Uma nova geração de artistas redefine o que significa criar na terra das curvas de Niemeyer. Uma dessas vozes é Rebecca Kathleen, multiartista de 21 anos, moradora do Jardins Mangueiral, que costura em suas criações uma ponte entre o passado e o futuro da cidade.
Rebecca é mais que uma criadora de moda. O projeto dela, embora ainda em construção, já carrega na essência ser um espaço aberto para aqueles que desejam se expressar por meio da roupa.
“A ideia principal não é comercializar, e sim compartilhar, inspirar. Qualquer pessoa pode participar. Não precisa ser artista nem saber costurar. É para quem quer transformar o que já tem e pensar o vestir como um ato criativo e consciente”, explica a artista.
Essa proposta vai além do simples vestir. Rebecca acredita que a criatividade está ao alcance de todos, basta apenas “virar a chavinha”.
Com suas mãos habilidosas e ideias afiadas, ela busca transformar peças e mentes, convidando as pessoas a se reconectarem com o que vestem.
Brasília, inspiração entre o caos e a ordem
Rebecca enxerga em Brasília um reflexo de sua própria arte: mutável, indefinida, rica em possibilidades. “Brasília me fez pensar muito sobre identidade. É uma cidade meio sem rosto, onde cada um traz sua bagagem, e isso cria uma mistura única. Minha moda reflete isso: é feita com o que tem, igual ao cotidiano da cidade”, relata.
Para ela, a força criativa da capital pulsa nos cantos mais improváveis, nas feiras de rua, nos brechós, nos encontros informais entre artistas. “Tem arte no improviso, no coletivo, no corre periférico. Isso tudo é combustível pra mim, me inspira a criar fora da lógica do consumo tradicional e a valorizar o que é nosso, o que é real.”
Mas Rebecca também reconhece os desafios de quem trabalha com moda sustentável em Brasília. Apesar do potencial imenso, a cidade ainda mantém portas fechadas para muitos talentos.
“Tem muita potência nas margens. Jovens negros e periféricos estão criando moda com propósito, mas faltam espaço, investimento e abertura. A moda sustentável aqui ainda é elitizada, e isso precisa mudar”, afirma a artista.
Costurando o futuro
Para Rebecca, a sustentabilidade na moda vai além de uma tendência: é uma necessidade, uma forma de resistência.
Arquivo pessoal
“É criar com o que se tem, transformar a realidade com as próprias mãos. Mas, para isso, Brasília precisa valorizar quem já está fazendo isso acontecer, mesmo sem recursos”, destaca.
Ela sonha com uma cidade que abraça seus artistas, que reconheça o talento que nasce em seus becos, bazares e coletivos.
“O futuro da moda sustentável aqui precisa incluir, escutar e fortalecer essas vozes que estão na luta todos os dias. É preciso sair dos círculos elitizados e enxergar quem cria fora do padrão, quem transforma roupas em histórias.”
Brasília
Entre agulhas, tecidos reaproveitados e ideias revolucionárias, Rebecca Kathleen Santana Santos nos lembra que o futuro não é uma utopia distante.
Ele está sendo costurado agora, peça por peça, nos ateliês improvisados das periferias e nos sonhos de quem acredita que criar é transformar.