‘Guardar’, de Antonio Cicero: conheça poesia do imortal da ABL

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

Antonio Cicero, um dos mais célebres poetas e letristas da literatura brasileira, morreu nesta quarta-feira (23), aos 79 anos. Ele é autor do conhecido poema “Guardar” (leia abaixo).

Diagnosticado com Alzheimer, Cicero optou pelo suicídio assistido e sua morte aconteceu em Zurique, na Suíça. Ele deixou uma carta de despedida aos amigos em que explica a sua decisão.

O escritor foi eleito imortal pela Academia Brasileira de Letras em 2017. É muito conhecido pela autoria de músicas como “Fullgás” e “Pra Começar”, compostas com sua irmã Marina Lima, mas também por poemas que foram musicados, como “Canção da Alma Caiada” (interpretada por Zizi Possi, por exemplo) e “Inverno” (famosa na voz de Adriana Calcanhotto).

Lançado no livro “Guardar” em 1996, o poema de mesmo nome fez sucesso e ganhou leitura da atriz Fernanda Montenegro, que pode ser conferida em publicação feita no canal da atriz há um mês:

Leia o poema “Guardar”, de Antonio Cicero:

GUARDAR

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em cofre não
se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto
é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é,
velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela
ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o voo de um pássaro
Do que pássaros sem voos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se
declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.
Assista ao vídeo de Antonio Cicero declamando “Guardar” no Canal Curta: https://youtu.be/1B-skA5-Ad0

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