SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Um apagão de grandes proporções atingiu partes da Europa, especialmente Espanha e Portugal, no horário de almoço desta segunda-feira (28), gerando caos no transporte público, no sistema de saúde e na indústria desses países e derrubando o sinal de celular por mais de uma hora nas capitais. Houve relatos de problemas também nas redes de energia da França, porém em menor proporção.
Mais de seis horas depois, o sistema de energia havia retornado em apenas algumas regiões dos dois primeiros países. Na Espanha, partes de Galícia, País Basco e Catalunha tinham recuperado a eletricidade, enquanto municípios na região de Madri começavam a recuperar o sinal de internet.
Em Portugal, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, pediu paciência e afirmou que a rede será restabelecida “nas próximas horas”.
Dados da Rede Elétrica da Espanha reunidos pelo El País mostram uma queda brusca no consumo às 12h25 locais (7h25 no Brasil). Nesse horário, a demanda caiu pela metade em menos de uma hora. Na França, país menos afetado entre os três, a operadora RTE disse que houve uma breve interrupção, mas que a energia foi restaurada rapidamente.
Logo após o apagão, o Incibe (Instituto Nacional de Cibersegurança da Espanha) afirmou que estava verificando se a falta de luz havia sido um ciberataque -possibilidade levantada também pelo ministro Adjunto e da Coesão Territorial português, Manuel Castro Almeida, em entrevista à emissora RTP 3.
A hipótese deu origem até mesmo a uma notícia falsa de que o corte de energia se devia a um ataque russo. Ao longo da tarde, porém, a possibilidade de uma sabotagem perdeu força -o presidente do Conselho Europeu, o português António Costa, afirmou que, até aquele momento, não havia indícios de que o apagão generalizado fosse resultado de um ciberataque.
A teoria que vem ganhando tração mais a ver com questões climáticas. A REN (Redes Energéticas Nacionais), responsável pela distribuição de energia em Portugal, afirmou que um fenômeno atmosférico raro na Espanha, produzido por variações extremas de temperatura no interior do país, causou o apagão.
A empresa disse ainda que a restauração completa da rede elétrica do país pode levar até uma semana, embora Montenegro tenha falado em um restabelecimento dentro de algumas horas.
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, fez um apelo para que não se especulasse, mas não descartou nenhuma hipótese. “Ainda estão estudando as causas”, afirmou ele no Palácio da Moncloa. O líder pediu ainda que a população reduza ao máximo seus deslocamentos e limite o uso de seus celulares somente para o que for “estritamente necessário”.
Ele disse também que o funcionamento das centrais hidrelétricas havia sido restabelecido, sem se comprometer, no entanto com um prazo para o retorno à normalidade.
Ao longo do dia, trechos do metrô de Madri foram esvaziados e a circulação ferroviária foi interrompida em todo o país. Em Atocha, por exemplo, uma das principais estações ferroviárias da cidade, os passageiros esperavam nas plataformas com os trens parados. Quem se locomovia com carro não era poupado, já que enfrentava congestionamentos devido à falta de semáforos em funcionamento.
Ana Cordero, uma turista de Porto Rico, estava saindo de Madri para Barcelona quando a energia falhou. Ela e seu namorado ficaram presos no trem por três horas. “Depois de cerca de uma hora, a bateria de emergência do trem acabou e então acabou, nem banheiros não funcionavam mais”, disse ela. “É tão estúpido, porque tudo era eletrônico, até para lavar as mãos.”
Centenas de pessoas estavam do lado de fora de edifícios de escritórios nas ruas da capital espanhola, onde havia uma forte presença policial ao redor de edifícios importantes, dirigindo o tráfego e também conduzindo veículos ao longo de átrios centrais com luzes, segundo uma testemunha da agência de notícias Reuters.
Nas redes sociais, um usuário compartilhou uma cena em que passageiros saem de um trem e andam sobre os trilhos no Monte Archanda, em Bilbau, cidade no norte da Espanha.
O apagão afetou até mesmo uma partida de tênis. O ATP Masters 1000, um dos principais torneios de tênis do mundo que ocorria em Madri, foi suspenso. O italiano Matteo Arnaldi, que surpreendeu Novak Djokovic no sábado (26), estava vencendo o bósnio Damir Dzumhur quando o jogo foi interrompido. O apagão também obrigou o búlgaro Grigor Dimitrov e seu adversário britânico Jacob Fearnley a saírem da quadra.
“Duas partidas de simples e uma de duplas no evento ATP Masters 1000 estavam em andamento quando a energia foi perdida às 12h34, horário local”, disse a ATP em seu site oficial. “Estamos trabalhando para restaurar a normalidade o mais rápido possível”, publicou a conta do Open de Madrid no X.
O temor de que o apagão se estenda por muito tempo fez alguns madrilenhos estocarem comida. As prateleiras de um supermercado na capital estavam vazias enquanto pessoas tentavam estocar água, ovos e leite e formavam longas filas.
“Saí do trabalho, de repente acabou a energia e as pessoas começaram a comprar”, disse Joanly
Perez, uma médica de 33 anos em Madri. “As pessoas não têm certeza do que pode acontecer e estão comprando itens essenciais básicos, só por precaução.”.
Tanto em Portugal quanto na Espanha, diversos hospitais tiveram que restringir suas operações.
Na capital espanhola, a queda de energia paralisou sistemas internos do Doce de Octubre, que suspendeu consultas e cirurgias agendadas e limitou o atendimento a procedimentos urgentes e extraordinários.
A polícia portuguesa afirmou que os semáforos foram afetados em todo o país, e, em Lisboa e no Porto, o metrô foi fechado. Há diversos relatos na imprensa sobre bancos sem funcionar e lojas fechadas nessas duas cidades, as maiores de Portugal, incluindo o histórico mercado do Porto. A ANA, empresa responsável pelos aeroportos do país, afirmou que os geradores de emergência foram acionados.
“Nos aeroportos de Faro e do Porto estão a fazer-se todas as aterragens e descolagens, com recurso a energia de gerador, enquanto em Lisboa estão também a acontecer aterragens e descolagens, mas com maior limitação”, disse a empresa, segundo o jornal Público.
A REN, de Portugal, confirmou o corte de eletricidade em toda a Península Ibérica e afirmou que os planos para a restauração do fornecimento de energia estão sendo ativados. “A REN está em contato permanente com entidades oficiais, nomeadamente a Autoridade Nacional de Proteção Civil. Ao mesmo tempo, as possíveis causas deste incidente estão sendo avaliadas”, afirmou a companhia.
A empresa afirmou também que suas equipes estão em ação para retomar o fornecimento a pontos de consumo prioritários, como hospitais, forças de segurança, aeroportos e infraestruturas ferroviárias e rodoviárias.
A Aena (Aeroportos Espanhóis e Navegação Aérea), que administra 46 aeroportos na Espanha, relatou atrasos de voos em todo o país.
O tráfego aéreo nos aeroportos espanhóis está operando normalmente, exceto por uma redução de 20% devido a precauções de segurança relacionadas às telecomunicações, de acordo com o El País. Os aeroportos das Ilhas Baleares e Canárias não foram afetados pelos cortes de energia, e os demais estão operando com geradores, de acordo com o governo.
O impacto da falta de energia na população fez os governos de ambos os países se movimentarem.
O governo de Sánchez formou um gabinete de crise na sede da Rede Elétrica para lidar com a situação; em Portugal, o governo anunciou uma reunião extraordinária dos ministros na residência oficial do primeiro-ministro, segundo o Público.