Artes nas ruas da capital: conheça o autor dos desenhos de Gurulino

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Por Maria Clara Britto
Agência de Notícias CEUB

Se você já andou pelas ruas de Brasília deve ter visto em alguma parede o personagem Gurulino.

Ele é um dos trabalhos mais emblemáticos do artista urbano Pedro Sangeon.

“⁠Eu queria colocar na rua aquilo que eu gostaria de ver e ler. No fim das contas eu fiz pra mim mesmo e serviu pra muita gente”, revela Sangeon sobre como surgiu o personagem.

O artista comenta sobre a sua história, a arte de rua e a violência policial vividas neste meio.

Desafios e Reconhecimento

Apesar dos esforços da Secretaria de Cultura do Distrito Federal para valorizar a arte urbana, Sangeon ainda percebe um longo caminho a ser percorrido.

“Ainda estamos muito distantes de uma cultura e consciência do valor da arte na mentalidade do cidadão. As pessoas não entendem o valor da arte para a vida delas e isso piora muito a qualidade de vida delas, independente da posição social ou financeira, a vida fica pobre”, relata.

Embora reconheça os avanços, Pedro também destaca que a realidade prática para os artistas urbanos ainda é difícil.

“O risco de sofrer violência policial ou de gente ignorante continua altíssimo. Essa insegurança pro artista é uma vergonha que o governo e a polícia local deveriam assumir”, afirma.

Violência

O próprio artista já foi vítima de violência policial no dia 28 de junho de 2020.

Em uma publicação ele afirma que estava com dois amigos grafitando em no Polo Verde, no Lago Norte, por volta das 8h.

Quando policiais militares prenderam os três e os levaram algemados até a delegacia.

Sobre o assunto ele faz um apelo aos governantes. “Minha vontade é que o governo treine tanto a PM quanto a PF dando cultura aos policiais. Uma polícia educada e com cultura jamais estaria praticando a violência gratuita e desproporcional que praticam com jovens que estão portando latas de tinta e não armas de fogo”, conclui.

Arte de Rua: Uma Definição Ampla

Para Sangeon, a arte de rua tem um papel social.

“Só pelo fato dela estar disponível gratuitamente em área pública, faz dela um ato social e político. Além disso, entre um mural e outro, estamos oferecendo oficinas e fomentando novos e jovens artistas a se inspirarem e continuarem”, diz Pedro Sangeon.

Ele ainda acrescenta que a arte de rua dialoga com a arquitetura modernista da cidade.

“Porém, o que mais me interessa é o impacto de vida e a refrescância contemporânea que um mural pode trazer para uma cidade museu como Brasília. Estou falando dos artistas que buscam criar a partir do que Brasília é para além dos monumentos. Os artistas que ficam reproduzindo com tinta os monumentos modernos, além de cafona, é um desserviço para cultura local”, completa.

Início

Pedro Sangeon iniciou sua relação com a arte de rua a partir de uma trajetória acadêmica na faculdade de artes visuais.

“Estudei sobre intervenção urbana e foi a partir desses estudos que tive interesse pela arte de rua. Ela me atraiu por ser algo muito mais livre e sem as limitações dos espaços tradicionais”, explica o artista.
Para ele, a arte de rua não se restringe ao grafite, mas engloba uma ampla gama de expressões, desde performances e esculturas até os murais coloridos que ganham as fachadas da cidade.

Sua primeira experiência pintando na rua foi de muita adrenalina e um retorno enorme da cidade.

“Foi maravilhosa a experiência! Pra mim o que importa mesmo não é o retorno ser positivo ou negativo, mas que tenha um retorno interessante, que me ajude a continuar pensando na arte”, afirma o artista.

Sobre suas influências na arte de rua, ele citou Cildo Meirelles, Ernesto Neto, Lígia Clark, Hélio Oiticica e Tunga. E na arte mural, Paulo Ito, Aryz e Miss Van.

Ele também citou a sua estima pelo mural que a Camila Siren fez para um mercado japonês na asa sul. “Maravilhoso”, comenta.

O personagem Gurulino tem se espalhado pelas ruas de Brasília e aparece regularmente nas tirinhas publicadas no Correio Braziliense.

Livro

Sobre o futuro dos seus projetos ele acrescenta: “Em setembro, estarei lançando o primeiro livro de tirinhas e desenhos do Gurulino. Estou super feliz com isso”.

No final da entrevista, perguntei “Se pudesse transformar um espaço icônico de Brasília com arte urbana, qual seria?”, o que de forma alegre, o artista replicou: “Eu tenho uma ideia pra cada espaço infinito de Brasília. Gosto muito da cúpula do museu nacional, da biblioteca nacional, do planetário, das igrejas, da UnB”.

Ele também acrescentou que gostaria de desenvolver um tipo diferente de arte. “Tenho um projeto de desenvolver murais em formato de vitrais, que seria perfeito para monumentos assim”, conclui.

 

 

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