo também considera o número de homicídios estimados, ou seja, o total com a adição de casos que possam ter escapado dos registros oficiais. Nesta análise, o Acre apareceu com 229 homicídios.
A diferença de 12 casos surge como homicídios ocultos, medida utilizada pela pesquisa para ajustar possíveis distorções.
“Neste Atlas da Violência 2025, como realizado nas últimas edições, buscou-se retratar a violência no Brasil principalmente a partir dos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde. No entanto, na base de dados do SIM, verificou-se um importante aumento das Mortes Violentas por Causa Indeterminada (MVCI) a partir de 2018, o que prejudica a análise sobre as mortes violentas perpetradas de maneira intencional. Para contornar esse problema, Cerqueira e Lins (2024 a,b) produziram dois estudos a fim de avaliar a qualidade desses dados, e ainda de estimar, por meio de metodologia de machine learning, o número de homicídios erroneamente classificados com MVCI, chamados aqui de ‘homicídios ocultos’”, afirma o estudo.
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Arte g1
Avanço de políticas de segurança mais eficazes e a chamada “revolução invisível”
O Atlas da Violência atribui a queda de homicídios a uma “revolução invisível” na segurança pública brasileira. Essa mudança, que substitui o policiamento ostensivo por gestão por resultados, inteligência policial e programas de prevenção multissetoriais, foi implementada em alguns estados.
Entre os exemplos estão programas como o “Estado Presente” no Espírito Santo, o “Paraíba Unida pela Paz”, o “Viva Brasília – Nosso Pacto pela Vida” no Distrito Federal e o “Territórios da Paz” no Pará.
A adoção desses modelos reforça a eficácia de políticas que combinam prevenção, inteligência e participação comunitária.
“Em resumo, evidencia-se que na década passada o Brasil despertou para a necessidade de mudar a forma de fazer segurança pública, de uma maneira inercial, baseada no improviso e centrada meramente no policiamento ostensivo, para um paradigma baseado em planejamento e boa gestão orientada por resultados e pelas evidências quanto ao que funciona”, diz trecho do relatório.
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