Camada de gelo sob a América do Norte pode determinar futuro submerso de Nova York

Imagem de estátua da liberdade com água próxima de pés após derretimento da camada de gelo

Camada de gelo sob a América do Norte pode determinar futuro submerso de Nova York – Foto: Imagem gerada por IA/ND

Um novo estudo científico aponta que uma camada de gelo extinta há milhares de anos pode conter pistas cruciais sobre o futuro de Nova York.

Segundo pesquisadores, os impactos do aquecimento global, combinados a fenômenos geológicos antigos, podem fazer com que regiões como Lower Manhattan e Coney Island, nos Estados Unidos, fiquem permanentemente submersas até o fim deste século.

A análise revisa dados sobre a chamada camada de gelo Laurentide, que cobriu grande parte da América do Norte durante o último período interglacial, há cerca de 129 mil a 116 mil anos.

A nova hipótese científica — baseada em modelagens geofísicas e dados geológicos — sugere que essa camada de gelo durou mais tempo do que se pensava, o que muda completamente a compreensão sobre os níveis do mar no passado e suas implicações para o futuro.

Previsões preocupantes para Nova Iorque com camada de gelo

A cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos já viveu uma prévia do que está por vir. Em 2012, a tempestade Sandy provocou uma elevação de 4 metros no nível do mar, matando 147 pessoas e causando prejuízos de US$ 50 bilhões (equivalente a cerca de R$ 287 bilhões na cotação do real ao dólar).

Segundo o NPCC (Painel de Mudanças Climáticas de Nova Iorque), esse tipo de inundação poderá se tornar rotineiro a partir de 2050. Projeções apontam para um aumento local do nível do mar de até 76 cm até meados do século e de 3 metros até o ano 2100.

No entanto, os cientistas alertam que essas projeções podem estar subestimadas. Modelagens recentes indicam que o derretimento da Antártida no passado foi muito mais acentuado do que se imaginava. Se o mesmo ritmo se repetir, o cenário pode ser ainda mais severo.

Imagem de mapa nos Estados Unidos com regiões que podem ser afetadas

Projeções propõem um aumento local do nível do mar de até 76 cm até meados do século e de 3 metros até o ano 2100 – Foto: derretimento da camada de gelo (3)

O que diz a ciência sobre perigos com a camada de gelo

A pesquisa, conduzida pelo geofísico Roger Creel, do Instituto Oceanográfico Woods Hole, mostra que a camada de gelo Laurentide pode ter permanecido ativa até 122 mil anos atrás.

Esse fator teria mascarado os reais efeitos do derretimento antártico no passado, distorcendo as estimativas anteriores de aumento do nível dos mares.

Segundo o estudo publicado em 2024 por Creel e a geofísica Jacqueline Austermann, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, o fenômeno conhecido como “ajuste isostático” alterou a distribuição da água em diferentes regiões do planeta.

Isso explica por que áreas como o Caribe experimentaram elevações abruptas do nível do mar, enquanto outras, como partes da Antártida, viram quedas.

A professora Natasha Barlow, paleoceanógrafa da Universidade de Leeds, nos Estados Unidos, explica o fenômeno com uma metáfora: “É como sentar em um colchão barato.

Ele afunda onde você está, mas a outra extremidade se eleva. Quando o gelo derrete, o ‘colchão’ se ajusta, afetando o nível do mar de maneira desigual”.

imagem de mapa com todos os continentes em azul sobre aumento relativo do nível do mar na camada de gelo

Novas pesquisas mostram que o rápido derretimento da camada de gelo na Antártida no início do Último Interglacial causou uma elevação desigual do nível do mar por meio de um processo de deslocamento de terra chamado ajuste isostático – Foto: John Strike/Instituto Oceanográfico Woods Hole/ND

Evidências em campo

Andrea Dutton, geóloga da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos tem analisado recifes de corais fossilizados no Caribe, que registram flutuações históricas do nível do mar.

Seus estudos apontam que, durante o último período interglacial, os mares podem ter subido entre 2 e 10 metros em relação aos níveis atuais. Porém, as medições variam de acordo com a localização, devido às mudanças na crosta terrestre provocadas pelas camadas de gelo.

Outro estudo, publicado na Nature Communications, reforça a ideia de que a camada Laurentide não desapareceu tão rapidamente. Sedimentos depositados por icebergs revelam que o gelo na América do Norte derreteu de forma intermitente ao longo de vários períodos interglaciais.

Repercussões globais

O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) já alertou que as calotas polares, especialmente a Antártida, são as principais incertezas nas projeções futuras do nível do mar.

A aceleração do derretimento polar desde 2006 duplicou o ritmo de aumento dos oceanos. O aquecimento atual de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais já se aproxima das temperaturas registradas no último interglacial.

Com base nesses estudos, especialistas reforçam a necessidade de reavaliar os modelos climáticos atuais. “Se subestimamos o passado, estamos correndo o risco de subestimar o futuro”, alerta Creel.

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