JOÃO PEDRO PITOMBO E JOSÉ MATHEUS SANTOS
SALVADOR, BA E RECIFE, PE(FOLHAPRESS)
A negociação para formação de uma federação entre PP e União Brasil avança na cúpula dos dois partidos, mas enfrenta entraves em ao menos 13 estados, em um cenário que pode ter consequências nas eleições de 2026.
Nas federações partidárias, as legendas que se associam são obrigadas a atuar de forma unitária ao menos nos quatro anos seguintes às eleições, nos níveis federal, estadual e municipal, sob pena de sofrerem punições. É um modelo diferente das coligações, que foram vetadas em eleições proporcionais.
Se concretizada, a federação PP-União poderá ter um fundo eleitoral de mais de R$ 1 bilhão em 2026. O nome mais cotado para presidir a junção é o de Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara.
Pelo desenho inicial, o PP comandaria a federação em nove estados, o União Brasil, em outros nove e, nos últimos nove, foi formatado uma espécie de duplo comando liderado pelos diretórios nacionais, a quem caberá mediar as disputas entre os partidos e buscar decisões por consenso.
Os embates alcançam ao menos 13 estados e incluem a disputa pela liderança da federação e caminhos distintos projetados para 2026, além de estados em que partidos possuem pré-candidatos competitivos ao governo.
A federação recebeu sinalização positiva no PP e aguarda uma decisão do União Brasil.
“Sou um defensor dessa agregação de partidos, e a federação pode ser uma boa solução. Esse movimento é inevitável. É bom para a democracia, é bom para a atuação no Congresso Nacional e é bom para quem governa”, afirma ACM Neto, vice-presidente do União Brasil.
Caso seja concretizada, a aliança formará a maior bancada do Congresso, com 108 deputados e 13 senadores, e terá um fundo eleitoral que deve superar R$ 1 bilhão nas próximas eleições.
Um dos principais imbróglios está na Paraíba, onde os dois partidos estão em campos opostos. Enquanto o PP quer lançar o vice-governador Lucas Ribeiro como candidato à sucessão do governador João Azevêdo (PSB), o senador Efraim Filho (União) é cotado para a disputa pela oposição.
Lucas é sobrinho do deputado federal Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), próximo ao presidente nacional do partido, Ciro Nogueira. Efraim, por sua vez, aposta na relação com a cúpula do União Brasil para prevalecer.
A situação é semelhante no Acre, onde a federação será liderada pelo governador Gladson Cameli (PP). Ele trabalha o nome da vice-governadora Mailza Assis (PP) para a sua sucessão, mas o União Brasil tem como pré-candidato o senador Alan Rick (União Brasil), que lidera as pesquisas.
Caso a federação avance, os dois partidos terão que chegar a um consenso sobre a candidatura ao governo. Caso não obtenha sucesso, o senador Alan Rick poderá deixar o partido para se viabilizar na disputa majoritária.
No Paraná, o senador Sergio Moro (União Brasil) se movimenta para a sucessão de Ratinho Júnior, mas o PP é aliado do governador e mira uma cadeira no Senado —são cotados os deputados federais Ricardo Barros e Pedro Lupion, este último líder da bancada ruralista.
A aliança ainda enfrenta entraves em Pernambuco, Ceará e Bahia, onde as legendas apoiam grupos adversários.
Na Bahia, a federação será liderada pelo ex-prefeito de Salvador, ACM Neto. A bancada do PP, contudo, tem se reaproximado do governador Jerônimo Rodrigues (PT). Os dois partidos haviam rompido em 2022.
Mesmo com planos distintos, União Brasil e PP da Bahia negociam um pacto de convivência, repetindo o cenário da última eleição. Em 2022, o PP apoiou a candidatura derrotada de ACM Neto, mas parte de seus deputados fez alianças nos municípios com aliados do PT.
O cenário é semelhante no Ceará, onde o União Brasil, liderado pelo ex-deputado Capitão Wagner, é oposição ao governador Elmano de Freitas (PT), mas o PP faz parte da base do petista.
Em Pernambuco, o PP é o principal partido da base de Raquel Lyra (PSD) e deve lançar o deputado federal Eduardo da Fonte para o Senado na chapa da governadora. O União tem como pré-candidato a senador o ex-prefeito de Petrolina Miguel Coelho, aliado do prefeito do Recife, João Campos (PSB).
“Caso haja a federação, temos que colocar os pesos de cada partido. O União é maior que o PP, mas isso não significa que vá ter a maioria, como também o PP não pode achar que vai ter maior autonomia porque em estado A ou B tem mais deputados ou menos”, diz Coelho.
“Do União eu não saio. Do PP, acho que ele não sai também. Se houver federação, temos que nos respeitar e ter sinergia”, afirma o ex-prefeito.
Também falta consenso nos maiores colégios eleitorais, caso de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. São estados onde não há um líder natural para federação e as decisões estratégicas ficarão inicialmente com a cúpula nacional.
No Rio de Janeiro, o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Rodrigo Bacellar (União Brasil), deve ser candidato ao governo com o apoio do governador Cláudio Castro (PL). Mas o PP tem se aproximado do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), também potencial candidato à sucessão estadual.
O quadro em São Paulo também está indefinido. Os dois partidos são aliados do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas buscam se fortalecer no cenário local.
O PP acertou a filiação de Guilherme Derrite (antes no PL), secretário estadual de Segurança Pública, e mira uma cadeira no Senado. Caso Tarcísio seja candidato à Presidência, Derrite pode disputar o Palácio dos Bandeirantes.