DOUGLAS GAVRAS
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS)
A comitiva do presidente da Argentina, Javier Milei, que viajará no fim da noite desta quinta-feira (24) para o funeral do papa Francisco, no Vaticano, vai reunir diferentes nomes que já fizeram críticas ao pontífice argentino em vida. Além do presidente, viajam a secretária-geral da Presidência, Karina Milei; o chefe da Casa Civil, Guillermo Francos; o porta-voz presidencial, Manuel Adorni; o ministro das Relações Exteriores, Gerardo Werthein; a ministra da Segurança Nacional, Patricia Bullrich; e a ministra de Capital Humano, Sandra Pettovello.
A relação de parte do grupo com Bergoglio foi conturbada. Antes de se tornar presidente, Milei disse em uma entrevista na TV que o pontífice era “o representante do maligno na Terra ocupando o trono da casa de Deus”. Ele ele criticava a defesa que o religioso fazia da justiça social. “Seria preciso informar ao imbecil que está em Roma que a justiça social é um roubo, que vai contra os dez mandamentos, que a inveja é a base da justiça social e é um pecado capital.” Ao tornar-se presidente, ele recebeu um telefonema de Francisco e se encontrou com o papa na Itália, em 2024.
Em uma mensagem que se tornou viral no X antes que se tornasse porta-voz da Casa Rosada, em agosto de 2021, Adorni especulava sobre uma possível renúncia do religioso argentino. Já Bullrich criticou o pontífice em 2022, por sua posição sobre a guerra da Ucrânia e por receber a então líder das Madres de la Plaza de Mayo. “[Francisco] não cumpre o papel que se espera de um papa, que é não se envolver nos assuntos internos do país e nem na política”, disse ao canal LN+. “O papa Francisco se encontrou com Hebe de Bonafini, que celebrou a queda das Torres Gêmeas, ou seja, o assassinato de mais de 2.000 pessoas”, disse. “Ele tem de entender que é um defensor da vida, não da morte.”
No ano passado, o papa criticou a violência das forças de segurança, lançando gás de pimenta contra manifestantes em frente ao Congresso da Argentina, parte da política do governo contra protestos. Questionada se gostava de Francisco, Bullrich saiu pela tangente: “Goste-se ou não do papa, eu quero que ele venha à Argentina”. Já Adorni colocou panos quentes no embate. Em uma entrevista coletiva, disse que o governo o respeitava, embora discordasse do religioso em diferentes pontos. “Ele é um líder espiritual, nós governamos a Argentina. Com a distância que há entre essas duas funções, é razoável que estejamos de acordo em muitas questões e em outras, não”, disse o porta-voz.