SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O pior conflito em mais de duas décadas entre Índia e Paquistão, iniciado nesta terça-feira (6), não dá sinais de arrefecimento. Nesta quarta (7), novos ataques aéreos de Nova Déli contra o país vizinho, além de fogo de artilharia na disputada região da Caxemira, elevaram o número total de mortos para 31 do lado paquistanês e 12 do lado indiano, de acordo com autoridades dos países.
A Índia diz ter destruído nove “campos terroristas” no Paquistão, que fala em 31 mortos, incluindo duas crianças, e 46 feridos no bombardeio. Os ataques indianos incluíram alvos no Punjab, a província mais populosa do Paquistão, que há mais de 50 anos, desde a última guerra em larga escala, não era atacada.
“Os alvos que havíamos estabelecido foram destruídos com exatidão, de acordo com uma estratégia bem planejada”, disse o ministro da Defesa da Índia, Rajnath Singh, ao negar a morte de civis e o relato paquistanês. “Demonstramos sensibilidade ao garantir que nenhuma população civil fosse afetada, nem de longe.”
Nova Déli afirma ainda que fogo de artilharia do país vizinho também fez vítimas -pelo menos 12 mortos e 38 feridos na cidade indiana de Poonch.
A crise atual teve início no último dia 22, quando um atentado terrorista cometido por um grupo armado que luta pela independência da Caxemira indiana matou 26 pessoas, a maioria hindus. A Índia culpou o grupo jihadista Lashkar-e-Taiba (LeT), sediado no Paquistão, embora ninguém tenha assumido a autoria do ataque.
A organização, designada como terrorista pela ONU, é suspeita de realizar ataques em Mumbai que deixaram 166 mortos em 2008.
Apesar de descrever os ataques desta semana como uma retaliação exitosa ao atentado, a Índia pode ter sofrido baixas durante a ação. Crescem as evidências de que pelo menos duas aeronaves teriam caído na Índia e no lado da Caxemira controlado pela Índia, de acordo com três autoridades, reportagens locais e relatos de testemunhas que viram os destroços de duas delas.
Uma autoridade indiana confirmou ao jornal americano The New York Times a queda de três aeronaves, mas afirmou que as razões não estavam claras. Duas outras autoridades de segurança indianas confirmaram relatos de que algumas aeronaves indianas haviam caído, mas não deram mais detalhes.
À agência de notícias Reuters, funcionários do governo da Caxemira indiana também disseram que três caças caíram em áreas distintas da região do Himalaia e que os três pilotos foram hospitalizados. Todos falaram sob condição de anonimato para discutir detalhes da ação militar.
Do lado paquistanês, o Exército disse que 57 aviões comerciais foram atacados pelos indianos, o que teria colocado milhares de vidas em risco. O primeiro-ministro paquistanês afirmou que a Índia deve “sofrer as consequências” por ataque covarde.
A Caxemira é uma região de maioria muçulmana dividida entre a Índia e o Paquistão, que disputam o local desde que eles conquistaram a independência do Reino Unido, em 1947. O ataque foi seguido por dias de trocas de tiros com armas de pequeno porte na fronteira entre os dois países.
O Paquistão também possui maioria muçulmana (96% da população), enquanto na Índia os hindus formam o principal grupo religioso (com cerca de 80%).
Em meio à violência, o Comitê de Segurança Nacional do Paquistão pediu à comunidade internacional nesta quarta que “reconheça a gravidade das ações ilegais e injustificadas da Índia e a responsabilize” por violar o direito internacional.
Desde 1989, a região da Caxemira é palco de uma insurgência daqueles que buscam independência ou anexação ao Paquistão e que, segundo Nova Déli, têm o apoio do país vizinho. A tensão crescente é especialmente preocupante por envolver dois países que têm armas nucleares.
“O mundo não pode se dar ao luxo de um confronto militar entre a Índia e o Paquistão”, disse Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres. O secretário de Negócios britânico, Jonathan Reynolds, ofereceu a mediação do Reino Unido em eventuais conversas.
Os Estados Unidos, a China e a Rússia, por sua vez, pediram moderação de ambos os lados.
O presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou nesta quarta-feira querer que Índia e Paquistão parem de se atacar. “Quero ver isso parar. E, se eu puder fazer algo para ajudar, estarei à disposição”. Um porta-voz diplomático chinês estimulou “paz e estabilidade”. “Mantenham a calma e evitem ações que possam complicar ainda mais a situação”, afirmou. A Rússia pediu “contenção para evitar maior deterioração” da situação.