JULIA CHAIB
WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS)
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (6) que nada que o Canadá dissesse poderia alterar o rumo das tarifas de 25% impostas ao país vizinho.
A declaração foi dada ao lado do premiê canadense, Mark Carney, que visitou a Casa Branca para o primeiro encontro presencial com Trump.
“É como as coisas são”, respondeu o republicano após ser questionado sobre a razão de não abrir espaço para mudar por ora as tarifas canadenses.
Trump também propôs renegociar o acordo EUA-México-Canadá (USMCA, na sigla em inglês), que foi o principal tratado do seu primeiro mandato, incentivando o livre comércio entre as nações.
Carney propôs o mesmo, dizendo que o presidente americano se aproveitou de brechas no trato para impor tarifas às duas nações vizinhas.
“Vou dizer uma palavra sobre o USMCA, se me permite. Ele é uma base para negociações mais amplas. Algumas partes dele vão precisar mudar. E parte da forma como o senhor conduziu essas tarifas se aproveitou de aspectos existentes do USMCA, então isso vai ter que mudar”, disse Carney.
Mais tarde, o primeiro-ministro canadense foi questionado se confiaria num novo acordo comercial proposto pelos EUA já que Trump não teria respeitado o atual, o premiê disse que isso seria observado durante as negociações.
Trump tem afirmado ao longo das últimas semanas que muitos países o procuraram em busca de acordos em torno das tarifas. O presidente afirmou inclusive que seus auxiliares estariam já em conversas com a China.
Nesta terça, porém, ele mudou o tom que vinha adotando e reclamou das constantes perguntas sobre quantos e quais acordos ele anunciaria.
“Eu queria que parassem de perguntar quantos acordos vamos assinar esta semana.”
“Não precisamos assinar acordos. Poderíamos assinar 25 acordos agora mesmo, Howard, se quiséssemos. Não precisamos”, disse Trump, dirigindo-se ao secretário de Comércio, Howard Lutnick, que também estava no Salão Oval.
O presidente americano reforçou que “eles”, os países, é que querem assinar acordos com os EUA.
“Eles querem o nosso mercado. Nós não queremos uma parte do mercado deles. Não nos importamos com o mercado deles.”
Os EUA impuseram em 2 de abril sobretaxas recíprocas elevadas a cerca de 60 países e uma linear de 10% ao restante das nações.
Depois, o presidente recuou e decidiu aplicar apenas os 10% a todos os países durante 90 dias, exceto pela China. Os produtos chineses recebem uma tarifa mínima de 145%, podendo chegar a 245% no caso de seringas.
Nesta terça, Trump admitiu que isso inviabiliza o comércio e que os navios chineses estão “dando meia-volta”, mas afirmou que a China quer negociar.
O Canadá e o México se enquadram num bloco diferente de tarifas, que são as sobretaxas ligadas à tentativa de bloquear o tráfico de fentanil.
Por isso, o Canadá recebe 25% de tarifas sobre boa parte dos seus produtos, que não se enquadram nas regras de origem do acordo USMCA. No caso de energia, recursos energéticos e potássio importados do Canadá, mas também fora do escopo do USMCA, a tarifa aplicada é de 10%. Canadá também recebe 25% de tarifas sobre automóveis, aço e alumínio.
Em contrapartida, o Canadá impôs uma tarifa de 25% sobre US$ 30 bilhões a produtos americanos, como suco de laranja, cerveja, café, eletrodomésticos e outros.
O Canadá também impôs tarifas recíprocas de 25% sobre uma lista de produtos de aço no valor de US$ 12,6 bilhões e produtos de alumínio de US$ 3 bilhões. Há também outros US$ 14,2 bilhões em bens com sobretaxas, que dão o total de US$ 29,8 bilhões.
Todos os veículos dos EUA que estão fora do acordo comercial também passaram a ser taxados em 25% como resposta às medidas de Trump.