“Primeiro a gente começa, depois a gente melhora.” A frase resume bem a história de Brasília em seus 65 anos, a trajetória do Jornal de Brasília ao longo de 53 anos e, também, o percurso de quem decide desenvolver sua oratória. Tudo começa com um passo — e é a persistência que transforma o início em legado.
Parabéns, Brasília. Você nasceu de um sonho improvável, mas profético: o sonho literal do sacerdote italiano Dom Bosco, em 1883, ainda no século XIX. Registrado no 16º volume das Memórias Biográficas de São João Bosco, o relato narra uma visão que durou a noite inteira. Nela, Dom Bosco “viajava” por uma região da América do Sul que jamais havia visitado.
No sonho, uma voz dizia insistentemente: “Quando se vierem a escavar as minas escondidas, em meio a estes montes, aparecerá aqui a terra prometida, onde jorrará leite e mel. Será uma riqueza inconcebível.” Essa terra mágica situava-se entre os paralelos 15° e 20°, exatamente onde, 77 anos depois, surgiria Brasília, no coração do Planalto Central.
A ideia de levar a capital para o interior já era defendida muito antes. O militar e diplomata brasileiro Varnhagen acreditava que a mudança fortaleceria o país e, em 1877, percorreu os sertões do Planalto em busca da localização ideal. Após sua expedição, sugeriu a área entre as lagoas Formosa, Feia e Mestre d’Armas — onde Brasília está hoje.
Em 1892, o presidente Floriano Peixoto deu um passo decisivo ao criar uma comissão de cientistas para explorar o Planalto Central. Chefiada pelo astrônomo e geógrafo belga Louis Ferdinand Cruls, a equipe ficou conhecida como Missão Cruls e delimitou uma área de 14.400 km², o famoso “Quadrilátero Cruls”, que viria a ser o futuro Distrito Federal.
Ao longo das décadas, o projeto foi tomando forma até que, em 1955, durante um comício em Jataí (GO), o então candidato à presidência Juscelino Kubitschek prometeu construir a nova capital. Mesmo enfrentando resistências, cumpriu a promessa. A cidade foi oficialmente inaugurada em 21 de abril de 1960, consolidando um sonho de dois séculos.
A primeira construção inaugurada foi a Ermida Dom Bosco. Segundo o historiador Matheus Rosa, mestre pela UnB, ela representa a “materialização da profecia”. A lei nº 2.874, que instituiu o processo de construção, também nomeou oficialmente a cidade: Brasília. De um sonho profético, Brasília tornou-se uma cidade moderna, estratégica e reconhecida como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco desde 1987.
E o Jornal de Brasília acompanhou essa transformação desde 1972. Com o tempo, se reinventou, adaptou-se às novas tecnologias e se consolidou como a voz do quadradinho. Enquanto “Brasília vive. A notícia acontece. O Jornal de Brasília conta tudo”, o jornal mantém seu compromisso de ser os olhos atentos e a consciência crítica da cidade.
Hoje, celebramos não apenas os 65 anos de Brasília, mas também as mudanças, as conquistas e os recomeços. A trajetória do Jornal de Brasília é um reflexo disso — um veículo que evolui em seu formato comunicacional, na forma de conduzir narrativas e de dialogar com a população brasiliense.
É nesse contexto de transformação que também se insere o poder da oratória. Assim como uma cidade precisa ser sonhada para ser construída, a comunicação verbal precisa de um ponto de partida. Preservar a origem é essencial para valorizar os resultados. Afinal, como saber se a meta foi alcançada sem ter noção do ponto de partida?
Toda jornada tem seus altos e baixos. E, ao respeitar o começo, compreendemos o valor da superação. Na oratória, depois do primeiro passo, é o treino contínuo que garante o crescimento significativo. Brasília começou com um sonho ousado. O Jornal de Brasília começou com uma ideia firme. E a oratória, como qualquer arte, também começa — para depois melhorar.