Rami Malek busca vingança em thriller eficiente, mas sem surpresas

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Em Operação Vingança, Rami Malek encarna um justiceiro improvável: um analista da CIA, mais afeito aos códigos criptografados do que às armas de fogo, que resolve abandonar o bunker de Langley para enfrentar o submundo do terrorismo internacional. Na pele de Charlie Heller, Malek entrega um protagonista curioso — ao mesmo tempo contido e perturbado — que decide sair da tela do computador para viver, na prática, o tipo de ação que normalmente supervisionaria à distância. A premissa é promissora, mas o resultado, ainda que competente, opta por um caminho previsível e sem a intensidade que o título promete.

Dirigido por James Hawes, o filme parece querer embaralhar influências, misturando o clima conspiratório de O Espião que Sabia Demais (2011) com o gosto pelo impacto de Desejo de Matar (2018). A missão pessoal de Charlie começa após a morte brutal de sua esposa, vítima de um ataque terrorista em Londres. Diante da burocracia institucional da CIA e da promessa genérica de justiça, o personagem rompe com a estrutura e mergulha em uma trajetória solitária, movida pela dor e pelo desejo de vingança. A narrativa, porém, parece hesitar entre ser uma crítica velada à máquina de guerra americana e uma celebração silenciosa do vigilantismo meticuloso.

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Foto: Divulgação/20th Century Studios

O roteiro, assinado por Ken Nolan e Gary Spinelli, adapta a obra de Robert Littell com uma profusão de situações rocambolescas que se sucedem com ritmo, mas nem sempre com coerência. Charlie salta de um país a outro com a precisão de um agente de elite, mas continua sendo, essencialmente, um nerd deslocado. Essa contradição, que poderia render um thriller mais subversivo e irônico, acaba sendo tratada de maneira superficial. Quando o protagonista arma emboscadas com explosivos escondidos ou invade apartamentos com a ajuda de tutoriais online, a produção parece flertar com a sátira — mas nunca abraça esse tom por completo.

Há ecos de outras tramas em cada sequência. A perseguição em Marselha evoca Jason Bourne; o dilema ético de Charlie remete a Munique (2005); e o gosto pela manipulação tecnológica lembra obras como O Assassino (2023) ou até jogos de videogame. Essa salada de referências não compromete o entretenimento, mas dilui a identidade do longa. O que poderia ser um thriller psicológico com camadas políticas vira um produto visualmente polido e emocionalmente raso.

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Foto: Divulgação/20th Century Studios

Ainda assim, Malek encontra espaço para brilhar em alguns momentos. O olhar inquieto, o corpo retraído e o tom obsessivo com que Charlie planeja cada passo conferem uma aura quase científica à sua jornada. O personagem não se transforma num herói musculoso de ação — e isso é um mérito do longa. Quando ele utiliza o pólen como arma de tortura, em uma das cenas mais inquietantes do longa, o público é lembrado de que vingança, às vezes, se constrói com lógica, cálculo e crueldade silenciosa.

Mas essa frieza também é um problema. Operação Vingança se esforça tanto para ser eficiente e contemporâneo que esquece de ser visceral. A dor da perda e o colapso do personagem ficam no plano do discurso. O espectador assiste a uma engenharia de retaliação bem construída, mas raramente sente o impacto das escolhas emocionais por trás de cada movimento. A ausência de riscos reais — seja na construção dramática ou na estética — transforma o que poderia ser um estudo de personagem em uma jornada previsível.

Conclusão

No fim, o filme funciona como um reflexo curioso da era da vigilância digital: elegante, coordenado, levemente perturbador, mas incapaz de realmente deixar marcas. Em um universo onde a justiça parece sempre escapar por entre as brechas da burocracia, Operação Vingança aposta na fantasia de que um homem sozinho, armado de dados e determinação, pode consertar o mundo. Talvez esse seja o seu maior gesto de ficção.

Confira o trailer:

Ficha Técnica
Direção: James Hawes;
Roteiro: Ken Nolan, Gary Spinelli;
Elenco: Rami Malek, Rachel Brosnahan, Laurence Fishburne, Caitríona Balfe, Jon Bernthal, Michael Stuhlbarg, Julianne Nicholson, Adrian Martinez, Danny Sapani;
Gênero: Ação;
Duração: 123 minutos;
Distribuição: 20th Century Studios;
Classificação indicativa: 16 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z

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