FM é rádio de jovem: as transformações do FM em João Pessoa nos anos 1980

(Foto: Joseph Kebbie/Pixabay)

O início da história do rádio FM (Frequência Modulada) em João Pessoa é semelhante ao das principais cidades do país. As primeiras emissoras veiculavam uma programação essencialmente musical, de perfil elitista, em que a música brasileira raramente era executada, intercalada com uma locução formal pré-gravada que se limitava a informar a hora certa, a anunciar (e “desanunciar”) os artistas e as canções irradiadas, e a ler pequenos textos noticiosos, extraídos dos jornais.

Assim foi a programação das pioneiras ZYC 972 e ZYC 973, respectivamente, Correio FM 93,7 MHz (Rádio Jornal de João Pessoa Ltda.) e Arapuan FM 95,3 MHz (Rádio e TV Paraibana Ltda.), nos primeiros anos de existência.

A terceira FM da capital paraibana, a ZYC 975, Universitária FM 107,7 MHz (Fundação Virgínius da Gama e Melo) trouxe um perfil mais eclético em uma programação segmentada por horários, que ia do forró ao rock progressivo, além de programas noticiosos com textos mais longos, entrevistas e reportagens preparados pelos profissionais da emissora e por estudantes de Comunicação Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que abrigava a Fundação em um espaço no edifício da Reitoria.

Sob inspiração da rádio Cidade do Rio de Janeiro – que nos anos 1980 havia se tornado um caso de sucesso e era copiada por dezenas de emissoras pelo Brasil, além de marcar presença nas principais cidades com franquia própria – e também na ascensão do pop/rock entre a juventude, as pioneiras pessoenses dão início a primeira revolução do rádio FM na capital da Paraíba.

Com uma nova concessão, o grupo que administrava a Rádio Jornal de João Pessoa deslocou a programação da Correio FM para a ZYC 978 (originalmente na frequência 98,5 MHz), que ficou conhecida como Correio Classe A, e transformou a 93,7 MHz na jovem e despojada Antena 4 FM. Ao mesmo tempo, a Arapuan FM abandonou o estilo sisudo e também mirou no público jovem, com uma programação musical mais pop e uma locução coloquial e bem-humorada. A identificação do público-alvo com as duas emissoras foi instantânea.

Nomes como Aldo Schuller, Bertrand Freire, Beth Menezes, Carlos Vilarin, Ciro Carvalho, Claudemir Oliveira, Edilane Araújo, Fernando Gabeira, Jomar Brandão, Márcia Cabral, Marcílio Rodrigues, Marília Moreno, Maurício Ferreira, Nildo Gomes, Rosângela Cardoso, Sandra Macêdo, Ylson Borges, entre outros, se tornaram tão populares entre os ouvintes de João Pessoa quanto os campeões de audiência Airton José, Ana Paula, Antônio Assunção, Antônio Malvino, Antônio Veloso, Ápio Grácio, Ari Silva, Cardivando de Oliveira, Carlos Antônio, Deodato Borges, Enoque Pelágio, Geraldo Cavalcanti, Jadir Camargo, Jota Ferreira, Luiz Otávio, Otinaldo Lourenço, Paulo Rosendo, Sérgio de Andrade, Sílvio Carlos, Spencer Hartman, Zélia Gonzaga, entre outros, que dominavam o tradicional rádio AM da capital paraibana.

Essa ascensão pode ser comparada ao que ocorre na atualidade com os youtubers em relação aos astros e estrelas da televisão. Até os programadores musicais, como Beneval Andrade (Bené), Bob Vagner e Glauco Dias (Big Didigal), e operadores de áudio, como Beto Kiss, Josafá Muniz, Miranda American, Ricardo Marinho, Tony Venâncio, entre outros, se tornaram figuras conhecidas dos ouvintes.

O auge dessa revolução ocorreu em dezembro de 1988, quando foi inaugurada a franquia da Rádio Cidade em João Pessoa, que abordei no artigo “O Sucesso da Cidade”, publicado na edição nº 785 do Observatório da Imprensa, em 11 de fevereiro de 2014.

Na passagem dos anos 1980 para 1990, no entanto, teve início a mais duradoura transformação do rádio FM na capital paraibana. Tomando como referência o que já estava ocorrendo em Recife e em Fortaleza, a Correio Classe A deu lugar a “98-A FM do Povo”, uma emissora super popular. O que, na época, pareceu uma heresia. Era uma espécie de rádio AM em FM. Na liderança dessa empreitada, o excêntrico comunicador Tony Show, que foi alçado junto com a emissora para o topo da audiência.

Desde então, o dial FM de João Pessoa abriga emissoras de vários segmentos: adulto-contemporâneo, pop/jovem, religiosas, jornalísticas e populares. As religiosas, a partir de meados dos anos 1990, quando a Rede Aleluia assumiu a frequência 99,7 MHz, e as jornalísticas a partir de 2012, quando a CBN João Pessoa passou a transmitir em FM, na frequência 101,7 MHz.

***

Alysson André Oliveira Cabral é Professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Nos anos 1990, atuou nos Diários Associados da Paraíba. Publicou no Observatório da Imprensa os artigos “A Televisão de Última Geração” (edição nº 780), “O Sucesso da Cidade” (edição nº 785), “Um ano sem O Norte e Diário da Borborema” (edição nº 730), “Veblen e os rolezinhos” (edição nº 787).

O post FM é rádio de jovem: as transformações do FM em João Pessoa nos anos 1980 apareceu primeiro em Observatório da Imprensa.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.