Cover dos Beatles

wilson pedrosa (1)

cab brasília 65 anos

Antes de vender o Jornal de Brasília, no início dos anos 2000, para um grupo pernambucano, a família Câmara — de Goiás — costumava organizar festas de confraternização com os empregados, sempre perto do Natal. Servia “bebíveis e comíveis”, contratava uma banda para animar a pista e, ao final, promovia o sorteio de brindes: roupas da moda, eletrodomésticos, bicicletas, TVs, entre outros.

Numa dessas festas, a banda contratada se recusou a tocar. Alegaram que o combinado era receber antes da apresentação — mas ninguém havia aparecido para cumprir o trato. Após muita discussão, descobriu-se que Edinho, do Departamento Comercial, o encarregado do pagamento, ainda não tinha chegado à festa, já passada do meio-dia. A banda deu então um ultimato: esperaria uma hora pelo cheque e, enquanto isso, foi beber uma cervejinha no bar da esquina, “pra raiva passar”.

A turma já assobiava querendo dançar, e nada do “pagador” aparecer. Foi então que o diretor industrial, Wilson Pedrosa — que sempre se fantasiava de Papai Noel, por ser espaçoso e divertido — reuniu Mateus Baeta, Rodrigo Leitão, Vicente (de quem não me lembro o sobrenome) e eu. A gente ensaiava músicas dos Beatles e já havia tocado em algumas festinhas de aniversário no Clube da Imprensa. Ele mandou aquele papo e nos convenceu a subir no tablado, improvisando um show com os instrumentos que a banda “oficial” havia deixado ali, já testados.

Disse que toparíamos, desde que o jornal nos pagasse a grana que seria destinada à banda fujona. Com seu jeitão animado, voz grossa e sorriso largo, o Pedrosão respondeu:

— Arrancar dinheiro dos goianos é mais difícil que sapo subir na parede. Mas deixa comigo, que aprumo tudo.

Subimos no tablado e mandamos ver por quase uma hora: umas 16 ou 18 músicas da primeira fase beatlemaníaca, quando nenhuma delas passava dos dois, três minutos. E nada dos músicos “profissionais” voltarem.

Foi aí que o Pedrosão começou o sorteio dos brindes. Primeiro, uma bicicleta “pro Mateus pedalar no Parque da Cidade”; depois, uma calça jeans pro Vicente “ficar mais elegante”; um liquidificador pro Rodrigo “fazer lanches balanceados” (ele era gordão); e, por fim, um videocassete pra mim “assistir aos shows dos baianos da minha terra”. A cada prêmio, a galera assoviava e gritava: “Marmelada, marmelada!”

Na época, a banda mais famosa de Brasília, o Supersom 2000, cobrava o equivalente a 30 ou 40 mil reais por um baile. As demais, sem tanto nome, tocavam por 15 ou 18 mil. Ao fim da nossa apresentação, fizemos as contas e calculamos o valor dos “brindes” recebidos. Não chegava a 700 — cruzeiros, cruzados, reais? Sei lá, a moeda da vez.

Só percebemos depois que o Papai Noel Wilson Pedrosa havia salvo a festa dos goianos pelo menor cachê já pago a uma banda cover dos Beatles — em qualquer parte do mundo.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.