ANDRÉ FONTENELLE
ROMA, None (FOLHAPRESS)
Dezesseis dias após a morte de Francisco, o conclave que vai eleger seu sucessor começou oficialmente. Às 12h45 (17h45 em Roma) desta quarta-feira (17), o mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, o arcebispo italiano Diego Giovanni Ravelli, proclamou o ‘extra omnes’ (todos fora), ordenando que todos os que não participam da eleição deixassem a Capela Sistina. Depois, ele fechou as portas da capela, marcando o início do processo.
Mais cedo, às 11h15 (16h15), os 133 eleitores se reuniram na Capela Paulina, de onde sempre parte a processão dos cardeais para a Capela Sistina. Ambas são construções renascentistas com afrescos de Michelangelo.
Os cardeais seguiram em procissão à Sistina para a primeira votação. Lentamente, entoando hinos litúrgicos, ocuparam seus postos à mesa onde cada um escreverá o nome de seu favorito.
Em cada posto há um Evangelho, um exemplar da Constituição Apostólica “Universi Dominici Gregis” (“Do Inteiro Rebanho do Senhor”), espécie de “código eleitoral” do conclave, uma caneta e uma pasta vermelha.
Em seguida, o cardeal Pietro Parolin, um dos principais papáveis, pronunciou uma breve oração.
Um dos primeiros da procissão foi monsenhor Ilson de Jesus Montanari, paulista, vice-camerlengo e secretário do Colégio de Cardeais. Ele participa do rito de ingresso na capela, mas não vota no conclave, por não ser cardeal.
A previsão é que por volta das 14h (19h) o primeiro sinal de fumaça, preta ou branca, saia da chaminé instalada na semana passada no telhado da Capela Sistina. Não se espera que haja fumaça branca nesta primeira sessão de votação.
Um dos últimos cardeais a se manifestar publicamente antes do isolamento total foi o arcebispo de Santiago do Chile, Fernando Chomali. Ele postou um vídeo lavando uma camisa branca, “para chegar impecável ao conclave”. “Hoje entro no conclave sem celular. Só diante de Deus se pode votar em quem será o papa”, publicou.
O francês Jean-Paul Vesco, arcebispo de Argel, considerado uma das possíveis surpresas do conclave, fez um post no Facebook. “Esta noite, entrada em silêncio no conclave, estou tão ansioso! Essa instituição arcaica do século 11 se revela de uma incrível modernidade nos tempos de supermediatização, de redes sociais, de nossos vícios digitais. Nada de telefone nem de internet, as janelas de nossos quartos são seladas… Sairemos com a proclamação ‘Habemus papam!’. Que aventura, em todo caso! Eu confio a mim e a nós a suas orações.”
Com as portas fechadas, o cardeal italiano Raniero Cantalamessa, 90, pregador emérito da Casa Pontifícia, fará a segunda meditação aos cardeais eleitores, na presença de Ravelli. Depois disso, ambos deixam a capela, junto com os cerimoniários (funcionários do Vaticano que auxiliam no processo). A partir de agora, os cardeais votantes terão de ficar em isolamento com o mundo exterior até chegarem a um consenso de dois terços dos votos e elegerem o pontífice.
Mais cedo, os cardeais participaram da missa “Pro Eligendo Pontifice” (para a eleição do pontífice) , que começou às 5h (10h locais) desta quarta-feira (7), na Basílica de São Pedro. A celebração foi conduzida pelo decano do Colégio Cardinalício, Giovanni Battista Re, 91, o mesmo cardeal que presidiu a cerimônia do funeral de Francisco, no dia 26 de abril. Na cerimônia, os religiosos que votam no conclave pediram orientação espiritual para a votação na Capela Sistina.
Agora, o mundo volta sua atenção para a primeira votação, que deve ocorrer ainda nesta tarde (início da noite em Roma). Não é esperado que haja um eleito já nesta sessão. Nos dois últimos conclaves, em 2005 e 2013, Bento 16 e Francisco foram escolhidos na 4ª e na 5ª votações, respectivamente, ambos no segundo dia de confinamento dos cardeais. Na eleição de 2005, a primeira fumaça preta saiu às 14h58 de Brasília. Em 2013, o sinal de que a votação inicial não chegou a um vencedor ocorreu um pouco mais tarde, às 15h41.
A partir do segundo dia de conclave, são duas votações no turno da manhã e duas no período da tarde/noite. Se a primeira votação de cada turno não eleger um candidato, a seguinte começa imediatamente.
Caso esta também termine sem ninguém alcançar dois terços dos votos, as cédulas de cada cardeal das duas sessões são queimadas juntas. Ou seja, a fumaça preta só aparece uma vez. Isso também vale para o turno da tarde/noite. Isso quer dizer que, se nas quatro votações não houver um eleito, a fumaça preta só aparecerá duas vezes naquele dia.