Por Mariana Braga, Madu Suhet e Tariq Marie Alves
Enquanto o mundo se entrega à praticidade dos streamings, há um movimento silencioso — mas poderoso — que segue girando na contramão.
O vinil, velho conhecido de gerações passadas, não apenas sobreviveu à era digital como vem crescendo ano após ano.
Neste 20 de abril, Dia do Vinil no Brasil, a data celebra mais do que um formato de música: celebra um legado, uma forma de arte e uma experiência que ultrapassa o som.
Do declínio ao renascimento
A chamada “era de ouro” do vinil se estendeu até meados dos anos 1980. Depois disso, com a ascensão dos CDs e, mais tarde, do MP3, o mercado entrou em declínio.
Na virada para os anos 2000, muitas fábricas ao redor do mundo fecharam as portas. Parecia o fim. Mas não foi.
A partir de 2007, algo inesperado aconteceu: o vinil voltou a crescer. E não parou mais. Fábricas começaram a reabrir, novas surgiram, e as vendas bateram recordes sucessivos. Em pleno 2025, o vinil não é mais uma peça de museu. É um mercado em expansão.
“A cada ano o vinil dá um jeito de bater recorde de venda. Fábricas vão aparecendo. O crescimento segue acontecendo”, afirma Marcel, dono, produtor e cortador de matrizes de vinil da Vinil Brasil.

Vinil: arte, memória e materialidade
O que faz alguém procurar um disco de vinil hoje? Nostalgia? Modismo? Talvez. Mas, acima de tudo, o que move artistas e ouvintes é a busca por uma experiência completa.
“O disco tem arte. Tem capa, tem encarte, tem ficha técnica. É uma cápsula do tempo. É o jeito mais bonito que já inventaram de registrar música com qualidade”, afirma o cortador.
O vinil não é só música. É objeto físico, com presença, textura e história. Para quem cresceu lendo encartes e descobrindo quem produziu, quem tocou, quem fez parte de cada faixa, o disco representa uma forma de vivenciar a música de maneira mais profunda e pessoal.
Som real, sensação viva
Quando se fala em qualidade de som, os defensores do vinil são categóricos: a diferença é sentida na pele. E a explicação vai além do gosto pessoal.
O áudio digital, mesmo em alta resolução, é gerado a partir de códigos binários. Já o vinil, explica o especialista, é esculpido fisicamente em uma matriz com base no som real. Cada valeta do disco carrega o movimento da música em forma analógica.
“O som do vinil é mais quente, mais vivo, tem mais presença. Ele toca a sua pele de forma diferente”, relata Marcel, que inclusive costuma mostrar essa diferença para jovens e crianças em visitas à sala de corte.

“Preço alto“
Se há um ponto que ainda pesa contra o vinil, especialmente no Brasil, é o preço. Discos novos podem custar entre R$180 e R$ 240 — um valor salgado para a maioria da população. Mas isso não significa que o produto é superfaturado.
“Só uma caixa com 25 acetatos para matriz pode custar R$12 mil. O quilo do PVC é caro, tudo vem de fora, e os custos de operação, manutenção e impostos são altíssimos”, explica.
Mas o vinil não é só custo. É um investimento emocional, cultural e histórico. É sobre guardar um pedaço do tempo — um som que não se perde.
Por que os artistas ainda fazem vinil?
Em um mundo onde a maioria consome música por aplicativos, o vinil continua sendo a mídia dos que querem deixar legado. Não é um luxo — é uma escolha consciente.
“Quem faz música descartável não vai prensar vinil. Já quem acredita na própria obra, quer eternizar sua arte. O vinil é para quem faz música com verdade”, afirma o produtor.
Um futuro analógico
Neste Dia do Vinil, mais do que comemorar um formato, celebramos uma resistência sensível e sonora. O vinil representa um elo entre passado, presente e futuro. Ele carrega o peso das histórias e a leveza da música feita com alma.
Seja por nostalgia, por qualidade, por ritual ou por amor, uma coisa é certa: o vinil não morreu. E não vai morrer.
Os guardiões do vinil
Em conversa com os comerciantes que mantêm viva a chama do vinil, fica claro que o formato transcende gerações. Na Vinil 10, os comerciantes de vinil, Luiz Fernando Zoghbi e Marcelo Vasconcelos revelam que o público é um mosaico: desde jovens que compram discos sem nem ter toca-discos.
“Eles vêm pela capa, ficam pela história”, diz Luiz Zoghbi.
Até colecionadores veteranos que nunca abandonaram o formato. Já no Sebo Musical Center a dona, Josiele Moreira destaca a conexão entre novas gerações e o antigo vinil:
“Uma galera jovem vem procurar vinil e às vezes os pais já nem tem vinil, mais para eles terem um contato antes.”
Curiosamente, ambos os estabelecimentos concordam em um ponto: o vinil não é moda passageira, mas sim uma linguagem atemporal que conecta pais e filhos através das ranhuras dos discos.
Raridade
Se por um lado discos como Racional de Tim Maia ou Clube da Esquina de Milton Nascimento podem valer mais de R$1.000, os comerciantes da Vinil 10 enfatizam que o verdadeiro segredo está na hora de garimpar.
“Você tem que garimpar bastante, procurar, fuçar, ir sempre atrás do melhor preço. Tem muita loja boa hoje em dia para você começar a colecionar”. Afirma Luiz Zoghbi.
Josiele alerta sobre os cuidados: “As primeiras edições têm magia, mas exigem olho clínico para avaliar conservação”.
O consenso é que, mesmo com os altos impostos que encarecem os novos, o mercado de usados mantém viva a cultura do garimpo — onde o valor emocional muitas vezes supera o preço.
“Fuja das vitrolas de maletinha!”, ri Josiele, “Você tem que ter um objetivo estabelecido, para ir aumentando sua coleção”, reforça Josiele.
Ambos destacam que colecionar vinil é uma jornada sensorial — exige paciência para limpar discos, ler encartes e descobrir histórias por trás do vinil. O vinil toca a alma, e conecta você com o passado.
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira