Governo italiano impõe restrição drástica à cidadania por direito de sangue

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Por Renata Bueno, ex-deputada italiana e advogada

Na calada da noite, o Conselho de Ministros da Itália aprovou uma reforma que revoluciona o acesso à cidadania italiana pelo princípio do ius sanguinis (direito de sangue). A medida, fortemente defendida pelo Ministro das Relações Exteriores, Antonio Tajani, impõe um limite geracional aos pedidos: somente aqueles com avós italianos poderão obtê-la, excluindo os descendentes de bisavós e gerações anteriores.

Essa mudança representa um golpe profundo para milhões de descendentes italianos ao redor do mundo, especialmente na América Latina, onde se encontra a maior concentração de ítalo-descendentes fora da Itália. A nova regra fere diretamente os direitos históricos dessas comunidades, que há séculos preservam e difundem a cultura italiana em seus países de residência.

Como ex-deputada do Parlamento Italiano, advogada e ativista dos direitos dos descendentes de italianos, considero essa decisão arbitrária e desrespeitosa aos laços históricos entre a Itália e sua diáspora. Essa medida fere os direitos institucionais dos descendentes italianos residentes no exterior, principalmente na América Latina. Além disso, a falta de representatividade dos cidadãos italianos no parlamento contribuiu diretamente para essa decisão bombástica, que desconsidera o papel fundamental da comunidade italiana ao redor do mundo.

A decisão do governo italiano levanta questionamentos sobre o real compromisso do país com seus descendentes no exterior. A Itália, que historicamente se beneficiou da influência cultural e econômica de sua diáspora, agora dá as costas para milhões de pessoas que sempre se identificaram como italianas, mesmo estando fora das fronteiras geográficas da nação.

Ainda faltam esclarecimentos sobre como será a implementação dessa nova regra e quais serão os mecanismos de transição para aqueles que já estão em processo de reconhecimento da cidadania. O impacto dessa decisão promete gerar grande repercussão e mobilizar comunidades ítalo-descendentes ao redor do mundo para exigir a revisão dessa medida draconiana.

A luta pelo direito à cidadania italiana continua, e nós, descendentes de italianos, não podemos aceitar passivamente essa restrição imposta sem um amplo debate democrático. A falta de representação dos italianos no exterior no Parlamento Italiano se mostra, mais uma vez, um problema grave que precisa ser resolvido. Precisamos nos unir para reverter essa decisão e garantir que nossos direitos sejam preservados.

Acompanhem as próximas atualizações, pois a medida ainda não foi oficialmente publicada e poderá sofrer ajustes antes de entrar em vigor.

Renata Bueno é uma parlamentar ítalo-brasileira nascida em 1979 em Brasília, DF, Brasil. Conhecida por seu envolvimento na política e na defesa dos direitos dos descendentes de italianos no Brasil. Renata Bueno foi eleita deputada federal em 2010, sendo a primeira mulher eleita pelo Partido Socialista Italiano (PSI) fora da Itália. Sua atuação política tem sido focada em temas relacionados à cidadania italiana, imigração, e fortalecimento dos laços entre Brasil e Itália. Ela é presidente da Associação pela Cidadania Italiana no Brasil e tem trabalhado para facilitar o processo de reconhecimento da cidadania italiana para descendentes de italianos no país. Além de parlamentar, Renata é advogada e empresária, com o Instituto Cidadania Italiana e Mozzarellart.
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