O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta segunda-feira, 28, que o Comitê de Política Monetária (Copom) foi “feliz” na última comunicação, pois tanto a ata quanto o comunicado passaram “bem” por esses últimos 45 dias. A comunicação do Copom foi “especialmente feliz” ao comentar três pontos, segundo o presidente do BC: a dinâmica corrente da inflação, que permanece acima da meta e com expectativas desancoradas; a defasagem que a política monetária apresenta e o que foi feito no passado; e a ampliação da incerteza que demanda flexibilidade e cautela.
“As mensagens do último ciclo de comunicação do Copom continuam vigentes”, disse Galípolo, no evento J. Safra Macro Day 2025, em São Paulo.
O presidente do BC destacou ainda que o comunicado do Copom foi aberto mencionando a incerteza do cenário internacional, principal da política norte-americana.
Mencionou também que foram “felizes” ao alterar o balanço de riscos em janeiro, que já sinalizava muitos dos cenários que acabaram ficando mais claros depois.
Desafio estrutural de normalizar a política monetária
No mesmo evento, Galípolo repetiu que a autarquia terá o desafio de “normalizar” a política monetária. Ele voltou a citar a percepção de que os canais de transmissão do Brasil podem ser menos eficientes do que os de pares, o que demanda juros mais altos no País.
“É estranho você entender como é que uma economia segue apresentando níveis de dinamismo tão elevados com um nível de taxa de juros que para qualquer outro tipo de economia seria entendido como um patamar bastante restritivo”, disse Galípolo. “Isso me parece sugerir que a fluidez dos canais de transmissão da política monetária no Brasil não funciona como funciona em alguns dos nossos pares.”
O presidente do BC repetiu que esse problema não será resolvido com uma “bala de prata”, mas demandará a realização de reformas estruturais. Galípolo também repetiu que um dos desafios da autoridade monetária é conseguir fazer a migração de crédito de alto custo para modalidades com juros menores. Ele afirmou que essa mudança é estrutural e não deve ter impacto de curto prazo
O banqueiro central ainda disse que, agora, um dos principais desafios na mesa é o cenário internacional. “Do ponto de vista do Banco Central, é óbvio, demanda devida cautela e a exponencialidade do problema para países emergentes”, afirmou, acrescentando que economias emergentes vão se deparar com um cenário ainda mais desafiador.
Ele acrescentou que há oportunidades para o Brasil, que tem uma economia diversa e uma longa tradição de apoiar o multilateralismo. Por isso, pode oferecer uma colaboração na ideia de um “nivelamento” das regras no campo econômico.
Incômodo com expectativas de inflação desancoradas
O presidente do Banco Central disse nesta também que o Copom ainda está bastante incomodado com as expectativas de inflação, que estão bastante desancoradas.
Ao ser questionado sobre a inflação implícita do mercado caindo, Galípolo frisou que se trata de um indicador antecedente importante. Contudo, pondera que em um ambiente de tamanha volatilidade e incerteza quanto o atual, é preciso adicionar uma dose de parcimônia no consumo destes dados.
Ainda assim, independente da taxa neutra que se adote, o presidente do BC avaliou que o Brasil ingressou em um patamar contracionista com alguma segurança. Agora, a autarquia passa pelo desafio estrutural de normalizar a política monetária, segundo Galípolo.
“Queremos entender em que nível e por quanto tempo temos de deixar os juros”, disse ele.
Análise de dados
O presidente do Banco Central reiterou que os diretores da autarquia estão no processo de mensurar o quão contracionista o juro precisa ser e que, para isto, é preciso reunir mais dados a ponto de ter confiança de que a inflação está convergindo para a meta e que a política monetária está produzindo os efeitos desejados.
“É importante reunirmos dados em quantidade e diversidades suficientes para que a gente possa reunir esse nível de confiança”, disse ele, durante o J. Safra Macro Day 2025.
Na declaração, Galípolo exemplificou que quando ele chegou ao Copom, alguns dados indicavam inflação mais bem comportada, mas que depois se reverteram. “Precisamos de um tempo para política monetária fazer efeito, após elevação de juro”, afirmou.
Por ora, o diretor do BC avalia que a inflação está rodando acima da meta e que a economia tem sinais incipientes de arrefecimento.
Galípolo considera ainda que os resultados positivos do agro no Produto Interno Bruto (PIB) não consomem o hiato, e tendem a ajudar. Contudo, pondera que a mensuração do PIB ex-agro ainda não está trivial, em função da sazonalidade.
Tarifas
O presidente do Banco Central disse também que no primeiro trimestre de 2025 houve um ganho de peso no cenário de que as tarifas do presidente Donald Trump poderiam oferecer um cenário de desaceleração, de alguma maneira, e oferecer risco de desinflação. Ele destacou que tal cenário já havia sido mencionado no balanço de riscos da comunicação do Copom.
Já em abril, após a escalada das tarifas, Galípolo considera que foi cruzada a linha para um momento de aversão a risco, mas sob um risk-off particular: “Diferentemente do que estamos acostumados, há dúvidas sobre onde está o safe-heaven, o ativo seguro”, avaliou.
O presidente do BC mencionou ainda que a escalada das tarifas passou a ter a ideia de que talvez não seja factível ter tarifas naquele patamar, mencionando que houve muita dúvidas sobre o quanto essa política pode afetar os países.
Galípolo disse também que a pressão sobre o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) cresceu, por conta de dúvidas sobre o eventual apoio que a autarquia daria ao mercado. Segundo o presidente do BC brasileiro, é importante falar do cenário internacional neste momento, porque as transformações que estão sendo feitas são profundas.