VICTORIA AZEVEDO, CATIA SEABRA E RAPHAEL DI CUNTO
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS)
O presidente Lula (PT) vai receber integrantes do União Brasil assim que retornar de viagem a Honduras para oficializar a mudança no comando do Ministério das Comunicações. O atual líder da bancada, deputado Pedro Lucas Fernandes (MA), é o favorito para chefiar a pasta, substituindo Juscelino Filho (MA).
O próprio presidente da República afirmou na noite desta quarta (9), em Honduras, que se reunirá com integrantes do partido e citou nominalmente o líder da bancada.
“O União Brasil tem o direito de me indicar um sucessor para o Juscelino, que é do União Brasil. Eu já tenho um nome, eu conheço o Pedro Lucas, amanhã de manhã eu vou conversar com o União Brasil e, se for o caso a gente discute a nomeação dele”, afirmou Lula a jornalistas.
A escolha do sucessor de Pedro Lucas na liderança, no entanto, abriu novo racha no partido, e a possibilidade de indicar o deputado Moses Rodrigues (União Brasil-CE) para o ministério foi discutida ao longo de quarta-feira em reuniões. Além disso, a ala de oposição da sigla passou a trabalhar contra o nome de Pedro Lucas por entender que esse movimento vincularia mais o partido ao governo.
Na noite de terça (8), Juscelino oficializou sua saída do cargo, horas após ser denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República), sob acusação de corrupção passiva e de outros crimes relacionados a suposto desvio de emendas.
De acordo com dois ministros, Lula sinalizou que chamaria integrantes do partido e Pedro Lucas para essa reunião em conversa ao telefone na tarde de terça com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Alcolumbre é um dos principais fiadores do deputado no ministério.
No telefonema, Alcolumbre disse ao presidente da República que Juscelino deixaria o cargo e que a indicação do partido para o posto era Pedro Lucas. De acordo com esses auxiliares do petista, o presidente da República sinalizou positivamente ao nome do parlamentar.
O deputado é da ala governista do União Brasil, foi presidente da Agência Executiva Metropolitana durante a gestão Flávio Dino no Governo do Maranhão e é parlamentar mais próximo do presidente do partido, Antonio Rueda. Em seu segundo mandato, assumiu a liderança da legenda na Câmara neste ano.
A expectativa é que Rueda, Alcolumbre e o ministro Celso Sabino (Turismo) participem da reunião com Lula e Pedro Lucas. O petista retorna da viagem de Honduras na madrugada desta quinta-feira (10).
Segundo o ex-líder da bancada Elmar Nascimento (União Brasil-BA), a escolha de Pedro Lucas Fernandes para o ministério é algo “natural”.
“Pelo fato de ser líder, ele já é avalizado pela bancada, ninguém contesta líder. Ele tem a experiência de ter sido secretário justamente do ministro Flávio Dino. Ele votou no Lula, é um nome que não tem nenhum tipo de rejeição do lado de lá”, diz.
Com a indicação de Pedro Lucas, no entanto, um novo impasse surgiu sobre quem irá substituí-lo na liderança da Câmara.
Isso porque o processo que levou o deputado ao cargo se arrastou por três meses diante da falta de consenso em torno de seu nome. Há uma avaliação entre integrantes do partido de que uma troca nesse posto seria mais um “momento traumático” para a legenda, que é marcada por divisões internas.
Além disso, a tentativa de Alcolumbre impor o nome de Juscelino Filho como líder da bancada enfrenta resistência de grande parte dos parlamentares, que consideram o agora ex-ministro de difícil trato e que a decisão deveria partir da própria bancada na Câmara. Juscelino reassumiu o mandato de deputado federal no mesmo dia em que deixou o Executivo, afastando o suplente Ivan Junior (União Brasil-MA).
Nesse cenário, até mesmo aliados de Pedro Lucas diziam ser necessário resolver o impasse da liderança antes de oficializá-lo no cargo. Eles trabalhavam para resolver essa questão até a noite de quarta-feira para chegar com essa situação definida até a reunião com Lula. Há também pressa para chegar a um acordo e evitar que outro partido fique com o comando do ministério.
Integrantes do partido também passaram a trabalhar contra a ida do líder ao ministério por avaliar ser ruim um nome tão ligado a Rueda integrar o governo formalmente. Esses deputados integram a ala oposicionista da sigla e defendem que o União Brasil deixe a Esplanada, já pensando nas eleições de 2026 -hoje, o partido tem indicações no comando do Turismo, do Desenvolvimento Regional e das Comunicações.
O vice-presidente nacional do União Brasil e ex-prefeito de Salvador, ACM Neto, por exemplo, é um dos nomes que defende se distanciar do Executivo. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, também é crítico do petista e lançou sua pré-candidatura à Presidência da República em evento na última sexta (4).
Apesar dessa movimentação, dois integrantes da cúpula do partido afirmam que seria difícil reverter esse cenário justamente pela força de Alcolumbre (que é um dos fiadores de Pedro Lucas) e pela recepção positiva de integrantes do governo ao nome do deputado.
Além disso, há integrantes do partido que defendem maior aproximação com o Executivo. Há também uma expectativa entre integrantes do governo de que a chegada de Pedro Lucas ao ministério possa melhorar a relação política do governo com a sigla.
Recentemente, o líder do União Brasil integrou comitiva presidencial para acompanhar Lula em missão ao Japão e ao Vietnã -ele participou, inclusive, de reuniões mais reservadas com o petista na viagem. De acordo com aliados de Lula, o presidente gostou do deputado. Há também uma avaliação positiva da atuação dele à frente da liderança do partido entre parlamentares governistas.
Segundo integrantes do União Brasil, essa mudança também é um gesto do governo e de Alcolumbre a Rueda, numa tentativa de aproximar o presidente do partido ao Executivo -desde que foi alçado à chefia da legenda, Rueda não teve nenhum encontro com Lula. Além de estar mais próximo de Lula, Alcolumbre foi o responsável pela indicação de Juscelino ao ministério.
Dois membros da cúpula do União Brasil dizem ainda que isso pode significar uma “mudança de fotografia” da sigla, com figuras importantes do partido mais próximos do governo federal.