ADRIANA FERNANDES E FÁBIO PUPO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O banqueiro Daniel Vorcaro ainda busca uma solução que permita a ele ficar com uma fatia remanescente de ativos do banco Master que não fizerem parte do acordo de venda para o BRB (Banco de Brasília). Para isso, Vorcaro teria que fazer um novo aporte de capital no banco, com recursos próprios ou de investidores, segundo pessoas a par das negociações ouvidas pela reportagem.
A interlocutores, Vorcaro diz que tem interesse em ficar com o CNPJ do Master BI (Banco Master de Investimento), empresa que é o braço do conglomerado responsável pelas operações estruturadas e de mercado de capitais. Na prática, oferece produtos financeiros a clientes e capta recursos por meio de ações ou títulos de dívida.
Essa é a primeira opção com que o banqueiro trabalha atualmente, mas ele não descarta vender uma parte ou toda a fatia de ativos remanescentes que estão no Master BI para terceiros.
Neste último cenário, Vorcaro teria que fazer uma divisão dos ativos e propor a solução ao Banco Central, que analisa a operação de compra do Master pelo BRB de forma global.
A solução buscada, na prática, dividiria o banco em três partes: uma fatia para o BRB; outra para Vorcaro e investidores; e uma terceira parte com os ativos dos precatórios (títulos de decisões judiciais). O BTG pode ficar com esta terceira parte, mas o banco oficialmente tem negado interesse no negócio.
Vorcaro prepara um plano de negócios para esses ativos que não ficarão com o BRB, o que tem sido chamado de “bad bank” (banco ruim).
Como revelou a Folha de S.Paulo no último sábado (12), outra proposta que está na mesa é uma liquidação privada dos ativos e passivos da parte remanescente por um banco contratado. A garantia de fluxo de caixa seria proporcionada pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito), que banca depósitos e aplicações até R$ 250 mil e é formado com contribuição paga pelas instituições financeiras.
Nessa proposta, seria contratado um banco para fazer o trabalho de liquidação, que inclui venda e renegociação de ativos. O BTG também é candidato a assumir o trabalho de liquidante privado.
Pessoas envolvidas nas negociações, que falaram na condição de anonimato, avaliam que o desfecho do impasse está se encaminhando para duas opções: ou a liquidação privada, com o banco de André Esteves à frente da administração do processo, ou a manutenção do banco por Vorcaro com aportes de novos investidores. Como o banqueiro mineiro é o acionista da parte remanescente, cabe a ele apresentar a proposta ao BC.
A expectativa é a de que a solução possa demorar ainda cerca de duas semanas. Nenhuma proposta foi formalizada. O BRB ainda tem que entregar ao BC o chamado perímetro do negócio -ou seja, os ativos que vão ficar com o banco do governo do Distrito Federal, calculados em cerca de R$ 33 bilhões.
Integrantes do banco Master ouvidos pela reportagem calculam que o banco tem a receber, no prazo de 18 meses, um fluxo entre R$ 4,5 bilhões e R$ 5 bilhões. Mas, para analistas da operação, o fluxo de ingresso de recursos dos precatórios é um dos problemas do banco, que não estaria com o desempenho originalmente esperado.
O Master pode ter cerca de R$ 16 bilhões em precatórios, de acordo com análise de auditoria contratada pelo BRB. Boa parte do montante não é de titularidade direta do Master, mas está alocado em fundos ligados à instituição.
As discussões sobre o futuro do Master passaram a demandar mais atenção de autoridades e agentes privados do setor bancário desde o mês passado, quando foi anunciada a venda de 58% de suas ações totais ao estatal BRB. Tanto o Banco Central como administradores de grandes instituições financeiras têm debatido o assunto.
O presidente do BC, Gabriel Galípolo, recebeu Vorcaro neste mês, na sede da autoridade monetária.
O dono do Master também participou de conversas técnicas com os diretores do BC Ailton de Aquino Santos (Fiscalização) e Renato Dias de Brito Gomes (Organização do Sistema Financeiro e Resolução), além do procurador-geral Cristiano de Oliveira Lopes Cozer.
Na véspera, Galípolo teve encontro virtual com Marcelo Noronha, presidente do Bradesco; Mario Leão, presidente do Santander; Milton Maluhy, presidente do Itaú-Unibanco; e André Esteves, sócio do BTG Pactual. As instituições estão envolvidas na discussão sobre o tema devido à preocupação com um eventual colapso do Master e a possível consequência para o restante do sistema financeiro.