JORGE ABREU
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
A mata atlântica apresentou redução no desmatamento em 2024, seguindo a tendência de queda dos últimos anos. Contudo, para ambientalistas, os resultados positivos ainda são tímidos e apresentam uma preocupação diante dos efeitos das mudanças climáticas.
Os dados foram divulgados nesta segunda-feira (12) pela Fundação SOS Mata Atlântica e se baseiam em dois levantamentos: o Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, realizado pela organização em parceria com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), e o SAD (Sistema de Alertas de Desmatamento), da rede colaborativa MapBiomas.
Realizado desde 1989, o Atlas detecta áreas superiores a três hectares de florestas maduras, que correspondem a 12% do bioma original. Por esse critério, o desmatamento caiu 2% –de 14.697 hectares em 2023 para 14.366 em 2024.
Já o SAD tem uma abrangência mais ampla, sendo capaz de detectar desmatamentos a partir de 0,3 hectare em florestas em diversos estágios de recuperação, que ocupam 24% da área total do bioma. Por essa metodologia, foram 71.109 hectares desmatados em 2024 frente a 82.531 hectares do ano anterior, ou seja, uma queda de 14%.
Luís Fernando Guedes Pinto, diretor executivo da Fundação SOS Mata Atlântica, afirma que a maior parte do desmatamento ocorre em áreas privadas, em fazendas. Segundo ele, é urgente ampliar o foco da proteção ambiental, inclusive em unidades de conservação.
“A principal pressão sobre a mata atlântica é a expansão da agropecuária. Então, mais de 90% da área desmatada é desmatada para a expansão da agropecuária, tanto de pastagens quanto de culturas agrícolas”, frisou.
Guedes Pinto destaca que os índices negativos de desmatamento tiveram a forte contribuição dos desastres naturais registrados no Brasil, como o caso da enchente histórica do Rio Grande do Sul, em maio do ano passado. Ou seja, os eventos climáticos passam a ser vetores de pressão também.
“É cada vez mais urgente alcançar o desmatamento zero e restaurar a mata atlântica em grande escala para evitar desastres naturais que afetam não só a própria natureza, como também a economia, o bem-estar, a prosperidade, entre outras perdas sociais e econômicas”, disse.
Guedes Pinto afirma que a “geografia do desmatamento” é de conhecimento público e 90% do total concentra-se nos estados da Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Piauí. Para ele, as penalizações e ações preventivas devem ser mais severas para evitar perdas maiores.
“Os governos devem penalizar para acabar com esse cenário de desmatamento ilegal. Além disso, os bancos também estão tendo acesso aos alertas de desmatamento e estão, aos poucos, cortando o crédito de quem faz desmatamento ilegal.”
A Bahia mais uma vez lidera o ranking estadual, com 23.218 hectares desmatados registrados pelo SAD. Embora o total tenha caído 37% em relação ao ano anterior, a destruição de matas maduras do estado quase dobrou: passou de 2.456 para 4.717 hectares (aumento de 92%).
No Piauí, a área total desmatada cresceu 44%, chegando a 26.030 hectares, enquanto a supressão de matas maduras diminuiu.
O Paraná, apontado como um dos estados mais críticos, reduziu o desmatamento de matas maduras em 64%.
Já o Rio Grande do Sul teve perda de 3.030 hectares, com impacto de eventos climáticos extremos. Ocorrências do tipo também afetaram áreas protegidas nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, evidenciando a vulnerabilidade das unidades de conservação diante das mudanças climáticas.